As festividades em louvor a São José, no bairro rural do Pinhal, Limeira (SP) aconteceu de 16 a 19 de março, uma realização da comunidade do bairro Pinhal. O Triduo e a missa do dia do Padroeiro São José foi celebrado pelo Pe. Alquermes Valvassori. Houve ainda quermesse, show, apresentação da Orquestra de Violeiros Tom da Terra.
Neste ano a comunidade foi além da organização das festividades e preparou uma supresa muito importante, eles realizaram o projeto da nova construção da Santa-Cruz de São José que foi fundada em 1 de março de 1999 e demolida em 17 de fevereiro de 2024. Esse local fica na estrada dos Santa Rosa (acesso pela rodovia Limeira p/ Artur Nogueira), onde foi fundada a primeira igreja de São José do bairro Pinhal, em agosto de 1951 e depois demolida em 1998-1999.
A inauguração da construção aconteceu no dia 16/3 com a benção do padre, e depois os fiéis seguiram em carreata para a missa na igreja no Centro Rural do Pinhal. Segundo Janaína Stahl Gachet Delgado, coordenadora do projeto, a Capela de São José não está completa, “falta ainda o altar, as imagens antigas dos Santos da primeira igreja de 1951, detalhes finais. A intenção desse projeto é fazer dessa construção nova um memorial com fotos, maquete, Santos da época”, disse.
Quando surgiu a ideia da construção da capela, toda a comunidade foi envolvida, prontamente atendeu e colaborou. Além da construção do prédio a comunidade contou com a habilidade e profissionalismo do casal Lilian Stahl Martins e José Valdir (Tico) Martins que se desdobraram para retratar em uma maquete (exposta na igreja de São José), as memórias das pessoas que frequentaram a primeira igreja de São José. A comunidade ainda preserva a maquete que o senhor Alfredo Müller (i.m.) construiu em homenagem aos 50 anos da comunidade São José.
Agora, a comunidade ganhou uma maquete construída com a colaboração da história oral revelada por várias pessoas, como descreve Lilian Stahl, “eu fui atrás de coletar depoimentos na comunidade sobre as informações da igreja. Realizei uma pesquisa perguntando pra um e pra outro e foi o que me ajudou porque encontrei pessoas que se recordam muito bem de detalhes, das cores – é impressionante os detalhes dos depoimentos de quem frequentou a primeira igreja de São José. Colaboraram com os depoimentos: Maria do Rosário Pommer Nicola, Maria Isabel Santa Rosa Salvadio, Maria Aparecida Santa Rosa Guidotti, Maria Gatti Santarosa, Olindo Edgar Santarosa, Everaldo Santarosa, Hermes Santarosa, Necilda Konig Bueno, Neusa de Campos, Aparecido Paes. Foi desta forma e com a colaboração que conseguimos, eu e o Tico, chegar o mais próximo do que eles me descreveram. O pessoal que viu a maquete pronta, gostou bastante, acho que atingimos o objetivo”.
“Eu me lembro muito bem quando foi inaugurado a igreja de São José. Eu frequentava muito aquele lugar. Tinha missa uma vez por mês. Todos os anos era comemorado a Festa de São José. A festa era boa, as pessoas da comunidade se encontravam e tinha a procissão. As crianças do catecismo eram preparados e vestidas de anjos para acompanhar a procissão. Os andores eram muito bem enfeitados pelas pessoas dali. Tinha as pequenas barracas que serviam doces, balas, pão com mortadela; era o que tinha na época. Os ambulantes vendiam ioiô, bola de gude, maçã do amor, sorvete, era tudo de bom. Tinha o jogo de malha, jogo de bocha. Do poço era tirado uma água bem fresquinha. E sempre à tarde, os leilões com as prendas que as pessoas doavam. Era um dia bem feliz onde se encontravam as amigas, as crianças se divertiram, um tempo bom que não volta mais. Mas é bom recordar e agradecer por ter vivido nessa época”, recordou Maria do Rosário Pommer Nicola.
O casal Aparecido Paes e Neusa de Campos, se conheceram na igreja de São José. “É mais ou menos uns 65 anos que eu conheci a igreja, eu ia jogar no campinho de bocha lá. Na missa eu quase não ia. Tinha o Egisto Aldrigui (da sapataria) que vinha na festa lá fazer rifa do coelho. Ele que organizava as casinhas do coelho (cem) todas numeradas, ali soltava o coelho e ele entrava numa casinha numerada. O prêmio era dinheiro, bolo, bebida, peças de crochê, tudo doação.
E foi lá que eu conheci a Neusa (esposa). Nas festas tinha uma fila dos homens e uma fila de mulheres como na praça, quando um se interessava pelo outro dava um sinalzinho pra moça sair do lado pra gente conversar”, disse Aparecido. Neusa completa a explicação, “os homens ficavam rodeados assim e as mulheres davam a volta na igreja andando de duas, de três amigas”.
Maria Isabel Santa Rosa Salvadio conta que em 1963 que veio a energia para o bairro. “Com a energia no bairro toda a comunidade foi reunida e ajudou instalar os postes. Antes disso, era iluminado com velas, com lamparina, tudo no improviso. A missa era durante o dia. No primeiro domingo (do mês) era na igreja de São Francisco, no segundo domingo era na igreja de São Gerônimo, no terceiro domingo era na (usina) Tabajara e no quarto domingo era na igreja Nossa Senhora das Vitórias. Quando o mês tinha o quinto domingo e todos os dias santos tinha missa na igreja de São José. A primeira comunhão era feita no domingo que desse certo, por exemplo, no mês de março, julho, agosto, outubro”, detalhou.
A comunidade mantém os santos da primeira igreja. Maria Aparecida Santa Rosa Guidotti descreve, “Nossa Senhora Aparecida, Sagrado Coração de Jesus, São Roque, Santa Luzia, tinha um pequeno que foi quebrado durante a mudança de uma igreja para outra, não sei se era São Valentim ou São Benedito”.
Lilian e Tico buscaram materiais da construção da antiga igreja e da capelinha, no local da demolição, para dar a base do objetivo da maquete, trazer elementos que dessem realismo. “Eu usei a madeira para fazer o mourão, alguns tijolinhos, a terra de lá, foram usados para que a maquete trouxesse uma impressão mais realista. Só com as informações que aquela maquete construída em comemoração aos 50 anos da comunidade traz e com as fotos que tinha, pra mim, eram poucas, porque as fotos não trazem o ângulo que eu precisava. Eu amo história. Quando a Janaína propôs eu aceitei: temos que trazer essa história (oral) de volta porque se a gente não retratar agora com essas pessoas, tudo se acaba. E a ideia de refazer a capela foi excelente porque traz a história da comunidade. Amei a experiência”, diz satisfeita.
Conversamos com Janaína Stahl Gachet Delgado que coordena o projeto de construção da Capela de São José no local da Santa-Cruz de 1999, o objetivo segundo ela é fazer dessa construção nova um memorial com fotos, maquetes e santos da antiga igreja de 1951.
JPR: Como surgiu o projeto de construção da Capela São José?
Janaína: Eu iniciei o resgate da memória quando a comunidade completou 70 anos em 2021, a maquete e a construção da igreja. Fiz um vídeo, entrevistei os responsáveis pela construção de 1951. Mas toda a comunidade ajudou com doações para a construção da capela. É gratificante preservar essa memória tão importante para o bairro. Com os 70 anos da comunidade, completados em 2021, ficou o desejo de preparar uma festa especial ao jubileu de 75 anos para 2026. Com isso, ficou o desejo de retomar a história de como era de fato a Capela de 1951, antes da demolição.
A pandemia afetou o caixa da igreja já que não estávamos fazendo eventos e adiamos a reforma. Com a chegada de 2023 decidimos reformar, contamos com muitas doações para que isso acontecesse e toda a comunidade se animou. Fiquei responsável pelo projeto no qual me senti muito honrada (sou formada em arquitetura). A intenção foi fazer com que a fachada lembrasse da Capela antiga mas, com sua própria essência, tendo sua marca como uma nova construção.
JPR: A Capela de São José está aberta ao público?
Janaína: Sim. Recebemos muitos ciclistas que praticam o esporte na região e gostam de prestar a sua homenagem nas igrejas por onde param. A intenção é deixar aberta aos domingos para visitação.
JPR: O local terá informações do histórico daquela construção?
Janaína: Na capela queremos colocar fotos da época, depoimentos, objetos antigos e imagens dos Santos que eram originalmente de 1951, da antiga capela de São José. A intenção é transformar em um memorial histórico religioso.
JPR: Como se dá a demolição de uma construção de valor religioso? Existe algum protocolo a seguir?
Janaína: O bairro foi crescendo e as famílias também. A igreja com o tempo foi ficando pequena.
Com a construção do Centro Rural no fim da década de 60, a comunidade achou uma alternativa para celebrar as missas em um novo local, maior agora, para atender todos.
Então, aos poucos migrou para o salão do Centro Rural e a antiga construção começou a degradar. O sítio que a primeira capela estava foi vendido e por falta de cuidados da própria comunidade, acabou ficando abandonada. Foi demolida no mesmo ano que foi construído o salão da comunidade São José, ao lado do Centro Rural.
Aproveitamos esse momento oportuno para agradecer toda a comunidade São José, no bairro rural do Pinhal, Limeira (SP), e sua dedicação em consentir as fotos, vídeos e depoimentos para a realização dessa matéria.