Jornal Pires Rural – Edição 205 | PIRACICABA, Outubro de 2017 | Ano XII

O 10º Encontro de Marketing em Alimentos e Agronegócio: O Futuro do Marketing – Pessoas, Processos e Produtos, foi realizado no anfiteatro do pavilhão de engenharia da Esalq/ USP, em Piracicaba. O evento foi de extrema importância por tratar do tema da comunicação no segmento rural, sendo o único setor da economia brasileira que terá crescimento de 2%, em 2017, e ainda, representa quase 23% do total do produto interno nacional. O simpósio na Esalq teve apoio e a participação de fortes empresas no segmento de Marketing como a Nielsen, um dos institutos de pesquisa de mídia mais respeitados do mundo, além da agência brasileira de publicidade Almap BBDO, a 3ª agência mais premiada mundialmente. Nessa matéria abordaremos a Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócios (ABMR & A), representada pelo seu diretor Ricardo Nicodemos, iniciando o evento com a apresentação dos resultados da 7ª pesquisa de hábitos do produtor rural brasileiro.

Segundo Ricardo, essa pesquisa é cotizada, ou seja, algumas empresas são cotistas e pagam uma parte das despesas. “Para se ter uma ideia, é a maior, mais extensa e mais completa pesquisa sobre o agronegócio nacional. Ela se equipara ao Censo, tamanha importância”, citou. Os dados da pesquisa de campo foram colhidos em março de 2017, a tabulação foi realizada em abril e maio, portanto são dados recentes, como disse o palestrante, “são dados igual pão saído do forno”.

A pesquisa começou em 1985, na época a intenção era dar resposta ao rural que permanecia envolto num grande enigma. “Não tínhamos às respostas de quem é esse produtor? Qual seu perfil? Qual seu nível de instrução? Quais são seus hábitos de leitura? A dificuldade era como se comunicar com esse produtor. Qual jornal lê? Que emissora de tv assiste? O foco era saber qual mídia ideal para eu atingir o produtor”, revelou Ricardo. Outro fator que induzia a pesquisa era sua periodicidade, quando ela começou, há 32 anos, acontecia após cada 4 anos, Ricardo apontou o motivo; “porque as coisas não mudavam tão rápido. Nos últimos anos, diminuímos o período de tempo, tem cotista querendo fazer anualmente, tamanha a agilidade das mudanças de comportamento das pessoas e o marketing no agronegócio evoluiu com o passar dos anos”.
A penúltima pesquisa foi realizada em 2013 e a idade média, de quem respondeu a pesquisa, era de 48 anos, agora em 2017 foi constatada que a idade média do produtor, que respondeu a pesquisa, passou para 46 anos. Como descreve o palestrante, “um ponto a destacar nesse dado é a respeito da sucessão familiar. A dúvida: haveria, realmente, herdeiros que tomassem a frente das decisões da propriedade rural ? Isso foi respondido e, mostrou que não é mais um problema, vem aumentando o número de produtores que tomam a decisão numa faixa etária menor. Isso significa que os filhos, a nova geração, passam a assumir parte da decisão da propriedade”.

Recursos para custeio da atividade
No final de julho foram divulgados os primeiros dados da pesquisa de 2017, Ricardo destaca que “recebemos um convite do Ministério da Agricultura porque eles queriam saber como pensa o agricultor no Brasil. Em determinado momento da reunião, em Brasília, ficamos numa saia justa porque eles estavam discutindo sobre financiamentos, linhas de crédito, para aumentar os empréstimos ao produtor rural, e nós dissemos que todos estão capitalizados. Isso foi a pesquisa quem mostrou, não inventamos”, ele relatou.
Para afirmar esses dados Ricardo apresentou em números o que foi constatado pela pesquisa: “Foram realizadas 2.825 entrevistas com produtores rurais, em 15 Estados, num questionário contendo 212 perguntas, e perguntamos sobre as fontes de recursos da seguinte forma: Quais as fontes de recursos que costumam utilizar para custeio de insumos da atividade e para despesas de investimento como tratores, caminhões, implementos, silos, etc? Acima de 70% dos entrevistados disseram utilizar recursos próprios, tanto para custeio de insumos como para despesas de investimentos, entre os pecuaristas e agricultores entrevistados. Apenas 17% dos pecuaristas responderam que utilizam PRONAF, e os agricultores 24% deles utilizam esse recurso. Outra pergunta da pesquisa referente a renda do produtor, foi saber qual a intenção de compra nos próximos 12 meses? Ricardo comentou que o resultado é muito interessante pois, é uma informação que sustenta a resposta da pergunta sobre as fonte de recursos. O produtor respondeu que nos próximos 12 meses, tem em mente comprar trator, caminhonete e adquirir uma nova propriedade rural. “Isso significa o seguinte; ele está com dinheiro, ele está capitalizado. Uma informação fecha a outra aqui”, relatou Ricardo. Outros itens pessoais de compras citados na pesquisa foram, pela ordem; viagem a passeio/ férias no Brasil; Smartphones; computador/ notebook; imóveis na área urbana; viagem a passeio/ férias no exterior; motos/ quadriciclos; viagem ao exterior a negócios para buscar novas tecnologias; tabletes e barco.

Produtor moderno
Segundo Ricardo, nas reuniões com os patrocinadores da pesquisa, o objetivo era investigar e conhecer o perfil do produtor rural, seus hábitos de compra, envolvimento com a tecnologia e, principalmente seus hábitos de mídia; os meios e os veículos de comunicação que consulta para sua informação profissional e para seu entretenimento, e as discussões foram acrescidas de outras questões, também era necessário saber a perspectiva e o ponto de vista dele na questão do produto produzido e sobre como ele pensa o seu negócio. “Em nossas reuniões estabelecemos que nossa missão é mostrar para a população urbana que aquele estereotipo do produtor rural ser um Jeca Tatu, não existe mais, é ao contrário, tamanha é a tecnificação do homem do campo, tamanho é o seu poder, as pessoas hoje se surpreendem” ele acentuou.
O advento da internet, da mobilidade, do acesso as tecnologias móveis, pelo investimento das empresas de telefonia em antenas, fez o produtor rural estar mais presente em seu negócio, por esse fato a pesquisa mostrou que os aparelhos celulares estão presentes em 96% dos locais pesquisados, sendo que a quantidade de aparelhos varia de 2 a 4, pela justificativa da questão do sinal das operadoras de telefonia, dependendo do local da propriedade o produtor altera o uso de aparelhos entre operadoras. O uso de Smartphone cresceu 44% entre os produtores, “hoje 61% dos produtores têm acesso à internet e usam as redes sociais. Desse universo, 96% usa o Whatsapp, 67% o Facebook, 24% o Youtube”, detalhou Ricardo. Mas também alertou, “essa pesquisa demostra que na hora de tomar decisões nas campanhas de comunicação, deve-se tomar o devido cuidado e não radicalizar escolhendo anunciar apenas nas redes sociais, porque se deseja uma estratégia eficiente, deve-se pegar essa pesquisa pra entender com quem você quer falar”, ele frisou.

Participação das mulheres
Ricardo observou outro destaque verificado pela pesquisa. Ele afirmou quem respondeu aos questionários, teve predominância do sexo masculino mas, “quando foi perguntado aos entrevistados qual era importância da mulher no seu dia a dia, na tomada de decisões, verificamos que 31% das propriedades apresentam mulheres no gerenciamento. E quando perguntamos como é a participação da mulher na propriedade, 19% respondeu que é vital e outros 62% disseram que é muito importante. Independente da propriedade ser pequena, média ou grande. Comparando com dados da pesquisa de 2013 foi constatado que a mulher ganhou uma importância muito grande na decisão do negócio” enfatizou.
Segundo a pesquisa, 81% dos produtores não exercem outra atividade, além de cuidar da propriedade. O grau de escolaridade dos entrevistados indicou que 82% tem nível superior completo, sendo que 42% são agrônomos. Foi descrito por eles: “estou muito otimista em relação ao futuro da atividade agropecuária no Brasil” e “tenho orgulho de ser produtor rural”.
Pra finalizar, Ricardo Nicodemos recorreu as referências de quando começaram a pesquisa, “encontramos um anúncio de revista do ano de 1979 onde mostrava um cenário pobre sobre o agronegócio. Era um anúncio que dizia “quando o campo é pobre, a esperança vem morrer na cidade”. Hoje, a campanha da Rede Globo diz que agro é tudo (Agro – a indústria-riqueza do Brasil). Em 1994, o PIB do agronegócio era de US$35 milhões, em 2016 fechou em 1,8 trilhão de dólares, estamos falando de conceito e de relevância para o país”, concluiu.

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