Jornal Pires Rural – Edição 226 | ARTUR NOGUEIRA, MARÇO de 2019 | Ano XIII
Na agricultura familiar é esperado que a família toda trabalhe no empreendimento familiar e, a mulher sempre abriga um lugar especial por que, além de suas funções, ela tem um olhar à frente, gerenciando o negócio mas, sem perder o cuidado com todos, tentando antecipar perdas, acumular valores, agregar conhecimento, fazer crescer o amor entre os seus.
Não é diferente na vida de Sandra Maria de Camargo Venâncio, empreendedora rural familiar, de Artur Nogueira. Casada com Luiz Donizete Venâncio, mãe do Bruno, Gabriel e Ana Júlia. Com a exceção da filha Ana, a família faz feiras de quarta-feira a domingo com oito barracas, em três municípios diferentes. Acrescentando o fato do filho Gabriel e a namorada Letícia já tocarem outra empresa, no mesmo ramo.
“Os itens principais são laranja, banana, frutas da época, legumes. Plantamos banana e milho verde, arrendamos uma outra propriedade com produção de goiabas e caqui. Os demais itens são comprados no Ceasa. Na feira de Holambra, Quinta-Feira de Sabores, a minha barraca e a do meu filho ficam vizinhas. Os clientes acham que é uma barraca só isso é uma vantagem porque a barraca diversifica e as pessoas já veem tudo o que temos para vender, porque começa com as frutas, os legumes, e o suco de laranja (do Gabriel e da Letícia)”, ela declarou.
Sandra e sua família faz feiras desde 2011, “não imaginava que iríamos trabalhar com feiras, não fazia parte dos nossos planos. A gente começou vendendo queijo na rua, morávamos em Santa Rita de Caldas, MG, (no sítio) tirávamos o leite, fazíamos queijo, trazíamos pra Limeira. Pelo fato da propriedade ser pequena, caiu muito a produção do leite, não conseguíamos agregar valor e como a minha família é de Limeira eu comecei trazer a produção pra cá. Surgiu uma oportunidade de vir embora pra Limeira em 2001, fomos morar nos fundos da casa do meu pai, só que nós sofremos muito porque estávamos acostumados com muito espaço no sítio em Santa Rita de Caldas e morar em três cômodos foi muito difícil a adaptação de todos. Meu pai ainda tinha a chácara onde eu nasci e ofereceu para nós. Fomos embora para a chácara mas, era muito pequena e não comportava um rebanho então, fazíamos o que dava pra fazer e trazíamos mais a produção de Minas”, contou.
Quando surgiu uma oportunidade a família arrendou um sítio no Centro Rural do Pinhal, em 2003. “Trouxemos todo o rebanho para a produção completa de queijos, eram 110 cabeças. Queríamos comprar o sítio, mas o dono não queria vender então, em 2006 fizemos o negócio com esse sítio, em Artur Nogueira, que estamos morando até hoje – minha filha caçula, Ana Julia, estava com cinco meses”, descreve Sandra.
Os meninos cresceram e vieram as escolhas e demonstraram que não seguiriam a tradição na produção de leite, preferiam o plantio. A produção de alimentos cresceu e a produção de leite diminuiu. “Nessa época, surgiu a Cooperativa Agroindustrial Familiar de Artur Nogueira – COOPAFRAN, fomos chamados para participar como sócios fundadores e também do ponto na feira de Artur Nogueira, para os produtores cooperados. Fomos eu e meu filho Bruno. Enquanto isso, meu esposo ficou na produção de leite. No primeiro dia, eu levei uma caixinha de milho verde, uma caixinha de abobrinha, a gente lembra até hoje do resultado do caixa da feira, foi onze reais – não deu pra pagar o combustível até a feira. Não tínhamos banca, pusemos umas caixas, cada produtor levou uma coisa. Nos colocaram num ponto bem fora da feira que começou devagar, vendendo muito pouco. As vendas foram aumentando muito devagar. Pedimos outro ponto”, relembra.
Com o aumento das vendas na COOPAFRAN, aumentou a produção do plantio no sítio. Em 2010, aconteceu uma chamada pública para aquisição de alimentos para a merenda escolar em Cosmópolis, “nós tínhamos plantado cenoura e beterraba, esses itens foram vendidos para a merenda escolar de Cosmópolis”, afirma.
Mesmo com a ampliação dos negócios nas feiras e vendas para a merenda escolar, foi necessário ir além nos esforços, Sandra foi trabalhar no comércio para ajudar no equilíbrio das despesas da família. “Eu trabalhei fora por uma época, foram quatro anos dentro de uma loja. O preço do leite estava ruim, as feira estavam no início, os meninos crescendo e como eram menores de idade se eles fossem para o mercado de trabalho não seriam bem remunerados. Então, eu fui trabalhar no comércio e deixei eles aqui trabalhando no sítio. Nesta época, eu conciliava a loja e a feira, a casa, os filhos adolescentes e a Ana Júlia criança, e tantas outras responsabilidades”.
Com os pontos de feiras aumentando, conseguiram comprar um caminhão, uma camionete, tiveram que ir para o Ceasa “porque só o que plantávamos não dava para abastecer todas as feiras. E as plantas miúdas como jiló, alface, berinjela, diminuímos o plantio devido a mão de obra e tempo de dedicação. Não dava pra conciliar toda a dedicação de plantio com as atividades das feiras por que tínhamos que plantar, colher, embalar, fazer as feiras – optamos por plantar o milho verde e a banana. Arrendamos um outro sítio em Cosmópolis com produção de goiaba, abacate, caqui, e o plantio de mandioca. Nesse arrendamento, o proprietário cedeu dois pontos de feira que era dele em Cosmópolis, acumulamos nove pontos de vendas em oito feiras. Chega um momento em que você tem que fazer o trabalho bem feito e, se conciliar muitas outras atividades não dá certo”, Sandra explica.
Holambra
O tempo de permanência e dedicação ao comércio de alimentos nas feiras de Artur Nogueira e Cosmópolis trouxe a oportunidade do convite para a feira de Holambra, a ‘Quinta-Feira de Sabores’. “O que é importante para o cliente, é ver que você oferece uma boa apresentação na sua banca. Saber organizar o produto em exposição, ser agradável com o cliente, chamar o cliente na sua banca. O cliente gosta de ver um produto bem exposto e uma mercadoria bonita, produtos diferenciados, por que todos comem com os olhos – muitos acham que o que define a venda é o preço (nem sempre)”, disse.
A experiência e as observações do dia a dia sobre o comportamento dos seus clientes foram lhe ensinando a formatar todo o trabalho. “Você acha que fazendo alguma mudança vai dar certo e não é assim. O próprio cliente lhe ensina a trabalhar por que, às vezes, você coloca uma mercadoria na banca e você acha que está arrasando e noutra você coloca uma coisinha e você chama a atenção total da banca. Ele diz qual é o produto que ele quer ver na banca. Cada dia você aprende uma coisa. Um exemplo é o Cambuci, a época são poucos dias, é muito rápido, eu exponho as bandejas numa estratégia que o cliente vê de longe o produto que as outras bancas não tem”, ensinou.