O mês de maio de 2018 vai ficar registrado na história brasileira pois, desde o dia 16, nas principais estradas brasileiras estavam ocorrendo pequenas paralisações do tráfego por caminhoneiros, reivindicando melhorias para o setor.
As manifestações, ganharam corpo e adesão de quem não é do setor e achou justa e pertinente tais reivindicações dos caminhoneiros como taxa dos pedágios, insistente alta do diesel e valores das tabelas de frete. Quando os caminhoneiros resolveram parar todo e qualquer caminhão nos acostamentos das estradas estaduais e federais e só sair quando fossem atendidas suas reivindicações pelo Presidente da República, a situação ficou dramática. Foram 10 dias de paralisações tendo o governo que atuar com as Forças de segurança para desmobilizar manifestantes.

Greve dos caminhoneiros em Limeira

Primeira convocação

Em Limeira, a situação não foi diferente. Quem passasse pela rodovia Anhanguera podia ver os caminhões parados pelos acostamentos e entrada da cidade enquanto a pista estava livre, era um carro ou uma motocicleta que passava raramente, ninguém ou quase ninguém transitando pelas estradas. Em contra partida, na área rural, vendo o que estava acontecendo, estavam os produtores rurais reunidos, para de alguma forma apoiar essa manifestação dos caminhoneiros, pois afinal, muitos tem caminhões e todos tem tratores que utilizam o óleo diesel para abastecimento e estavam sofrendo com as sucessivas altas – subiram mais de 50% nos últimos 12 meses. Esse grupo de produtores tem a afinidade entre si devido ao grupo Comando Agrícola da rede social WhatsApp. Por volta das 21hs da quarta-feira, 23 de maio, foi divulgado um vídeo do grupo Comando Agrícola, convocando todo produtor rural com seu trator para se juntar ao movimento dos caminhoneiros, parados em Limeira, dia 24/05, quinta-feira às 12:30. O grupo iria-se reunir, primeiramente, na frente do bar do Galo, no bairro dos Pires e depois seguir até a entrada principal de Limeira, na rodovia Anhanguera. Guilherme Hergert, porta voz do vídeo, dizia; “Vamos fazer uma passeata pacifica de modo ordenada como está sendo em todo país. O pessoal de Limeira, concordamos em participar, para dar força aos irmãos caminhoneiros e aos irmãos produtores rurais que estão no mesmo barco que nós”.   

Conforme a convocação, quinta-feira (24/05), por volta das 13hs cerca de 60 tratores e 12 caminhões saíram do bairro dos Pires em passeata, (esse evento foi transmitido ao vivo pelo canal do Facebook do Jornal Pires Rural). Eles se locomoveram pela av. Major José Levi Sobrinho, sentido centro e fazendo o percurso inverso, seguiram diretamente para a rodovia Anhanguera, sem antes falar com os vários veículos de comunicação presente para registar esse acontecimento peculiar para os produtores rurais. O grupo de produtores permaneceu com seus tratores na beira do acostamento da Anhanguera, somando corpo aos caminhoneiros parados, que a essa altura estavam no terceiro dia e os suprimentos como comida e água estavam se esgotando, assim, ajudaram a criar uma corrente e mobilizar comércios e apoiadores da causa, para doar mantimentos, água, banheiros químicos, a liberação de banhos nos postos próximos aos pontos onde havia maior concentração de manifestantes entre outros itens básicos pois, a paralisação não tinha prazo para terminar.

Grupo reunido, na frente do bar do Galo, no bairro dos Pires

No dia 25, sábado, novamente os tratoristas, como foi denominado o movimento dos produtores, foi convocado para uma nova passeata. Dessa vez, suas máquinas iriam sair da praça central Toledo de Barros, em Limeira. Por volta das 13 hs, o grupo seguiu novamente para a entrada principal de Limeira, com cerca de trinta tratores e 60 veículos que foram se juntando no meio do trajeto (a saída dos tratores da praça Toledo de Barros e a chegada à Anhanguera foi transmitido ao vivo pelo canal do Facebook do Jornal Pires Rural). Cerca de 20 minutos após os tratoristas chegarem, surge um grupo de 100 motociclistas, vindo de outro bairro de Limeira, seguidos por mais 40 carros de passeios e vans de transportes de passageiros. O trevo da Anhanguera ficou tomado de populares, manifestantes, curiosos, produtores e suas famílias em apoio a greve, que mostrava força e gerava impacto em abastecimento e transportes por todo o país. Os efeitos a essa altura, sentido pela população, incluía, redução de frotas de ônibus, falta e disparada de preços em postos de gasolina, cancelamento de aulas em escolas e universidades, voos ameaçados por falta de combustível, alimentos escassos nas prateleiras dos supermercados e centros de abastecimento e a interrupção da produção nas indústrias de todos os setores. A pauta inicial dos grevistas, que estava concentrada em questões econômicas, como o custo do óleo diesel e dos fretes em prol a categoria, é ampliada e o discurso anticorrupção, que inclui vozes em apoio a uma “intervenção militar”, ganhava força.

Foi durante a tarde do sábado, que falamos com Guilherme Hergert, representante dos produtores rurais, para saber o que motivou todo esse movimento e como começou. Guilherme conta, “começou com a roubalheira e sempre quem tem que pagar a conta é o produtor rural, é a sociedade em si. Aí o povo começou a acordar, começou a ver que não é bem assim, ninguém quer ser feito de palhaço. [O movimento] Começou a ganhar força com os caminhoneiros, o pessoal da área rural, que sente o impacto tremendo do óleo diesel e das outras coisas que acontecem, também chegou ao seu basta! O nosso grupo de produtores rurais de Limeira, já fazem 2 anos que usamos a rede social para trocar mensagens técnicas sobre lavoura, condições de clima e preços, teve a ideia de abraçar a causa pois, nossa classe é grande e tínhamos que aderir a manifestação. Foram 25 produtores, representando várias partes da cidade, que fechamos o movimento para quinta-feria (24/05). Graças a Deus, o movimento cresceu. Aquele agricultor que estava quieto em seu canto, o entusiasmo apareceu e abraçou a causa. Não foi só nós agricultores, o povo da cidade pegou energia, o povo das vans, o povo dos motoboys, tudo foi crescendo, adquirindo aquele senso de patriotismo. Fico orgulhoso da nossa classe, além dos caminhoneiros ter sido o estopim, nós incendiamos o resto aqui na nossa cidade. Graças a Deus, conseguimos juntar por 2 dias o movimento. Pessoal que mora longe, veio com seu trator, cerca de 2 horas do centro. Quem é tratorista, é da roça, sabe que pegar uma estrada 2 horas andando de trator, não é o mesmo que pegar um carro. O pessoal abraçou, veio, participou unido e deu esse resultado enorme, que contagiou a cidade. Hoje, a carreata dos tratores saindo do centro foi um fato histórico pra nossa cidade. Foi histórico o produtor e o pessoal da cidade, todos unidos com um objetivo só, o objetivo do bem comum, objetivo que todo mundo precisa beber, comer, com condições dignas de preço, que possa sustentar sua família. Do jeito que está indo, com combustível caro,  porque o combustível é a base de tudo, ninguém consegue atingir uma qualidade de vida. Então, acredito que se a gente for vitorioso no Congresso, com toda essa força do país inteiro, vamos ter um bom resultado com tudo. Se Deus quiser!”.

Guilherme Hergert, representante dos produtores rurais

Caminhoneiros autônomos

Os representantes do movimento dos caminhoneiros aqui em Limeira eram Kelsen Beckmann e Jason Cabrini que expuseram o motivo pelo qual a categoria estava realizando a greve pelo país e, segundo Kelsen, esse movimento já vinha de tempos atrás, com discussão pelas redes sociais, em desacordo com a disparada de preço do óleo diesel e os valores dos fretes não estarem acompanhando. Ele recorda, “em Limeira as paralisações começaram desde o dia 16, com a paralisação da Anhanguera por duas horas e meia, pra chamar a atenção da mídia para os motivos que levariam à parada nacional no dia 23. No dia 18 de maio, os caminhoneiros se reuniram na frente do estádio Limeirão e fizemos um buzinaço e uma carreata pelo anel viário, pra também chamar a atenção da população, pra entender porque iríamos parar no dia 23. Quanto aos produtores rurais, eles também estão sofrendo com o aumento do diesel, dos impostos, estão sendo muito prejudicados. Eles se uniram com a gente pra dar força e união, juntamente com o apoio da população”, Kelsen citou.

Quanto ao fim das paralisações Jason relatou que estão aguardando a resposta dos governantes, “necessitamos que segurem esse aumento diário do petróleo, que tem vindo de meses e defasando toda a mão-de-obra nossa. Chegamos num ponto que está insustentável, acreditamos sim, que pelo menos sesse esse reajuste diário para voltarmos a trabalhar”.    

O apoio da população as manifestações e ao suprimento de mantimentos aos caminhoneiros é visto por eles como “super bacana, pois todos vêm e colaboram como podem pois, todo mundo sofre da mesma forma e está insustentável para qualquer um, não só para nós caminhoneiros ou produtores rurais mas também, para as indústrias. Chegou numa situação que não temos mais condições de trabalhar”, narrou Jason.

Kelsen Beckmann e Jason Cabrini, representantes do movimento dos caminhoneiros aqui em Limeira

Kelsen foi cordial dizendo, “quero agradecer a população, pois isso está acontecendo em nível nacional e as informações que tenho, em todos os locais a população está apoiando de uma foram ou de outra, vindo com a gente, trazendo mantimento e muitas doações pra quem está parado. Isso é super legal, queria agradecer a todos. E por outro lado, pedir desculpas, porque não é nossa intenção deixar faltar nada na mesa de ninguém mas, se a gente não se unir e mostrar para o governo que nós temos uma força, e está força está se degradando, sendo prejudicada, infelizmente ele não vai fazer nada pela gente. Queria pedir desculpas a população pelo que está faltando e agradecer o apoio que estamos tendo. Graças a Deus está tudo correndo bem”.

 

Abaixo-assinado elaborado pelo grupo Comando Agrícola

Abaixo-assinado

Na segunda 28/05, novamente o grupo de tratoristas se dirige, em passeata, até a rodovia Anhanguera para mais um dia de reivindicações e apoio a greve dos caminhoneiros. Dessa vez, os produtores resolvem fazer um documento para formalizar suas reivindicações para que sejam encaminhadas para o Congresso Nacional. Robson Tetzner, outro membro do grupo Comando Agrícola é quem explica o teor desse documento; “O nosso objetivo em participar e apoiar aos caminhoneiros é que, como produtores rurais, utilizamos o óleo diesel e queremos essa isenção do valor do diesel, que não seja apenas para uma categoria. Os demais insumos derivados do petróleo como os fertilizantes, pneus e os lubrificantes das máquinas agrícolas também tenham a isenção de impostos pois, estão pesando muito no nosso custo de produção. A princípio estamos trabalhando com a ideia de uma redução de 30%, que é não significa toda a carga tributária mas, já é um valor considerável que pode nos ajudar muito. Vamos encaminhar através do Sindicato Patronal, que tem o recurso pra chegar até Brasília – DF, e mobilizar demais sindicatos rurais para unir e somar forças junto com os caminhoneiros nessa causa da redução de impostos sobre os derivados de petróleo. Por enquanto, o presidente (do Brasil) anunciou algumas reivindicações dos motoristas mas ainda, não é nada formalizado no papel, é apenas um pronunciamento do nosso presidente”, ele explicou.

 

O produtor Mário Barbosa e Pedro Zanarelli, advogado do Sindicato Rural Patronal que estava dando suporte aos produtores

Boletim de ocorrência

Foi convocado, durante a noite da segunda-feira (28/05), uma reunião com todos os tratoristas participantes das manifestações, para estarem às 7:30 da manhã de terça-feira (29/05), nas dependências de uma revenda de produtos agrícolas, próximo a rodovia Anhanguera, onde os organizadores do movimento, que uniu os produtores rurais, teriam novidades para o direcionamento das ações. Na manhã gelada de terça-feira, assim que os produtores chegaram, foi dado o aviso de que a liderança do grupo estava sob pressão policial para por fim as manifestações. No dia anterior, o comando da Polícia Militar Rodoviária Estadual, reuniu-se com os organizadores e explicou detalhadamente que deveriam retirar seus tratores do local ou levariam multa diária de R$ 5 mil reais cada liderança, que foi devidamente identificada pelo B.O. registrado pelos soldados. Sendo que essas multas seriam aplicadas desde o dia 24/05. Diante desse fato, em comum acordo com todos os produtores rurais participantes, eles decidiram encerrar o movimento. Como explicou, em uma entrevista exclusiva para o Jornal Pires Rural, o produtor Mário Barbosa e Pedro Zanarelli, advogado do Sindicato Rural Patronal que estava dando suporte aos produtores. Mário relata, “em conjunto decidimos, nesse momento, dar uma trégua em nossas manifestações. Tudo o que apoiamos e conseguimos, até a data de hoje, foi muito importante. Mas percebemos que a coisa está caminhando e fugindo um pouco do controle, de que não esperávamos, como chegar a faltar alimento nas prateleiras dos mercados e isso aí pode acarretar problemas maiores e prejuízo para o país todo. Não era esse nosso objetivo, o governo está oprimindo, não está atendendo as reivindicações, por enquanto a decisão do grupo da agricultura da cidade de Limeira, é recuar, é esperar e aguardar. Porque, o que a gente menos quer é uma revolução, uma guerra civil ou luta entre classes dentro do país. Isso a gente não quer de forma alguma”, afirmou. Segundo o advogado Dr. Pedro, “havia uma ação de interdito proibitório, movido pela concessionária Autoban, que proibia as pessoas de permanecerem no local e que qualquer acidente ou problemática que ocorrer, poderia haver uma solidariedade do pessoal do movimento. Analisando essa ação e conversando com os produtores, nós decidimos dar uma repensada nisso tudo, porque realmente não houve nenhuma interrupção da via, o pessoal só estava nesse movimento, pra fazer seu protesto, sua indignação, com a situação, realmente difícil que passa o agricultor, junto com os caminhoneiros, pela alta dos combustíveis”, detalhou o advogado. 

Ficou na história. Uns terão bons aprendizados e outros doloridas lembranças. Os tratoristas retiraram suas máquinas do local e seguiram para suas propriedades, para travar a luta diária de sol a sol. À sociedade cabe esperar o dia de amanhã, para ver como se recompor desses dias de paralisações e a influência que teve em seu cotidiano. Os vídeos desses dias de manifestações podem ser conferidos em Rural Vídeos Br, nosso canal no YouTube: https://www.youtube.com/c/ruralvideosbr, aproveite e faça sua inscrição.

Tratores na rodovia Anhanguera

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *