Jornal Pires Rural – Edição 213 | PIRACICABA, Março de 2018 | Ano XII

Julio Pupim, autor da foto acima, foi um dos idealizadores do ciclo de oficinas sobre abelhas nativas, que ocorreu no SESC de Piracicaba e foi dividido em 3 encontros. A atividade contou com uma introdução teórica sobre as abelhas e um relato detalhado das espécies que ocorrem em nossa região, juntamente com uma oficina específica para construção de ninhos com materiais locais e naturais. Julio destacou; “70% dos alimentos que chegam a nossa mesa só é possível porque são as abelhas que fazem a polinização e ainda, sendo as abelhas também responsáveis pela existência de 90% das matas e florestas”, leia mais.

Julio Pupim

O SESC de Piracicaba recebeu o ciclo de oficinas sobre abelhas nativas, da introdução a criação, dividido em 3 encontros de explanação sobre o tema das abelhas brasileiras. Em cada encontro uma introdução teórica sobre as abelhas e um relato detalhado das espécies que ocorrem em nossa região, juntamente com uma oficina específica para construção de ninhos com materiais locais e naturais. Enfatizando o importante dado de que 70% dos alimentos que chegam a nossa mesa só é possível porque são as abelhas que fazem a polinização e ainda, sendo as abelhas também responsáveis pela existência de 90% das matas e florestas, um dos idealizadores da atividade, Julio Pupim, destacou modos relevantes do comportamento dessas abelhas.
Julio apontou que “70% da polinização das flores depende das abelhas. Apenas 30% são polinizados pelo vento, como é o caso do milho e da soja transgênica. Então, podemos supor que toda a indústria da mecanização, os grandes engenheiros, as grandes indústrias do setor da monocultura tentam desenvolver e ampliar uma tecnologia que não é boa para a bacia hidrográfica (a manutenção das matas) e não pensa no polinizador (as abelhas). Milho e soja são polinizados pelo vento, não dependem de um polinizador direto. Mesmo assim, pesquisei estudos que comprovam que as abelhas contribuem com 20% da produção de soja mas, quando entra em contato com as flores da soja depara com o veneno. Pensar sobre isso é revermos nossa forma de consumo e a forma como usamos o quintal da nossa casa”, observou.

Julio Pupim, destacou modos relevantes do comportamento dessas abelhas.
Julio Pupim, destacou modos relevantes do comportamento dessas abelhas.

Polinização
“A abelha ao sair de seu ninho, independente se ela vive em grandes colônias ou é solitária, sai em busca de um recurso alimentar, elas se interessam por flores de famílias vegetais que evoluíram juntas, uma relação de muito tempo de contribuição mutua”, ele falou. Basicamente no Brasil existem 5 subfamílias de abelhas; Apinae, Andreninae, Colletinae, Halictinae e Megachilinae. Julio mostrou exemplos de plantas das famílias das Asteraceae (do grupo do girassol, crisântemo) e disse, “observando a base do botão floral, onde as abelhas são atraídas, é a parte da planta onde ela oferece o recurso do néctar. As abelhas acabam se sujando do pólen e ao voar para outra flor, de forma eficiente, leva o grão de pólen de uma planta a outra”, comentou.
Descrevendo o caso do maracujá, que floresce a partir de setembro, sendo polinizado pela abelha Xylocopa (a mamangava, nome popular mais conhecido), Julio cita que a flor do maracujá tem duas estruturas, uma mais amarelinha e outra, que fica na parte de baixo, é verde. “É uma estrutura que tem o masculino e o feminino na mesma flor. A parte masculina, onde contém o grão de pólen (a parte mais amarelinha) a gente chama de antera e a parte mais verde é o estigma — isso é uma ocasião de polinização. Tendo essas duas partes, teoricamente, poderia ser feita a auto polinização, só que o pólen dessa mesma planta é incompatível pra ela. Então, pra não ocorrer incompatibilidade de pólen é preciso plantar várias mudas de maracujá e, a abelha vai migrando de uma planta pra outra transportando pólen. A costa da abelha fica toda amarelinha, não é só grão de pólen de uma única planta. Se fosse de uma única planta não fecundaria a flor. A flor permaneceria aberta e não daria certo. A polinização é o transporte de pólen da parte masculina pra parte feminina” explicou.
“Observando a flor-borboleteira vemos uma planta de estrutura mais fina na ponta, e uma estrutura mais escura nas laterais. A estrutura feminina é uma só e a masculina tem duas. Nessa flor ocorre auto polinização — você pode ter uma planta só, que a mamangava visita também e, ao pousar na flor a parte masculina encosta e suja a costa do polinizador”, exemplificou.
Julio esclareceu que as abelhas Xylocopas são abelhas solitárias, não guardam mel e fazem ninhos na madeira. “Imaginemos que durante três meses o maracujá vai estar florido e lindo. As abelhas serão atraídas pois, só buscam as flores para alimentar as crias, elas não só consomem o recurso do maracujá então, elas vão migrar para outras flores. Se em nosso quintal tivermos o recurso da crotalaria, que oferece a flor fora de época para a abelha, evitaria que elas migrariam para uma mata vizinha, mais longe, aí só retornando no ano seguinte, quando tivesse novamente a flor do maracujá. Então, quando penso em abelha, a primeira coisa é a diversidade de flores, das famílias vegetais. Se está faltando o polinizador no maracujá, temos que entender que pode estar faltando o recurso da diversidade vegetal”, Julio ressaltou.

Vegetais atrativos
Outros exemplares vegetais que são atrativos para as abelhas nativas, foram mostrados por Julio, como por exemplo um galho florido do ingá, “fruto nativo, uma leguminosa, de uma outra família vegetal, com uma estrutura de flor bem diferente e uma característica interessante na folha”, afirmou e continuou, “a flor da crotalaria (não é comestível) é muito importante para adubação verde, para sistema de agrofloresta, para quem quer manter o polinizador ativo no local é um ótimo recurso. A malvasia (quiabo), é uma outra planta da mesma família que é o algodão, o fruto do algodão depois de maduro ele produz a lã. Os polinizadores é um grupo de abelhas bem interessante. A Convolvulaceae atrai um grupo diferente de abelhas, tem suas flores em forma de cone”, apontou.
Concluindo, Julio apontou que “pra saber se a planta está sendo polinizada, porque temos os recursos, as plantas e flores, teoricamente as abelhas serão atraídas mas, cada flor tem uma característica e se, por exemplo, quisermos saber de maneira técnica se uma plantação de tomate está sendo polinizada, temos que entender a estrutura da flor”, salientou.

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