Jornal Pires Rural – Edição 204 | PIRACICABA, Outubro de 2017 | Ano XII
Participando do 10º Encontro de Marketing em Alimentos e Agronegócio, promovido pelos grupos MarkEsalq e EsalqFood, realizado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esaql/USP), estava Deborah Carlos, formada em comunicação pela faculdade Anhembi Morumbi, é responsável por toda abordagem sobre sustentabilidade e do plano de agricultura sustentável da empresa Syngenta. Em sua palestra Deborah abordou o conceito de Marketing 3.0, dentro da empresa onde trabalha e como aplicar esse conceito junto ao seu público alvo, para tanto, ela apontou a evolução do marketing através da história usando vídeos de comerciais famosos veiculados pela Televisão.
O Marketing acompanha as tendências e mudanças do mundo, por isso as empresas buscam novas estratégias e soluções para adequar a linguagem correta ao se comunicar com seus potenciais clientes. Essa a evolução do Marketing foi divida em 3 fases: Marketing 1.0, onde o foco principal é o produto. Os comerciais apontavam os benefícios técnicos dos produtos, campanhas do BomBril é um exemplo disso. “As ações eram voltadas ao produto, queriam vender muito para muitas pessoas. Sendo uma interação totalmente transacional, o que interessava na campanha de marketing é exclusivamente a venda do produto”, destacou Deborah. No conceito de Marketing 2.0, os consumidores se valem dos veículos de comunicação, da era digital, para auxiliar nas suas escolhas dos produtos disponíveis. “As empresas, partem para um tom mais emocional nos comerciais, agregando serviço nas plataformas digitais para criar uma diferenciação junto aos clientes. A campanha quer estreitar o relacionamento, quer uma interação de 1 para 1, e não mais 1 pra muitos”, ela disse.
No Marketing 3.0 os consumidores se preocupam com a sustentabilidade, com os problemas ambientais enfrentados pelo planeta e por esse motivo, esperam alguma ação por parte das empresas em relação a esses fatores. Deborah cita que é uma fase onde “temos a ascensão das marcas se tornando parte da sociedade e responsável por desenvolver essa sociedade. Não somente pensar no cliente na hora da venda do produto, mas desenvolver comunidades ao redor da empresa. Começamos ter as empresas com posicionamento de colaboração, falando em fazer um mundo melhor”, explicou. O grande desafio do marketing 3.0, segundo ela “é cascatear esse conceito de um nível institucional para um nível de produto. Hoje, a grande maioria das empresa que trabalham o Marketing 3.0, fazem em um nível institucional, nível de marca corporativa. Poucas empresas trabalham de fato dentro das marcas dos seus produtos, “esse é o grande desafio que estamos enfrentando. Já nos posicionamos no nível institucional a um bom tempo e desde 2013, com o lançamento de nosso programa de agricultura sustentável (GGP), temos levado esse conceito para dentro das marcas dos produtos”, revelou.
Percepção da agricultura
“Sabemos que diariamente temos 200 mil pessoas a mais no mundo, o mesmo hectare que alimentava 2 pessoas em 1950 vai ter que alimentar 5 pessoas até 2030. Como trabalhar de uma forma sustentável para que a produtividade aumente, sem precisar aumentar a área de plantio, alimentando todas essas pessoas ? A pressão das mudanças climáticas é um desfio muito grande, o clima está mudando e as áreas de maior produção de alimentos estão sofrendo maior desgaste com perdas de áreas produtivas e erosão de solo. Fizemos uma pesquisa on-line em 2013, pelo mundo inteiro. Inclusive no Brasil tivemos uma amostragem de 500 pessoas do público urbano, não eram agricultores. Nosso objetivo era entender a percepção que esse público tinha da agricultura, e partir daí, se posicionar de uma forma mais estruturada para auxiliar os agricultores a criar uma história nova para a agricultura. Os resultados da pesquisa identificaram que os moradores dos centros urbanos entendem que precisamos alimentar mais pessoas e produzir mais alimentos usando tecnologia. Ao mesmo tempo eles não entendem que os defensivos agrícolas são uma tecnologia, eles querem que diminua o uso de defensivos e aumente a produtividade. Percebemos então, que existe uma desconexão muito grande de entendimento entre essas duas pontas. A partir disso, nossa empresa passou a ter um papel mais pró-ativo para ajudar o agricultor a produzir alimentos, com boas práticas agrícolas e de uma forma mais sustentável. A fórmula de tangenciar isso foi a criação de nosso programa de agricultura sustentável (The Good Growth Plan – GGP). Esse é um plano de metas que começou a ser mensurado em outubro de 2013 e vai até 2020. A nossa ideia é trabalhar em 6 compromissos, com metas numéricas, auditadas todos os anos, para comprovar que estamos de fato fazendo diferença na vida dos agricultores” explicou. O plano da empresa tem os pilares de produtividade, meio ambiente e social, envolvendo 6 compromissos: tornar as culturas (20%) mais eficientes; recuperar terras degradas; promover a biodiversidade; aumentar a produtividade de pequenos agricultores (em 50%); treinar pessoas (agricultores, técnicos, distribuidores, equipe interna) para conhecer as boas práticas agrícolas e poder promover uma agricultura mais segura tanto para o meio ambiente quanto para os produtores e consumidores; e cuidando do trabalhador através do compromisso alinhado em cumprir com todas as regras trabalhistas do Brasil.
Colheita boa
Um exemplo citado, foi no pilar social, onde um projeto auxilia os pequenos produtores de café, através de uma consultoria, a conquistarem a certificação. Essa consultoria envolve todas as etapas da safra, desde o manejo correto do solo, armazenagem, controle de estoque e gestão financeira. Assim que conseguir a certificação, e uma vez constatado a alta qualidade do café, o programa ajuda a exportar o café para os Estados Unidos e Europa. Através de um plataforma digital, leva informações dos agricultores para compradores café no mundo todo. “Desde informações como nome da propriedade até manejo da lavoura, tudo para o processo ser transparente. A certificação é da UTZ e assegura ao processo que a fazenda esteja alinhada a todos os compromissos de boa gestão financeira, assegura os direitos trabalhistas de todos os funcionários e ainda, está de acordo com todas as normas ambientais para conseguir a certificação”, descreveu Deborah. Ao analisar os resultados desse programa, Deborah identificou que “o grande valor que esses pequenos agricultores conseguem enxergar, é o melhor controle financeiro da propriedade. Por serem muito pequenos eles não tinham nenhum modelo de gestão, acabavam tendo ganhos na média, isso não é sustentabilidade. A partir do momento que eles passam pela consultoria, passam a ter um controle financeiro maior, sabendo quanto estão ganhando ou perdendo e o tipo de estratégia que precisam tomar”, citou.
“Esses são os exemplos que estamos fazendo em Marketing 3.0 dentro da nossa indústria de insumos. É um esforço para trazer o impacto social e ambiental inserido em nosso portfólio de produtos, esses exemplos são a evolução de nosso trabalho”, assim ela finalizou.