Jornal Pires Rural – Edição 207 | ÁGUAS DA PRATA, Dezembro de 2017 | Ano XII

O 1º Workshop de Olivicultura Nacional, promovido pela Fundação Oliveiras do Brasil, foi realizado na cidade paulista de Águas da Prata, teve como meta trazer conhecimento aos produtores sobre novas tecnologias, manejos das oliveiras e questões do mercado de azeite.

O workshop também marcou o primeiro ano de criação da Fundação Oliveiras do Brasil e a palestra inicial foi de uma de suas fundadoras, Ramute Jaloveckaite, ela é lituana e tem formação acadêmica em Administração de empresas, pelo KTU (Kaunas University of Technology – Lituânia), Economia e Auditoria pelo VU (Vilnius University – Lituânia), Gestão de negócios pelo Norwegian Business School e engenharia agronômica pela faculdade Cantareira de São Paulo, onde também leciona.

Ramute abordou diversos aspectos ligados a produção de azeitonas no Brasil, motivada pela qualidade que a olivicultura nacional tem como o aroma, frescor e princípios medicinais. A especialista fez uma síntese de suas pesquisas sobre o histórico da olivicultura no Brasil e norteou os pontos fortes, desafios, ameaças, fraquezas e oportunidades que a produção de azeite traz para o Brasil. Ela diz: “tive uma experiência por mais de 12 anos na área médico-hospitalar, na elaboração de polos industriais para a fabricação de equipamentos cirúrgicos descartáveis, com tramites para aquisição de registros, licenças de funcionamento, registro de produtos e outros tramites ANVISA, mas mudei meu perfil de trabalho entrando no agronegócio e, entreguei meu profissionalismo e conhecimento para as oliveiras, para dar continuidade nos bons resultados do setor”.

Variedades
A oliveira é mundialmente conhecida por ser uma planta símbolo de glória, paz e prosperidade. Desde a década de ’60 no Brasil, há relatos de plantio de oliveiras por diversos estados como Pernambuco, Maranhão, Ceará e Manaus com mais de 40 variedades produtivas. Hoje, porém, temos 3 principais variedades e “não se fala mais de outras”: Arbequina, Koroneiki e Arbosana. Ramute conta que existem muitos gargalhos no Brasil, entretanto, ela enxerga um potencial de crescimento da produtividade das oliveiras nas condições brasileiras.

“Somos o segundo mercado consumidor de azeites do mundo. O mercado nacional da olivicultura precisa ser produtivo para ser viável e o conhecimento é que traz essa possibilidade. Temos muitas pesquisas ao redor do mundo mas, no Brasil não temos números e pesquisas sólidas. Estamos no ‘olhomêtro’, não é assim que tem que caminhar o setor. Um dos motivos da criação da Fundação Oliveiras do Brasil é ir atrás de universidades para criar núcleos de estudos das oliveiras. Precisamos de empresas que tragam soluções mecanizadas como colheitadeiras, porque é escassa a mão de obra em todas as fazendas que trabalhamos. 90% do trabalho da Fundação é na recuperação de olivais improdutivos e o primeiro passo para o sucesso de cada empreendimento é a definição de metas para delinear o plano de ação, compreender as necessidades do negócio, pesquisar e integrar a tecnologia e conhecimento para que o setor possa crescer. A Fundação tem foco na produtividade, o Brasil tem todas as condições para se tornar auto-suficiente nos azeites. Não pensamos na exportação, pensamos no mercado interno, um mercado muito promissor para quem entrar”,destacou Ramute.

Coleta de dados
Segundo suas informações, temos no Brasil 400 produtores, 4 mil hectares com 1.664 milhão de plantas, 97 mil litros de azeites extraídos na última safra, 950 toneladas de azeitonas e uma previsão para a safra nacional em 2018 de 200 mil litros de azeites. Podemos distinguir, hoje, duas principais regiões brasileiras: as fronteiras dos estados de MG/SP/RJ que compreende Sul de Minas, Mantiqueira e parte alta de Petrópolis e a região sul do Brasil (PR, SC E RS).

Na região de MG/SP/RJ existem cerca de 180 produtores, espalhados por 50 municípios, com 1.800 hectares plantados, 700 mil árvores e 13 centros de extração (lagar). Na região sul do Brasil são 160 produtores, espalhados por 55 municípios, com 2.000 hectares plantados, 8 centros de extração, totalizando 13 marcas próprias de azeites. São 3 as cidades que se destacam: Caçapava do Sul, Pinheiro Machado e Cachoeira do Sul, localizadas ao longo da fronteira com o Uruguay, contando com apoio nas práticas e conhecimento de técnico uruguaios.

“Eu busco as informações em reportagens, no Youtube, em publicações, depoimento de produtores de referenciadas fazendas. Os números que apresento são meus, eu que cheguei a entender onde está a oliveira nacional. Em agosto desse ano, em uma reunião no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), foi discutido os mesmos assuntos que foram discutidos 10 anos atrás. Os mesmos problemas, que não foram resolvidos como o cadastro nacional sobre a produção de oliveiras, estoque total, produtividade, quanto se colheu de azeitonas, qual a porcentagem de azeite sintetizado, quais as normas de produção integrada para a cultura de oliveira. Foi assunto há 10 anos e ainda não resolvido questões de importação, liberação de material genético de oliveiras, recursos genéticos e bancos de germoplasma, zoneamento edafo climático da oliveira e vigilância fitossanitária, nada registrado na parte de insumos e defensivos, agroquímicos para as oliveira”, afirmou Ramute.

Por outro lado, o Brasil, como segundo maior consumidor está na mira de países que exportam seu azeite. São necessários 50 mil toneladas de azeite extra virgem para atender a demanda de nosso consumo anual. Portugal é o país que mais vende azeites para o Brasil, representa cerca de 60%, a Espanha exporta 20% de nosso consumo, Argentina 7,4% e a Itália 6,4%. O Peru exporta para o Brasil as azeitonas de mesa. Ramute apresentou fotos dos olivais onde, juntamente com Celso Camilo Ribeiro, agrônomo e outro fundador da Fundação Oliveiras do Brasil prestam a assistência técnica. Com experiência de 10 anos, citava números onde mostram que o plantio está crescendo e afirmou que aquela estória que jamais se viu a oliveira produzir no Brasil são totalmente de fundo políticos. “Se a nossa olivicultura não desenvolve, os países que exportam azeites para o Brasil batem palmas, se a gente briga e não somos unidos, eles batem palmas. Quem perde é o consumidor brasileiro. É um setor que representa mais de 1 bilhão de reais ao ano. A oliveira é uma planta fantástica, não existe outra que consegue mostrar resultados em tão pouco tempo. A maioria dos casos que assistimos é falta de conhecimento em entender o que a planta necessita ao longo do ano. Quanto mais novo o olival menos concentração de azeite nos frutos. Os olivais no Brasil são jovens, tem no máximo 12 anos, por isso temos uma porcentagem pouquíssima de óleo nas olivas. A maioria tem 6% e o máximo que conseguimos foi 11%, em outros países chega a 28%. Entretanto, as oliveiras brasileiras tem mais produtividade comparada com Grécia, Itália e Tunisia. Aqui no Brasil a oliveira tem um comportamento diferente, ela vegeta mais, ela cresce mais, ela tem um vigor maior e o nosso desafio para torna-la produtiva é através dos meios estressantes”, ela declarou. Outro desafio na produção de oliveira em nosso país é quanto ao clima, o período de floração coincide com o clima seco que vai de maio a outubro e a colheita acontece na época de chuvas, entre fevereiro e março, isso não pode ocorrer porque causa diminuição do óleo no fruto. “É preciso planejar a colheita para ter bons resultados e, na florada, um período tão importante, precisamos suprir as necessidade das oliveiras. Ainda temos pouca tecnologia disponível, é preciso chamar empresas da área olivícula de fora do Brasil”, orientou.

Mãos à obra
Segundo Ramute, como as instituições públicas do governo não fazem nada, não incentivam a produção e também não fazem nada em relação as pesquisas, os produtores começam a fazer. Ela citou um produtor de soja de Maringá – PR que quer produzir o próprio azeite de diversas variedades, plantadas em diversos espaçamentos. São 10 hectares de um olival experimental e as plantas estão com um ano e meio. “Para montagem do olival primeiramente deve-se levar em conta dois fatores; o espaçamento das plantas e a correta posição do olival no sentido norte-sul. A variedade Arbequina tem um crescimento muito vigoroso, requer um espaçamento de 5m por 6m, assim também é com a Koroneiki, de crescimento mais vigoroso ainda, ficando num espaçamento de 6m por 6m. Já a Arbosana é pequenina, porte baixo, muito produtiva e pode ficar em 4m por 6m. Também sugiro estudar muito bem o projeto antes da implantação e do planejamento. A nossa preocupação é aumentar a produtividade para atender o mercado interno de azeites. Temos uma meta para alcançar na Fundação, elaboramos um plano de ação para viabilizar a produção de 16 toneladas de azeite em 8 anos. Escolhemos 3 lugares para comprovar nossas metas; a fazenda Irarema em Poços de Caldas, a fazenda São Miguel Arcanjo em Águas da Prata e nossa fazenda experimental da Fundação Oliveiras do Brasil que fica em Aiuruoca – MG. Temos o objetivo de produzir um azeite premium e suprir as necessidades internas e diminuir gradativamente os azeites importados de outros países, adulterados 3 a 4 vezes até chegar na nossa mesa” esclareceu.

Apesar de muitos desafios no setor de olivicultura no Brasil, Ramute vê mais oportunidade do que obstáculos, ela cita, por exemplo, a grande demanda do mercado interno, que está em crescimento devido as dietas alimentares e a prevenção de doenças cardiovasculares e obesidade, e ter como indicação o uso de azeite para sua prevenção. O pioneirismo de um país que está começando o cultivo, onde tem poucos produtores com uma grande demanda e produtos de primeira qualidade sempre estarão em evidência. O plantio de oliveiras é um plano de negócios para longos anos, de pai para filho, de filho para neto e de neto para bisneto. Ainda tem as oportunidades que o negócio trás como fornecimento de mudas, assistência técnica no manejo, cursos, workshops, feiras, eventos, pesquisas, produção de azeitonas, produção de azeite a granel, azeites de alta qualidade, os centros de extração com marca própria, que podem receber turistas e vender subprodutos do azeite como sabonetes, chás das folhas de oliveiras, etc. Não resta dúvidas que é um mercado abrangente e promissor basta apenas ter um reconhecimento do governo, e ele cumprir com seu dever regulamentador para fluir os investimento por parte das empresas e produtores.

16 toneladas
Para encerrar sua explanação Ramute detalhou o plano para atingir a meta de 16 toneladas de azeites em 8 anos. “A meta de 16 toneladas será por etapas, de acordo com um plano de ação. Teremos a primeira safra no terceiro ano após o plantio”, disse Ramute. Os cálculos que ela fez foi para as 3 variedades já citadas mas, destacamos a Arbequina, sobre uma área de um hectare, lembrando que a área mínima para ter sucesso na cultura tem que ser 10 hectares. Vamos aos números: na primeira safra, a produção por planta será de 5kg, a porcentagem de rendimento de azeite no fruto fica em 9%, o espaçamento do olival 6m por 5m, serão 334 plantas por hectare e a produtividade de azeitonas 1.670 kilos. Serão 150 litros de azeite por hectare, se forem vendidos a um preço mínimo de R$50,00 por litro, totaliza R$7.500. Cada árvore produzirá 450 ml de azeite. Custo da colheita R$2.004,00 que equivale a 100 kg por dia, por pessoa. O custo da extração equivale a 15% da produção, ou seja, 22,5 litros ou R$1.125,00. Custo com o terceiro ano do olival R$22.724,18. Nessa primeira safra, também corresponde a primeira entrada de rendimentos R$7.500. Se somarmos os custos do ano com manutenção do talhão, colheita e extração totaliza R$25.853,18, descontando a venda do azeite R$7.500, ainda fica um deficit de R$18.353,18, sem falar nos investimentos na implantação do olival e os dois anos seguintes.

No oitavo ano, esse mesmo talhão, será a sexta safra e a previsão de seus números são: produção por planta de 60kg, a porcentagem de rendimento de azeite no fruto fica em 11%, a produtividade de azeitonas 20.040 kilos. Serão 2.204,4 litros de azeite por hectare, se forem vendidos a um preço mínimo de R$50,00 por litro, totaliza R$110.220,00. Cada árvore produz 6,6 litros de azeite. Custo da colheita R$24.048,00 que equivale a 100 kg por dia, por pessoa. O custo da extração equivale a 15% da produção, ou seja, 330 litros ou R$16.530,00. Custo com o oitavo ano do olival R$14.920,56. “A entrada de R$110 mil é a nossa perspectiva de viabilidade econômica, ainda assim coloquei o valor de venda do litro, o mais baixo possível para não criar falsa expectativa. O negócio de olivicultura é muito trabalhoso, muito estudioso. Iniciamos a aplicação de nossa teoria na fazenda experimental em Aiuruoca e na fazenda Irarema, vamos rever anualmente os valores em cada evento que a Fundação realizar”, assim finalizou Ramute.

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