Jornal Pires Rural – Edição 233 | PIRACICABA, Outubro de 2019 | Ano XIV
Marcello Brito, diretor-executivo da indústria Agropalma, que tem uma refinaria na cidade de Limeira, no bairro rural Jaguari, assumiu recentemente a presidência da Associação Brasileira do Agronegócio – Abag (Abag é uma das fundadoras e sócia da Agrishow). Marcelo esteve presente na ESALQSHOW – 2019 – Fórum de Inovação para o Agronegócio Sustentável, realizado pela terceira vez na Universidade de Agronômica Luiz de Queiróz, Esalq/USP, em Piracicaba, e participou da discussão: ‘O Agro Brasileiro e seus caminhos’, juntamente com o secretário de agricultura do estado de São Paulo, Gustavo Diniz Junqueira.
O ano de 2019 já é considerado o ano da agricultura 4.0, o ano da tecnologia, o ano do satélite, e para Marcello Brito, presidente da Abag, ‘isso mina a nossa capacidade de futuro’. Na parte política, Brito acredita que é necessário discutir, pois, em outubro de 2019, o Governo Federal lançou a medida provisória do Agro, “é uma revolução, um espetáculo! É a mostra de como tem que ser a relação da sociedade e como deve ser tratado o dinheiro do governo, que efetivamente não deve ser usado para subsidiar e nem anistiar quem, em algum momento, achou que deveria não pagar o imposto; do que era o entendimento jurídico da época. Se você tem um entendimento jurídico faça o seu e assuma a responsabilidade, ou deposite em juízo ou faça qualquer coisa. Mas não peça depois que o governo cubra o seu rombo”, disse.
O trabalho que foi feito com o Ministério da Agricultura e Ministério da Economia na formação desta Medida Provisória do Agro, evidencia uma mudança de princípios na direção dos negócios de agora em diante, no governo de Jair Bolsonaro.
Brito chama a atenção de todos, quando define a economia deste governo. “Nós elegemos um governo liberal e agora precisamos aprender o que é que é uma economia liberal. A economia liberal é aquela onde a gente não encosta no governo em termos de favores o tempo todo. Nós somos parceiros, cada um com a sua responsabilidade”, afirmou.
O modelo gerencial da mulher no agronegócio chamou a atenção do presidente da Abag, em sua participação no último Congresso Brasileiro das Mulheres no Agronegócio, realizado em São Paulo com mais de 2 mil mulheres. “É impressionante a mudança da estrutura de produção, da mudança econômica das regiões onde as mulheres têm assumido a liderança na produção. Talvez seja um exemplo pra gente repensar quais são os nossos modelos gerenciais em relação ao futuro”, destacou.
Brito não quiz concluir a sua contribuição no debate sem antes deixar uma pauta urgente para ser discutida por todos os setores do Agro. “Em todos os eventos do Agro a gente tem falado de agricultura 4.0, indústria 4.0 , TI 4.0; tudo 4.0. O suprassumo da tecnologia mundial. Aí, os japoneses que não tinham nada pra fazer, foram estudar e chegaram à conclusão do 5.0. Chamado ‘sociedade 5.0’. O que é isso? ‘Sociedade 5.0’ é aquela que deverá sair, no mundo, pós-aplicação da tecnologia 4.0 e deverá ser a sociedade de menor diferença social, de menor concentração de renda, de menor concentração de riquezas, de mais acesso à educação, de mais acesso aos bens públicos, de mais cidadania e respeito. Pergunta: “E o que é que vamos fazer com os pequenos? Aonde, está aqui nesse evento, uma palestra falando sobre os modelos cooperativistas e os projetos futuros de cooperativas pra embarcar, englobar todos os pequenos produtores rurais deste país num modelo de acesso a tecnologia na agricultura? Se nós não tomarmos consciência disso, nós vamos estar criando um fosso muito maior. Será um prazer debater isso depois”, salientou.
Os japoneses
Com o apoio da tecnologia, o Japão se comprometeu a ‘ajudar’ países do continente africano a duplicar a produção anual de arroz, para 50 milhões de toneladas até 2030. Projetos específicos já são realizados na África. A estratégia japonesa é promover investimentos privados e ampliar o comércio de maquinários para a agricultura sustentável em todo o continente africano. No período de 15 anos, o PIB da África expandiu 3,4 vezes, de US$ 632 bi em 2001 para US$ 2,1 trilhões em 2016 e, o mercado consumidor continuará crescendo até o final do século, quando a população africana deverá representar 25% do total global, hoje em 17%.
“Eu acho que deveria ser obrigatório em todas as palestras que a gente fala de aplicação de tecnologia 4.0, qual será o resultado disso em relação a sociedade 5.0. Se não, o que nós vamos fazer com a agricultura brasileira – como já aconteceu em alguns países – é; os grandes (produtores) tem acesso imediato a tecnologia. A empresa que eu dirijo no meio da Amazônia, nós reduzimos em tratores, nos últimos dez anos, ao número de cem tratores. Nós temos menos cem tratores do que tínhamos há dez anos atrás, fazendo o mesmo serviço e, de cinco mil funcionários, reduzimos para três mil e oitocentos, com o poder da tecnologia. Foram mil e duzentas pessoas que perderam o emprego. Menos tratores foram vendidos, menos combustível foi utilizado e daí por diante”, revelou.
No Brasil
Com a intenção de ajudar na redução da perda pós-colheita, revitalizar a indústria de alimentos e aumentar a renda rural, em 2014, o Ministério da Agricultura, Silvicultura e Pesca do Japão formulou a Estratégia Global da Cadeia de Valor Alimentar para aplicar nos países em desenvolvimento, como Vietnã , Mianmar e Brasil.
A presença do Japão na agricultura brasileira se confunde com a história de 111 anos da imigração nipônica no Brasil, e de maior impacto continua sendo o Prodecer – Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados – idealizado na década de 1970.