A cidade de Guapiara no interior de São Pulo é intitulada a “capital da agricultura” e, duas moradoras dessa cidade estiveram visitando a Hortitec em Holambra (SP), momento no qual tivemos a oportunidade de entrevista-las. Assim como aconteceu com outros dois moradores de Naviraí, no Mato Grosso do Sul, para traçar sua impressões do momento atual com o trabalho no campo, na comercialização da produção e também à busca por novidades e tecnologias na Exposição Técnica de Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas Intensiva – Hortitec.
Benedita Adriana Laveli Horie e Erica Laveli são cunhadas e moram na cidade de Guapiara, distante 300 km de Holambra. Durante nossa conversa, uma completava a resposta da outra, que revelaram ser “a primeira vez” que estavam em Holambra e vieram por “participar direto dos estudos do Sebrae, incentivado pela Regina Colhassi, Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento de Guapiara”. O vínculo com a agricultura é de berço, “somos nascidas e criadas na propriedade”. Destacam que lá é uma “região de lavoura, tomate, pimentão, uma cidade agrícola, para hortifruticultura. Guapiara é região fria e montanhosa, boa de água, próximo de Capão Bonito (SP), região do Vale do Ribeira. Produzimos tomate cerejinha, pêssego, ameixa, vagem e pimentão. A produção é enviada para São Paulo e Rio de Janeiro”. Dizem que além de comercializar nos mercados, “somos cooperados e vendemos para a merenda escolar e PAA”. Perguntamos sobre como foi enfrentar o período de maior restrição da pandemia, “a pandemia atrapalhou bastante as vendas da produção, só agora melhorou. Antes da pandemia a gente plantava em Guapiara e levava para a merenda escolar de Sorocaba (SP) e no PAA para a cidade de São Paulo, mas esse negócio da pandemia parou tudo. Antes saiam muitos caminhões cheios. Como a região é só agricultura não pôde parar. Na verdade fábrica lá não tem, trabalho é só área rural, e produz de tudo. Como agora é inverno, não tem nada plantado em nossas terras, vamos começar depois de setembro”, explicaram e afirmaram ainda, que os vizinhos têm muitos pomares de frutas e “está geando em nossa região. Temos visto que os vizinhos que plantam pêssegos tem colhido mais cedo”, revelaram.
Também abordaram que impacto na elevação dos preços dos insumos está preocupando a família na continuidade da atividade agrícola, “o custo está muito difícil. Vamos ter que estudar como continuar pois, deu alta (de preços) em tudo, os adubos e os venenos estão muito caros. Deixar a terra preparada para o plantio está ficando caro para as pessoas em geral, em toda a região. Ainda não sabemos como vamos fazer, porque cada vez está dificultando mais, com a subida dos preços. Como lá a região é boa, produz muito, a vida toda foi assim, tem esse lado bom de ser uma região produtiva. Só que (o volume) da produção está bem mais baixo comparado com antigamente, o custo está muito caro e, isso impede as pessoas de formar a lavoura”, explicam.
“Na viagem, viemos reparando que aqui é fraco de água e só tem produção mais para esse evento, fora isso horta não tem muito. Temos a referência de lá, que é mais alimento, aqui é mais cana-de-açúcar”, disse Benedita Adriana.
Erica completou, “viemos aqui em Holambra em busca de conhecimento, para ver como é, através da Secretaria de Agricultura, eles marcam e trazem a gente, já levou pra bastante lugar, veio um ônibus completo. Temos incentivo da Prefeitura, do governo, eles correm muito para as pessoas ir pra frente. Leva o engenheiro agrônomo, querem valorizar cada vez mais as propriedades. Achei interessante a feira, sei que muitos vem pra aprender mais sobre agronomia aqui e, aquele que tem interesse de progredir, estuda bastante para entrar na feira, porque serviço pelo que eu vi tem bastante, em todas as áreas. Eu até estava falando que é bom os filhos da gente estudar bastante que pega esse ramo, daí podem levar os estudos para lá. Ah! Também tem os alimentos que chamaram a atenção, o tomate estranhei tamanho, é bem interessante. Os maquinários tem bastante coisa nova que não conhecia. Como foi a primeira vez, nós gostamos! Quando as coisas estão andando assim, é sinônimo de prosperidade, é o futuro pra frente. Nossos filhos estão crescendo, isso é bom que tem campo pra tudo”, finalizou.
Cenário do Mato Grosso do Sul
Paulo Afonso Pereira vem de família de agricultores da cidade de Icaraíma (PR), e a sua propriedade se localiza na cidade de Naviraí (MS), foi adquirida no assentamento da reforma agrária. As cidades de Icaraíma (PR) e Navirai (MS) são distante cerca de 92 km. No Mato Grosso do Sul, Paulo diz plantar hortaliças e frutas e revela que “é a sétima vez que vem visitar a Hortitec, através de excursão”, que têm como pouso, de três dias, a cidade de Cosmópolis (SP).
Paulo disse ter notado diferença entre antes da pandemia e o momento atual em relação ao movimento da Hortitec, “pode ser que esse ano teve bastante gente mas, não foi aquele foco forte quem nem era os anos passados. Até a visita a campo que fizemos, percebi que foi reduzido o plantio lá no campo. Acho que não aumentaram com medo, de talvez, a pandemia voltar de novo e não ter como mostrar nada. A feira está boa, bonita, só que o número de pessoas a gente vê que é bem menor, em vista dos outros anos. Eu vim em busca de conhecimento e sempre achei, por exemplo, na parte de mexer com maracujá, às vezes que eu levei semente daqui sempre deu certo”, explicou. No trato cultural disse fazer manejos diferenciados com a capacitação pelo Senar, inclusive, estava em companhia na excursão, do pessoal do Sindicato Rural, afirmando que “a assessoria do Senar, pelo Sindicato, já está com dois mandato junto da gente, dando assistência”.
Durante a pandemia Paulo passou por momentos difíceis pois, teve que diminuir sua produção, “minha produção é maracujá e pepino. Pela associação entregamos na merenda escolar e PAA, na pandemia entregamos através dos Kits, duas vezes por mês, a demanda foi pouquinho. Reduziu tudo, aí a gente teve que parar de produzir para não perder a lavoura. Fomos mexendo na terra, plantando um feijão catador e outra coisa ir virando para subsistência”, contou.
Esse ano teve novidades na Hortitec, “encontrei uma tecnologia na parte de adubação que não vi nos outros anos. Assim, talvez eu não passei nos outros anos nessa parte de produção, pude ver com mais calma, como se faz, como é o melhoramento. Acho que ficou mais fácil conversar com as pessoas expositoras pois, teve uma boa reduzida no número de visitantes. Foi bom que vamos levar bastante material e conhecimento. Isso que é importante”, destacou.
Ele acrescentou que “esse ano as despesas na lavoura está quase o valor da produção, se não souber trabalhar fica no vermelho. Com tudo que agente sabe produzir, as despesas sempre está mais alta, tem que saber reduzi-la. Acho que essa pandemia já afastou e não vai voltar mais. Daqui pra frente eu acredito que tudo vai melhorar. As vendas já aumentaram 80%, o momento é; o que produzir vende. Voltamos a entregar na merenda, duas vezes por semana, são oito mil alunos na escola, graças a Deus! O que estou produzindo também tem abastecido os supermercados da nossa cidade. Estamos há 350 km de Campo Grande (MS), que tem CEASA e a 160 km de Dourados (MS) que está montando um CEASA, esse local fica mais fácil pra gente e estamos pensando em partir para uma produção maior”, disse, pensando no futuro.
Outra visitante que conversamos foi Valdirene Ribeiro, secretária do Sindicato Patronal de Naviraí (MS) e mobilizadora do Senar na região. A cidade de Naviraí tem uma população em torno de 50 mil habitantes e uma economia mista entre indústria e agricultura, eles nos contaram que em “cada ponta de avenida tem uma banquinha de produtor rural, que vem lá do sítio vender a verdura. Tem um balcão municipal, tem várias feiras pela cidade e tem gente montando estufa dentro da cidade também”, acreditam que tem espaço pra todo mundo.
“Nossa pecuária era bem avançada anos atrás”, revela Valdirene, “mas agora a agricultura está tomando espaço. Lá é lavoura de soja, milho, cana, mandioca. Temos um assentamento rural chamado Juncal, com vinte anos, sendo composto de 113 famílias. No município vizinho de Itaquiraí (MS), tem um assentamento grande chamado complexo Santo Antônio, onde têm mil e duzentas famílias assentadas, há doze anos. São parceiros do Sindicato, juntamente com a Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) e a Prefeitura, nós levamos capacitação lá. O conhecimento é a base de tudo, no momento que tem o conhecimento a pessoa deslancha”, ela destaca.
Paulo, conta sobre a sucessão familiar na agricultura naquela região, “são poucos os meninos que estão ficando na lavoura, mas porque a criançada não entendeu. A partir da hora que eles começarem a ver um dinheirinho na mão, aí eles se animam. Hoje a coisa vai evoluindo, tem que evoluir, se não fica parado no tempo. A gente tem a propriedade, na hora que eu faltar eles vão vender, não sabem fazer nada, mas vamos levar alguns folhetos pra deixar nas escolas pra molecada, ir olhando, são ilustrativos, é uma maneira de expandir esse conhecimento, temos que trabalhar essa geração”, definiu.
Valdirene, faz o balanço da visita, “é a primeira vez que venho para a feira (Hortitec), isso é um suporte aos produtores. Eu também sou produtora juntamente com meu marido, produzimos soja e milho. Nosso sítio fica no assentamento, mas também somos arrendatários de outras áreas. Eu gosto de horta e tenho uma pequena produção. Dou os parabéns aos organizadores da feira. Acho que todo ano deve mudar alguma coisa, pra gente achar uma novidade. É igual aos cursos nossos lá, vai um monte de gente e sempre uma semente vai germinar. Isso que importa. Se uma germinar pra nós, já estamos no lucro”, concluiu.