Jornal Pires Rural – Edição 228 | ARARAS, Maio de 2019 | Ano XIII
A CDRS (Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável – antiga CATI) realizou em parceria com a UFSCAR – Campus Araras, SP, um curso de cultivo de hortaliças no sistema de hidroponia. “Cultivo que vem crescendo 30% ao ano, trazendo vantagens ao produtor”, nas palavras do professor Fernando Sala, coordenador do curso.
Visando dar potencial e capacitação às Cooperativas e Associações de produtores rurais que receberam recursos financeiros através do Projeto Microbacias II – Acesso ao Mercado, executado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio da CDRS (antiga CATI), sendo resultado de um empréstimo de US$ 78 milhões assinado pelo governo do Estado de São Paulo com o Banco Mundial, com contrapartida de U$ 52 milhões do governo estadual, totalizando U$ 130 milhões em investimentos públicos no setor agrícola do Estado. O período de duração do projeto inicialmente acordado era entre 30 de setembro de 2010 a 30 de setembro de 2015. No entanto, no dia 24 de junho de 2015 teve seu prazo de execução prorrogado para 30 de setembro de 2017. O apoio financeiro para as organizações de produtores rurais (com mais de 70% de agricultores familiares) é de até 70% do valor elegível da proposta de negócio, (para organizações com até 70% de agricultores familiares a subvenção é de 50%), podendo chegar a 800 mil reais para cada organização. Em Limeira, a APAL (Associação dos Produtores Agrícolas de Limeira) situada na rodovia que liga Limeira a Artur Nogueira, chegou a receber esses recursos.
Capacitação
Em Araras, foi realizado o apoio continuado de extensão rural por parte da CDRS, que por meio do Projeto Microbacias II tem a premissa de fazer a integração entre a agricultura familiar e as instituições. Dessa feita a UFSCAR, abriu as portas aos produtores que se interessavam pelo sistema de produção através da hidroponia. Cerca de 30 pessoas participaram de uma palestra do engenheiro agrônomo Fernando Sala, professor e pesquisador da Universidade Federal de São Carlos, do Centro de Ciências Agrárias (CCA/Araras-SP) que atua na área de melhoramento genético de hortaliças para fatores bióticos e abióticos.
Professor Fernando Sala abordou o tema “manejo de cultivo: hortaliças de folhas e frutos”, sendo parte em sala de aula e parte na área externa, no campo experimental da Universidade. O sistema de cultivo de hortaliças de folhas predominante é o de campo, com mais de 95% do mercado brasileiro mas, o sistema hidropônico é uma alternativa que vem crescendo. “A ideia, hoje, é trazer para vocês algo que cresce 30% ao ano e traz vantagens ao produtor, que é a hidroponia. Uma tecnologia de cultivo sem solo que propicia cultivar hortaliças que apresentam melhores qualidades e maior facilidade. A grande vantagem é a questão do uso da mão de obra, haja vista, que mão de obra acaba sendo menor em relação ao cultivo convencional. A geração de nossos filhos e netos não quer trabalhar em campo. Arrancar daninhas? Carpir? Acordar de madrugada? Isso aí, está acabando. Na hidroponia tem ergonometria de trabalho, a pessoa não precisa agachar para fazer a colheita. Além do mais a hidroponia comercializa uma planta viva, com presença de sistema radicular e que confere muito melhor qualidade no pós-colheita, quando comparada a uma planta do campo. Então, traz benefícios para o produtor, para o consumidor e para o trabalhador rural”, destacou.
Custos
“Como grande parte do cultivo em hidroponia são em ambientes protegidos com estufas, vou deixar o número pra vocês: uma hidroponia, hoje, montada com plástico, estrutura galvanizada, cano, motor, bomba, caixa, mão-de-obra de implantação vai se gastar de R$80,00 a R$110,00 m². Para ser viável economicamente, para uma família de 3 a 4 pessoas, precisa ter, no mínimo, uma área com 1000m². Há a opção de fazer a cobertura da hidroponia no telado, é um custo 5 vezes menor, só que tem algumas desvantagens para o cultivo em época muito chuvosa. Se no período de 7 dias há chuvas constantes e tempo nublado vai ter perda da produção. Choveu 2, 3 dias e sol, não vai ter problemas. Para inicio vocês podem fazer como os produtores aqui de Araras, que começaram com o telado, se capitalizaram, depois expandiram para as estufas e telado. Cito outro exemplo, da região amazônica, que o produtor deixa a hidroponia no sistema aberto, sem nenhuma cobertura. Claro que ele está num período do ano sem muita chuva. Dou esse exemplo diante do alto custo de implantação hidropônica, ela pode ser feita inicialmente, de forma mais modesta, colhendo numa época mais propicia, pra depois ir avançando e aumentando a tecnologia de seu sistema”, Fernando orientou.
Sistema
Basicamente, a hidroponia é um sistema com um tanque, onde são colocados a água e os nutrientes. Uma moto bomba dimensionada em função da quantidade de calhas (local onde ficam as mudas de hortaliças). A bomba succiona a solução aditiva levando para a tubulação, onde o liquido desce por gravidade e volta para o tanque. Existe um temporizador para a cada 15 minutos ligar e desligar. No verão, deve-se esgotar e limpar esse tanque a cada quinze dias e no inverno a cada trinta dias. “Na hidroponia, um pé da alface consome, da semente à colheita, 4 litros de água. No campo, um pé de alface consome 80 litros de água, no sistema de aspersão. Nunca vai substituir o cultivo de campo, nunca vai deixar de cultivar e vender produtos orgânicos mas, cada vez mais cresce o consumo e o plantio”, ele citou.
“Normalmente o cultivo hidropônico é destinado a cultivar qualquer tipo de planta. Preferencialmente, indica-se o cultivo de hortaliças folhosas, tais como rúcula, alface, chicória, agrião e as hortaliças de tempero, por exemplo, salsa, cebolinha, coentro, entre outras. De uma forma geral essas hortaliças são mais consumidas no período de verão, de outubro a fevereiro. No período de inverno, nos meses de maio até setembro, as vendas das hortaliças hidroponicas tendem a cair, porque o consumidor prefere alimentos mais quentes, como uma salada de batata, refogados, entretanto, fica como opção ao produtor aumentar o cultivo de hortaliças como as couves que são mais consumidas nessa época do ano”, apontou o professor.
Campo experimental
Fernando Sala explicou que as estruturas da universidade quanto ao sistema de produção não segue um padrão, porque são experimentos com diversos materiais como telados, bancadas, tubulações e diversas espécies de hortaliças. “Temos bancadas de 15 metros e de 7,5 metros. Para produção, uma bancada menor tem a vantagem de aquecer menos a água, porém bancadas pequenas podem ter inclinação muito alta, usando mais canos e dificultando a colheita. Testamos tubulações retangulares e cilíndricas e independentemente do formato a produtividade é igual. Quanto ao reservatório recomendamos 500 ml por planta, então, 1000 plantas, reservatório de 500 litros no mínimo. Na vazão máxima por tubo recomenda-se 1,5 litro, se a bancada tem 10 tubos, teremos 15 litros de água por hora. Na minha opinião melhor usar uma caixa de 1000 litros e, se possível subdividir as caixas pelo número de bancadas. Aliás, pensar em hidroponia é pensar num seguro que é o gerador de energia, porque se faltar energia para a moto bomba, a produção pode ficar comprometida, podendo até perder tudo, com o alface pode perder 40 dias de trabalho, agora, o tomate são 180 dias”, alertou.
Manejo
“Observo que a maior dificuldade do produtor com a hidroponia está na solução ou controlar o ph e a condutividade elétrica (EC) mas, é uma coisa relativamente simples. Ela consiste em completar o reservatório de 1000 litros. Primeiramente faz a analise de água, para saber qual é o ph, para poder preparar a solução com os sais. Ao completar a parte faltante de água na caixa de 1000 litros, por exemplo, faltam 500 litros, começo dissolvendo os adubos em um balde e faço a preparação para os 500 litros, depois adiciono na caixa a solução, muito simples. Só que temos que monitorar essa solução diariamente, verificando condutividade elétrica e ph. Sendo ideal manter o ph entre 5,5 e 6,5. Porém, a condutividade elétrica que passa nessa solução, para que a planta tenha um bom desenvolvimento, deve ficar entre 1,2 a 1,6 milisiemens por centímetro (mS/cm). Quanto menor a EC, menor é a concentração de sais. No inverno, devido a água ser muito fria, acelera o desenvolvimento da planta aumentando a EC, até um ponto limite, desde que a planta não comece a perder água”, explicou Fernando Sala deixando uma dica, “como o monitoramento é diário, interessante é ter sempre a mão uma tabela pronta com os valores de acordo com a EC, para auxiliar na dosagem da adubação, por exemplo, se a EC está 1,4 e quero mantê-la em 1,5, vou acrescentar a quantidade de nutrientes apenas para 0,1 de EC, esse calculo já vai estar anotado na minha tabela”, detalhou.
Para concluir professor Fernando disse que o futuro da hidroponia é ficar automatizada a cada dia, “o sistema exige cada vez menos mão de obra. Esse negócio de ficar medindo com a mãozinha ph e EC ainda é muito, é preciso ter um sensor pra fazer essa medição de forma automática. Por enquanto, o único problema para a automatização é o custo”, finalizou.