Desde muito antes da pandemia de Covid-19, o bairro dos Pires é um destino de ciclistas se embrenhando nas trilhas e estradas que cortam o bairro, com objetivo de estar perto da natureza, respirar um ar puro, conhecer novos lugares como áreas de mata, canaviais, nascentes, pequenas cachoeiras, construções abandonadas, cultivando a amizade na prática de atividade física pois, uma hora de pedalada chega a queimar até 500 calorias. Pelas estradas de terra é comum motoristas serem surpreendidos por ciclistas sem a devida sinalização o que pode causar acidentes, é preciso lembrar que o tráfego de bicicletas também deve seguir algumas regras previstas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), evidente, por outro lado, o pessoal do pedal tem suas queixas pela falta de respeito de alguns pilotos apressados.
O mês de Maio foi escolhido para a campanha “Maio Amarelo” com a proposta de chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo. Para tratarmos dessa questão de mobilidade envolvendo os ciclistas e o trânsito, conversamos com Francisco Cardoso membro do Limeira Bike Clube, grupo de amigos que se organizou para incentivar a prática do ciclismo, a atividade do grupo iniciou em novembro de 2009, tendo a frente Luis Orlando Bruno (in memorian).
Francisco Cardoso explica, “o Limeira Bike Clube surgiu de um grupo de amigos, seu fundador foi Luis Orlando Bruno, que em 2013 foi atropelado na rodovia Bandeirantes, estava em companhia de outros dois ciclistas mas, só ele foi vítima e veio a falecer. Em virtude disso eu passei a coordenar o Limeira Bike Clube até 2019, hoje, o presidente é o Tiago Paccola, que devido a compromissos, me passou a tarefa de responder a essa entrevista”, destacou.
Segundo informações de Francisco, o número de ciclistas da modalidade Mountain Bike passa de 3.000 praticantes em Limeira e o seu grupo reune cerca de 350 pessoas. “Desde o início em 2009, reunimos um grupo de amigos e traçamos as metas que gostaríamos de fazer, como passeios leves e intermediários de bike, além das ciclo viagem turística, onde já visitamos lugares como Praia Grande pela Serra do Mar, Campos do Jordão, Serra da Canastra, enfim, onde o pessoal achava uma trilha legal e tivesse um ponto de apoio, como uma pousada, estávamos partindo. Para as trilhas de Cunha-Paraty e na Serra do Mar, já chegamos a fretar dois ônibus com mais de 80 ciclistas para percorrer esses lugares”, citou.
O grupo organiza passeios de bicicletas por trilhas rurais, que eles chamam de ‘pedal’, quatro vezes na semana. O local de saída dos ciclistas é frente ao portal do Parque Cidade localizado no anel viário.
Na quinta-feira, o Limeira Bike Clube faz um passeio urbano com o objetivo de incluir pessoas inexperientes, “nós temos um passeio urbano que é para iniciante. Quando chega alguém no grupo com uma bicicleta nova e diz que faz academia, faz pilates, a gente já fica de olho porque, sabemos que vai dar trabalho no meio da trilha. O individuo tem falsa impressão que aquela rotina de exercícios de academia vai lhe dar uma condição física boa para acompanhar o grupo de ciclista numa trilha de 50 quilômetros, por exemplo, vai faltar perna com certeza. Por isso achamos importante ter esse dia para os iniciantes”, explica.
Trilhas Rurais
Geralmente quando seguem paras as trilhas do bairro dos Pires, eles percorrem o anel viário, sentido rodovia Anhanguera, Francisco cita que essa é a parte mais tensa, “é um percurso de nove quilômetros onde nossa preocupação é o trânsito. Hoje, com as campanhas de conscientização no trânsito, deu uma diminuída nas situações de fechadas de veículos, de motorista impacientes, porque nosso grupo, andando com número baixo de ciclistas é um pelotão de 20 praticantes, se for um número maior tem motorista que fica impaciente tendo que aguardar a passagem de 50 ciclistas ou às vezes 80, então, o líder intermediário, percebendo que tem muitos veículos, ele para o pelotão e deixa os carros passarem o cruzamento”, revelou.
Em relação a parte rural dos passeios Francisco descreve que utilizam caminhos secundários para “sair fora do tráfego intenso. Os lideres do pedal, se comunicam por walk-talk, tem um que está na liderança e coordenação da trilha e outro líder que fecha a trilha, vai monitorando o líder da frente, caso haja algum imprevisto como pneu furado ou mesmo o ritmo do pedal. Alguns trechos merecem cuidados por serem estradas de terra batida, que circulam muitos caminhões das usinas de cana. Inclusive, a Usina São João da cidade de Araras, SP, fez uma campanha agora, referente ao “Maio Amarelo”, conscientizando seus motoristas de caminhão e colheitadeira, ao verem os ciclistas, solicitam aos motoristas que diminuam a velocidade. Graças a Deus, nunca um ciclista de nosso grupo trombou com um caminhão de cana ou uma colheitadeira. O número de acidentes é praticamente zero. A nossa maior preocupação e, tomamos maior cuidado, evitamos passar por lugares que tenham bares, como o bar do Juca, no bar do Pote, bar da Cigana nos horários que é saída de ‘bebum’, esses sim são preocupantes. Certa vez chegamos a ligar para a Guarda Municipal, porque o individuo não tinha condições de dirigir, a velocidade em que ele estava andando com o carro, era a mesma velocidade que nós estávamos com as bicicletas, tivemos que ficar atrás dele, porque era perigoso ultrapassá-lo”, comentou.
Acidentes
Francisco relata que o maior receio quando estão no trânsito da área urbana, são aqueles motoristas imprudentes que usam o celular estando ao volante, “eu mesmo, num domingo de manhã, mal tinha me distanciado 200 metros da minha casa, próximo a avenida Campinas, fui atingido pelo retrovisor de um carro que passava e o motorista com o olho no celular. O número de acidentes entre bicicletas e outros veículos é baixo. Existe mais acidente de queda do próprio ciclista do que atropelamento por outros veículos. O ciclista que mais sofre é o trabalhador, aquele que usa a bicicleta para poder chegar ao trabalho. Ele é a maior vítima porque, está no trânsito no horário de maior pico de veículos. Nos passeios que fazemos evitamos ao máximo passar por rodovias, o que acontece, às vezes, é pegar uma alça de acesso. As rodovias são os trechos mais perigosos, imagine um comboio com quarenta bicicletas cruzando rodovias, tem que ter muita cautela. Tem um detalhe, o ciclista iniciante acha que estando em grupo ele está protegido mas, é preciso ter sempre alguém mais experiente ao lado, para vigiar o que ele está fazendo. Sempre recomendamos andar em fila indiana ou no máximo duas pessoas lado a lado, nunca andar em três, porque ocupa um espaço equivalente ao caminhão e, no momento de ultrapassagem de um veículo, esse ciclista tem maior chance de ser atropelado. Outras exigências que fazemos aos ciclistas é sempre usar equipamentos de segurança como capacete, luva e óculos, além de ter a bike revisada. Se alguém chegar sem capacete não participa conosco em nossas trilhas. Costumamos fazer orientações antes das saídas quando vemos que tem muitos novatos ou se vamos para trilhas novas que cortam rodovias. Nunca divulgamos antecipadamente as trilhas, além de tudo ser decidido minutos antes da saída, é uma questão de segurança, a não ser os passeios programados em outras cidades”, destaca.
As campanhas
“O Limeira Bike Clube sempre procurou manter contato com o poder público. Muda prefeito, nós vamos atrás da Secretaria de Mobilidade no sentido de falarmos de nossa existência. A intensão é incluir a bike em cada campanha que for divulgada, seja no “Maio amarelo” ou setembro que é o mês do trânsito. Geralmente em maio fazemos dois passeios, um conjuntamente com a Secretaria de Mobilidade de Limeira que é o “Maio amarelo” e, outra para promover o “Dia Internacional do Desafio”, que é cidade contra cidade, na prática de exercícios físicos. Esse ano, as duas foram canceladas em função da pandemia, porque não tem como aglomerar pessoas na prática de exercícios físicos. Outra questão importante é que as grandes obras viárias urbanas incluem ciclovia, haja visto o novo viaduto da Barroca Funda contempla esse equipamento, assim como o anel viário, em sua maior parte, tem a ciclovia. Esperamos paz no trânsito pois, o individuo dentro do carro está blindado e o ciclista é seu próprio para-choque. A gente espera que a divulgação das campanhas educativas de trânsito mais motoristas fiquem conscientes de que o ciclista é parte da mobilidade urbana. Os ciclista tem direitos e deveres sendo um meio de transporte e locomoção”, Francisco frisou.
No pedal
Francisco revela que a prática do ciclismo lhe despertou o interesse pelo clima, “com o pedal, eu passei a observar mais o tempo, porque, o que nós já tomamos de tombo e raio, preferimos ter cautela e não sair, depois a turma até reclama porque a chuva não veio mas, sentimos muito, nossa opinião foi de não correr risco. Certa ocasião estávamos atravessando a ponte do esqueleto, sentido Cordeirópolis, SP, com um grupo de 50 ciclistas quando furou o pneu de alguém, bem em cima da ponte. Quando acontece isso, é certeza que tem outro pneu furado de outra bike. Então, acabamos de fazer o concerto, apareceu o outro pneu furado. Nisso, eu olhei para céu na direção do Morro Azul e percebi que estava vindo uma nuvem de chuva. Até consertar esse outro pneu, a chuva veio, com ventania, raios, muita água, precisamos voltar e se esconder embaixo da ponte da rodovia Bandeirantes, porque era uma tempestade. Então, aqueles pneus foram nossa salvação, se tivéssemos seguindo, a chuva ia nos pegar na trilha e não teria como se abrigar. Os ciclistas são uma grande família, o Limeira Bike Clube é um grupo de voluntários e a única cobrança é amizade e companheirismo, nosso pessoal é bem solidário, é do biker para o biker!”, enfatizou.
Pandemia
Nesses tempos da pandemia do Covid-19, Francisco diz que o único impacto sentido foi a diminuição de pessoas por passeio, “respeitamos os protocolos de higienização. Mas ocorreu a fragmentação em pequenos grupos. Até hoje, não aconteceu nenhum imprevisto de alguém chegar tossindo, espirrando ou com sintomas de Covid-19, a gente monitora e a consciência das pessoas nesse aspecto é muito boa. Os ciclistas amigos que contraíram a Covid não precisaram ficar internados, não houve transmissões pelo grupo, foi pelo trabalho. O ciclismo é saúde por diversos aspectos tanto respiratório como cardiovascular, dificilmente alguém fica gripado de derrubar, às vezes é apenas uma coriza. O ciclismo cria uma resistência no seu organismo porque é calor, depois vem uma queda na temperatura, aí chove, então, a resistência é diferenciada de quem faz academia”, descreveu.