Susie e Daniel Martins residem no bairro dos Pires de Baixo há nove anos, ela aposentada, ele tem mobilidade reduzida e faz uso de cadeira de rodas. O casal produz frutas na propriedade e comercializam bolos, geleias, licores, molhos na Feira do Produtor Rural de Limeira. A propriedade foi atingida por um incêndio no dia 13 de setembro. Logo pela manhã o casal já avistava as chamas em outras propriedades. Daniel fez a primeira ligação solicitando os Bombeiros às 10 horas. E nada. Mais ligações e nada. Susie conta: “O incêndio foi comentado no grupo de WhatsApp da Associação do bairro dos Pires. Eu achei que iam apagar onde foi iniciado. Só que, de repente o fogo ficou tão alto, deve ter pego um bambuzal”. Daniel complementa: “Eu entrei em desespero, liguei pro meu enteado: vem nos ajudar aqui porque o fogo está chegando próximo e está queimando tudo. O fogo chegou com tudo na mata ciliar e subiu 250 metros queimando tudo o que tínhamos de pomar já produzindo: amoreira, bananeiras, maracujá, cerejeira, atemoia, pequena roça de abacaxi, goiabeira. As minhas mudas grandes de guariroba foram todas queimadas. Só não queimou a casa que fica no pomar porque tinha hera plantada na parede – queimou a planta e não queimou o telhado”.
“Ele estava desesperado, não saia do chão, então, eu coloquei ele no carro. A minha vizinha me orientou sair porque o fogo ‘voa e pula’, podia queimar o telhado da nossa casa. De carro, fomos pra casa vizinha, no caminho, encontrei outro vizinho paramos pra conversar e ele nos disse: ‘Não vai não. Vamos apagar esse fogo’. Voltamos pra casa e usamos a água da piscina – quatro mil litros. Apagamos o fogo antes de chegar na casa porque não tinha o que queimar – eu tinha passado a roçadeira”, contou Susie. “O meu enteado chegou junto com o Bombeiro às 16 horas”, afirmou Daniel.
O casal acredita que o mais importante é a conscientização das pessoas para não atear fogo de forma alguma. Mas, como presenciam os incêndios recorrentes ano a ano, Susie diz que alguma atitude tem que ser tomada. “A gente precisa de uma fiscalização melhor. Alguma atitude tem que ser tomada quando inicia a estiagem”, afirmou.
A área rural do município de Limeira sempre teve problemas para serem resolvidos pelo poder público, mas com o avanço desordenado da venda de sítios para os loteamentos irregulares, os problemas se multiplicam dia a dia. Quando o prefeito Mário Botion foi eleito afirmou que as pessoas não pedem coisas ou obras impossíveis de serem realizadas. Em 2024, temos uma cidade inteira com problemas possíveis de serem administrados e um ingrediente a mais, que impõem desafios nunca antes enfrentados; as mudanças climáticas.
O bairro dos Pires é o bairro que ocupa o ranking dos sítios que foram loteados à margem, na clandestinidade. A associação dos Amigos do bairro dos Pires reivindica também a construção de um portal na entrada do bairro, mas nos últimos anos o símbolo instalado na calada da noite foram caçambas para abrigar o lixão. Segundo a vice-prefeita e candidata Erika Tank: “O município já fez o depósito em juízo referente a área da desapropriação para resolver o problema. O juiz pediu uma avaliação. Toda a parte de projetos, burocrática está pronta. Poderia até dar ordem de serviço, mas enquanto o terreno não tiver como propriedade do município ainda não pode fazer”.
E nessa eleição de 2024, quando todos iremos às urnas eleger o próximo grupo de partidos que comandarão o orçamento de mais de 2 bilhões de reais através de um candidato eleito, a Associação dos Amigos do bairro dos Pires recepcionou os candidatos à prefeitura de Limeira. Murilo Félix, Betinho Neves, Luiz Mitsunaga, Erika Tank estiveram nas dependências da Igreja Santo Antônio para explanar o plano de governo em reuniões aberta a todos interessados, com início no dia 10 de setembro. Ali, o presidente da associação, Danilo Fischer, sabatinou os candidatos em dias diferentes, com temas relacionados a educação, saúde, agricultura, segurança, assistência social, transporte, mudanças climáticas.
Sobre os loteamentos clandestinos, dos sítios que foram vendidos pelos agricultores, disseram os candidatos: Erika Tank: “A prefeitura só pode embargar. Todo o processo ocorre no judiciário. Manter as pessoas em cada uma das suas terras é de suma importância. Quero criar dentro da Secretaria de Abastecimento um departamento somente pra agronegócio. Pra manter as pessoas que trabalham na terra, não precisem vender a sua terra para outra pessoa que muitas vezes acaba picotando”, e Luiz Mitsunaga: “Vou fazer o programa regulariza”.
Luis Carlos Nicola, morador bairro do Pinhal, na LIM 235 trouxe sua reivindicação, “Lá tem o Centro Rural, a escola e, está tendo uma feira, então, já tem um movimento de carros, de ônibus escolar. Mas depois que duplicaram a rodovia Limeira – Mogi Mirim, a entrada para o bairro ficou longe, o retorno na antiga Usina Tabajara. O movimento na LIM 235 aumentou demais, é impressionante. Os motoristas não fazem o retorno pra entrar no Pinhal, eles vão desviando pelas estradas municipais. Eu já pedi uma solução várias vezes, na semana antes da reeleição (2020) eu consegui que fizessem duas lombadas, mandaram eu colocar as placas. Já aconteceram dois acidentes. O que a prefeitura tem feito é jogar pedras e passam um rolete com a terra seca, já perdi pneu novinho por causa disso. A noite é um perigo porque passam carros em alta velocidade, os ciclistas, as charretes, gente a pé; sem segurança. Virou uma via alternativa por causa da duplicação e do retorno ser longe. Já falei com vereador e não resolvem nada”, contou.
Outro eleitor presente foi Zé Barbosa. Ele participa da conversa e compartilha sobre as mesmas solicitações, reside no mesmo bairro, na estrada LIM 124. “Lá tem muitas chácaras, uma poeira danada, dizem que não pode mais fazer lombadas. Os nossos pedidos na última eleição não foram atendidos. Eles (políticos) só aparecem nas festas da área rural. Acabou a festa, foi eleito, não aparecem nem pra fazer uma visita durante os quatro anos”, destacou.
Adriana e Maurício Delgado, residem no bairro dos Pires de Baixo há quatro anos e demonstram preocupação quanto à gestão do próximo prefeito. “Na última eleição a gente pedia pelo recapeamento da via Santo Antônio e da via Martin Lutero. A manutenção das estradas deveria ser constante, principalmente por causa do transporte urbano e escolar. Outra reivindicação é a fiscalização da venda de terrenos clandestinos. Se na cidade a prefeitura faz uso do drone pra fiscalizar a área aumentada pra cobrar o IPTU, aqui não fiscalizam por que?”, questionou.
O assunto sobre transporte público na área rural foi apresentado o problema da irregularidade e do horário. Para quem trabalha no comércio à noite não pode usar o transporte público para voltar pra casa. Já o transporte escolar está operando de forma precária e inadequada. Nesse item, expressaram os candidatos; Luiz Mitsunaga: “Vou fazer o tarifa zero”. Murilo Félix: “Vocês precisam cobrar todos os vereadores que votaram para tirar verba da educação pra dar pra empresa de ônibus”. E sobre transporte escolar: Erika Tank: “Precisamos avançar com uma nova licitação”.
O tema agricultura é amplo, envolve desde a atividade de agricultor; o escoamento de produção; a manutenção de estradas, pontes, acostamentos, cacimbas; turismo; escassez hídrica. O que disseram os candidatos Erika Tank: “Estamos inscritos junto ao governo do Estado para a troca das pontes. Vamos criar um departamento específico para o agronegócio. A gente não consegue comprar para a merenda o tanto que a gente poderia comprar da nossa área rural por falta de documentação. A gente precisa de uma associação”.
Luiz Mitsunaga: “Vou separar as Secretarias de Meio Ambiente e Agricultura e cuidar das estradas rurais de forma contínua”. Murilo Félix: “Vou separar a Secretaria da Agricultura do Meio Ambiente. Vamos utilizar recursos da prefeitura pra emprestar dinheiro, com juro baixo, para a produção agrícola. Vou trocar as pontes de madeira pelas de concreto”.
Abordando o turismo, Erika Tank disse: “O turismo rural é importante e o turismo de negócio também. A gente sabe que turismo rural é o das fazendas ou é o do bairro dos Pires. Foram feitos muitas coisas, mas é algo que tem que sedimentar e isso depende também das pessoas, tem que ter o interesse da comunidade também. Nós fomos até a embaixada da Alemanha buscar recursos para Festa Alemã, a primeira coisa que eu ouvi foi: ‘Tudo, menos festa. Eu quero projetos sustentáveis na linha de agronomia’. Eu disse pra vocês, tem interesse sim, mas tem que apresentar um projeto. Nós temos um potencial grande aqui, mas precisamos da parceria e da disponibilidade das pessoas”. Luiz Mitsunaga: “Precisamos primeiro cuidar do embelezamento da cidade. Vamos mapear a área rural e ter isso online – vamos promover a nossa cidade”.
As pontes ainda construídas com madeira não é aprovada pelos agricultores e por quem transita nas estradas rurais, sobre esse objeto, enfatizaram os candidatos; Erika Tank: “Tem que trocar, isso já está inscrito junto ao governo do Estado para trocar as pontes de madeira por pontes de metal. A escassez hídrica afeta, o Estado esta fazendo duas represas, em duas cidades que vai regular a vazão do rio Jaguari. E vamos fazer o desassoreamento das cinco represas que temos para termos condições hídricas”.
Desde 2005, temos acompanhado e discorrido sobre a questão da Educação com a necessidade de novas salas de aula para a ampliação de vagas. Os candidatos revelaram; Erika Tank: “Podemos fazer o Bolsa creche, mas precisa estar previsto no orçamento o aumento do Bolsa creche. Construção leva tempo, temos outras maneiras: contratar entidades para que elas façam a creche. Mas é preciso que tenha interesse do setor privado para que eu possa comprar essas vagas. O processo de construção dentro da prefeitura é muito mais demorado do que o privado querer construir”.
Luiz Mitsunaga: “Não vamos descartar a construção de novas unidades escolares e ampliação das já existentes”. Murilo Félix: “Vou fazer uma escola nova se vocês quiserem”.
Emprego e qualificação foram temas trazidos pelos candidatos como demanda do setor do comércio e empresarial. Erika Tank: “Tenho visitado indústrias, comércios, é inacreditável o número de vagas que tem. Muitas pessoas acabaram empreendendo deixando os postos de trabalho. Todos os locais que eu fui. Pensamos num plano pra capacitação e voltar a falar sobre empregabilidade, porque vão começar a importar mão de obra”.
O tópico segurança é um tema preocupante e nessa campanha, a solução no investimento de monitoramento permeia os planos dos candidatos para o governo municipal. Erika Tank: “Aumento de efetivo e consequentemente o monitoramento físico maior”. Luiz Mitsunaga: “Vou ampliar as bases da Guarda Civil Municipal. Vou estabelecer um convênio com a Polícia Militar, atividade delegada – colocar o policial pra trabalhar para o município no contraturno. Podemos também interligar as câmeras das propriedades no COP, pra monitorar”. Betinho Neves: “Ampliação do sistema de monitoramento para a área rural. A prefeitura não consegue contratar mais 400 guardas municipais, mas ela tem recursos pra investir em monitoramento”, questionou. Murilo Félix: “Colocar câmeras de segurança em todas as saídas da cidade. Na entrada dos Pires. Trazer o Pelotão da área rural”.
Mudanças climáticas e meio ambiente é uma matéria transversal que perpassa por educação, saúde, segurança, mobilidade entre outros; infelizmente pouco explorado nos planos de governo. Luiz Mitsunaga: “Implantar um Plano ambiental através da educação. Quem atear fogo vai pagar caro”. Betinho Neves: “O governo do Estado fez investimentos na cidade de Amparo e Pedreira, duas represas que vão desaguar no rio Jaguari. Temos que ter a nossa represa”. Murilo Félix: “A fiscalização sobre o assoreamento das represas deve ser feito. Vou reabrir o SAAE”.
Saúde pública também envolve o uso de drogas. O tema da ocupação dos usuários de drogas pela cidade foi objeto de debate. Erika Tank: “Na cidade, vamos fazer pressão policial aos usuários de drogas. Aumento da iluminação, oferecer tratamento, conversar com as famílias, conversar com as prefeituras da região. O Saúde Sobre Rodas terá presença em localidades que precisa ter o atendimento de saúde”. Luiz Mitsunaga: “Vou fazer o hospital municipal. E trazer médicos do programa Mais Médicos. Sobre as clínicas de recuperação clandestinas vou lacrar e fechar”. Betinho Neves: “Vou construir o posto de saúde”. Murilo Félix: “Construir o prédio que envolve saúde é barato. Administrar o prédio de saúde é caro. Eu consigo desapropriar uma área aqui e viabilizar recurso para a construção. Eu quero que o Estado faça a gestão”.
O atendimento da atenção básica dividida em proteção básica, especial e de média e alta complexidade foi implantado na área rural através do Centro de Referência da Assistência Social – CRAS. Morando no bairro dos Pires, Regina Célia Bueno, assistente social, hoje aposentada, foi quem implantou o CRAS na gestão Mário Botion. Ela diz que a área rural de Limeira tem um universo de carência social que quem passa pelas vias principais não enxerga mas, precisa ser enfrentado pelas lideranças rurais. “Eu comecei o trabalho aqui no bairro dos Pires na Igreja Santo Antônio para atender um pedido do padre Gilmarcos ao prefeito. Eu vi que já tinha o serviço de Saúde Sobre Rodas e pensei: onde eles vão, eu vou também, onde existe a parceria. Eu criei o grupo da terceira idade no bairro dos Lopes, nos Pires. Eu atendia o assentamento Elisabete Teixeira, atendia na igreja Luterana, na igreja São Francisco de Assis no bairro dos Frades, no bar da Tânia nos Pires, no sítio do senhor Alcides, num estabelecimento próximo ao Zé do Pote e estendi até o bairro Água Espraiada, onde tive a oportunidade de criar um grupo de fortalecimento de vínculos para adultos. O Ceprosom mandava lanches semanalmente. A Saúde mandava um fisioterapeuta, médico ou enfermeira. Eu levava capacitação. Eu fiz visitas nas casas. Depois de um tempo, éramos eu, a enfermeira, o administrativo, uma estagiária e uma assistente social que ficou com os atendimentos. Eu fiquei com os grupos de fortalecimento de vínculos e atuava mais no Ceprosom.
Tudo isso acabou quando me tiraram do Ceprosom e não colocaram ninguém no lugar. No bairro dos Pires ainda prevalece o grupo por conta da equipe da igreja. Já o bairro Água Espraiada é um deserto de políticas públicas. A proposta era ampliar a equipe para cada território rural – o que foi implantado foi um modelo”, contou Regina.
O que dizem os candidatos sobre a carência social Erika Tank: “Nós temos uma parte volante (do CRAS) que iniciou na área rural de assistência social, precisa aumentar isso”. Luiz Mitsunaga: “Eu não quero mais as entidades vivendo de festas. Vamos regularizar as entidades para fazer os convênios para destinar recursos”. Betinho Neves: “Existiu o CRAS volante que não existe mais, cuidava da zona rural da cidade. Voltaremos com o CRAS volante”.