Jornal Pires Rural – Edição 240 | LIMEIRA, Maio de 2020 | Ano XV
Entrevistamos o padre Alexander José da Silva, da Quase-Paróquia Santo André Apóstolo, para saber o motivo do adiamento da tradicional Festa do Milho, realizada no mês de abril e, de outros assuntos como as adaptações impostas pela pandemia do COVID-19 durante as celebrações de missas, casamentos, batizados. Padre Alexander apresenta uma igreja que se reinventa através da tecnologia para estar ainda mais presente aos fiéis, pois, “a igreja nunca morre, a igreja se reinventou no decorrer da história e, até hoje”.
Jornal Pires Rural: No mês de abril, tradicionalmente, acontece a ‘Festa do Milho’, da Quase-Paróquia Santo André Apóstolo. Neste ano, lamentavelmente, não aconteceu pelo fato de sermos todos acometidos pela pandemia do COVID-19. Qual é o tamanho da importância da ‘Festa do Milho’ para a comunidade, considerando: a alegria da doação do trabalho voluntário para a comunidade, por um bem comum e a arrecadação?
Padre Alexander José da Silva: “A décima sexta Festa do Milho de nossa Quase-Paróquia Santo André Apóstolo não aconteceu, infelizmente, devido a COVID-19, novo coronavírus. Mas ela é importantíssima para as finanças de nossa igreja, pois, a nossa igreja se mantém anualmente com este fundo que foi feito graças às festas anteriores, como na festa agora que nós teríamos. Nós estamos com algumas pequenas promoções também a nível de alimentação. Tivemos no final de semana do ‘Dia das Mães’, o bazar das sobremesas solidárias, no dia de hoje retomamos a venda de pães, doces, salgados, bolos de fubá, doce de leite; retomamos esses doces para serem vendidos, da nossa padaria que a comunidade tem. As vendas acontecem todos os finais de semana. Também iremos fazer as baguetes, no próximo dia 23 de maio, e assim se segue. No próximo mês desejamos fazer a produção de marmitex da feijoada, para a arrecadação de fundos para a nossa igreja, pois, nós não podemos parar. Continuamos os nossos trabalhos pastorais, continuamos os nossos trabalhos administrativos e o nosso trabalho pastoral não só com as nossas pastorais de movimentos mas também, um grupo de psicólogas em que essas psicólogas atendem a comunidade de Limeira com um custo baixo e muitas vezes quando as famílias não tem condições de contribuir, a igreja acaba arcando com esta despesa”.
Jornal Pires Rural: Como a Quase-Paróquia Santo André Apóstolo tem administrado o distanciamento social imposto pela pandemia do COVID-19? A Festa do Milho foi adiada? As celebrações das missas virtuais estão ocorrendo com a mesma frequência das missas antes presenciais?
Padre Alexander José da Silva: “A igreja nunca morre. Mesmo num momento de crise como esse, nós continuamos levando a verdadeira Graça de Deus a todos os paroquianos. É necessário isso em nosso viver. É necessário isso em nossa vida. Assim como é necessário apresentar ainda em meio as celebrações essa esperança que não deve morrer no coração das pessoas. A Festa do Milho foi adiada, não existe ainda uma previsão de data, será adiada provavelmente para o final do ano. Vamos ver como se segue toda essa situação em que estamos inseridos. As nossas celebrações dominicais e semanais estão acontecendo pelas redes sociais, através da nossa plataforma do Facebook da Quase-Paróquia Santo André Apóstolo. Ao meio-dia, de segunda à sexta-feira, é transmitido o ‘Santo Terço’. De quarta-feira, a missa em ‘Sufrágio das almas’. De quinta-feira, iniciamos a ‘Novena da Desatadora dos Nós, Novena Perpétua’ que já estava na nossa programação pós-semana santa, rezamos no dia de ontem o quarto dia da novena. Aos finais de semana temos a missa no sábado, às seis e meia e, no domingo, às dez e meia da manhã. São horários tranquilos para que todos possam viver e celebrar realmente, esse grande momento, esse grande mistério de Deus”.
Jornal pires Rural: As celebrações de casamentos foram adiadas?
Padre Alexander José da Silva: “Os casamentos e demais sacramentos, até o momento não tínhamos nenhum casamento marcado em nossa igreja mas, estamos num contexto ainda de pandemia em que precisamos esperar e viver esse momento, até que tudo se acalme. Os batizados e tudo o mais, estamos aguardando as afirmações do nosso bispo diocesano, o que ele vai nos liberar para mais para a frente executar aqui, nas nossas igrejas enquanto Diocese, não somente na cidade de Limeira”.
Jornal Pires Rural: A Quase-Paróquia Santo André Apóstolo é a responsável pelo Recanto dos Idosos? Desde quando? Quantos idosos residem no Recanto? Quantos funcionários? Quais adaptações foram feitas como medidas de prevenção contra o novo coronavírus no Recanto dos idosos?
Padre Alexander José da Silva: “A Quase-Paróquia Santo André Apóstolo também têm a responsabilidade com o Recanto dos Idosos, com a sua administração onde eu ocupo o cargo de superintendente, na própria instituição. Com isso, a nossa Quase-Paróquia, ela não mantém, hoje, mais financeiramente o Recanto dos idosos mas, administrativamente, sim. Onde estou a frente junto com uma diretoria, são vários casais da cidade de Limeira e que tem como presidente o diácono Pedro Bernardo. No Recanto dos Idosos, temos vinte e cinco idosos, com toda a assistência dada por nós. E um total de quase trinta colaboradores direto ao Recanto dos Idosos. Temos grupos de voluntários que atualmente não estão desenvolvendo tanto os seus trabalhos lá dentro do Recanto dos Idosos, devido aos protocolos do COVID-19, aplicados dentro da instituição. Graças a Deus, no dia de ontem, todos os nossos colaboradores fizeram o teste ‘rápido’ fornecido pelo SUS, através da Prefeitura Municipal de Limeira e nenhum dos nossos colaboradores está com o COVID-19, como foi comprovado nos testes”.
Jornal Pires Rural: Considerando que não estaremos “seguros” contra o novo coronavírus sem uma vacina (que ainda não foi aprovada), o que o sr. pensa como modelo de igreja, caso o isolamento social se estenda por meses, considerando que a Igreja é o encontro das pessoas? A Diocese de Limeira têm discutido esse assunto?
Padre Alexander José da Silva: “De fato, não estamos seguros. Nem seguros em casa, em nenhuma situação. Não só o COVID-19, mas outras situações também está acontecendo e muitas vezes não colocamos em pauta, como o problema da dengue é um problema muito caro que é preciso tomarmos muitos cuidados em nosso município, principalmente a dengue tipo dois. Com o COVID-19, a transmissão se dá pelo contato. A igreja não perdeu o seu povo. A igreja se reinventou no decorrer da história e até hoje. Muitos padres, que antes não faziam transmissões de missa, passaram a fazer. Outros que faziam passaram a fazer mais ainda, eu mesmo, sempre fiz as celebrações transmitidas pelo Facebook, principalmente as transmissões solenes, de dias solenes em nossas comunidades. Passamos a transmitir mais. Precisou sim, de uma certa adequação pois, nós não tínhamos conhecimento, principalmente de mídias. Tínhamos conhecimento do quê? De apenas pegar um celular e transmitir. Mas não tinha um programa, tipo UBS, estúdio, isso foi se adequando. As nossas comunidades estão aprendendo a ter contato ainda mais com a mídia. A nossa catequese passou a ser desenvolvida também através das redes sociais, onde o catequista anuncia também Jesus. Pra não deixar “morrer” a nossa molecada que está em casa, as nossas crianças, adolescentes e adultos; essa esperança do encontro eucarístico que virá da confirmação da vida e da comunidade e assim tantos outros sacramentos que precisam simplesmente colocar uma semente na vida da pessoa e não deixar isso morrer. Por isso, o modelo de igreja permanece. Apenas a transmissão que mudou. Os encontros pessoais passaram a ser virtuais mas no futuro voltarão a ser pessoais e ao voltar sendo eles pessoais, a pessoalidade, o contato face a face vai fazer com que sejamos pessoas diferentes”.
Jornal Pires Rural: Peço ao Sr. que deixe uma mensagem de esperança e fé nesse momento tão difícil para nós, humanos.
Padre Alexander José da Silva: “Precisamos nos animar. Precisamos nos reinventar. Precisamos olhar, acima de tudo pro ser humano. E, no ser, humano, compreender que nós precisamos uns dos outros. Fazer com que o ser humano seja colocado em primeiro lugar e, não a economia e, não o dinheiro e, não o material; mas o ser humano. Doando alimentos para quem precisa, não deixar ninguém morrer de fome, nessa pandemia que pode surgir pandemia da fome. Pois, o desemprego está claro pra nós, quantos estão ficando desempregados; empresas estão fechando. Por isso, precisamos nos cuidar. E cuidar ainda mais de nós, seres humanos, homens, mulheres, que precisam ter fé e esperança. Que depois de tudo virá algo ainda melhor”.