Jornal Pires Rural – Edição 210 | CAMPINAS, Janeiro de 2018 | Ano XII
Participando do 4º Encontro Mídia e Pesquisa, Maurício Tuffani, jornalista especializado em ciência e meio ambiente, é editor de Direto da Ciência, site jornalístico destinado ao público interessado nos rumos da ciência. No encontro que abordou o panorama da inserção da ética na divulgação e no jornalismo científico, Maurício falou sobre “O desafio do contraditório no jornalismo científico”, direcionando para a credibilidade da informação científica e da cobertura da mídia na era das fake news.
Tuffani é adepto da ideia que é necessária a parceira entre jornalistas e cientistas para a divulgação de descobertas cientificas, pois “existe uma preocupação muito grande de pesquisadores e instituições científicas com a qualidade da informação sobre pesquisas acadêmicas”, que são divulgados pelos meios de comunicação. “O desrespeito ao contraditório pode ser um fator que joga contra a credibilidade jornalística, o não cumprimento da ética jornalística pode afetar essa credibilidade, justamente no momento que a questão das fake news se faz presente, em função disso houve muitas capacitações a jornalistas para coberturas de temas como ciência e saúde”, destacou o jornalista.
Citando dados de pesquisa, cuja analise mensurada num público de 8 mil pessoas ao redor do mundo, concluiu que a publicação das fake news não abalou a reputação dos meio consolidados. “O percentual de confiança nas fontes de informação, mostrou que as revistas cientificas impressas estão em primeiro com 72% de confiança, canais de tv com notícias 24 horas 69%, noticiário de rádio 68% e jornais impressos 67%, sites de tv, jornais e rádios 65% e o último canal citado pelos entrevistados como confiável foram as mídias sociais. Achei interessante mostrar, pois é um dado recente sobre a questão”, disse Maurício.
Ainda segundo a pesquisa, existe um interesse muito grande, por parte da sociedade, na divulgação científica pela mídia, “quando divulgamos, estamos trabalhando com dados que se baseiam em fontes e essas fontes, por si só têm uma percepção da sociedade. Os brasileiros concordam que ciência e tecnologia estão tornando a vida das pessoas mais confortável e a pesquisa cientifica é essencial para a indústria”, acrescentou.
Crucial para o jornalismo
O palestrante apontou uma publicação de 2003, no Brasil, que traça um código objetivo para auxiliar os jornalistas a articular os valores da profissão e ajudar os cidadãos a exigir uma imprensa livre. Os elementos definido por esse código, aponta o trabalho do jornalista que deve estar em primeiro lugar sua obrigação com a verdade, a sua lealdade com os cidadãos, sua essência na disciplina da verificação dos fatos, ainda, o jornalista deve manter independência daqueles que ele cobre, o jornalismo também deve abrir espaço para crítica e compromisso público e deve apresentar notícias de forma compreensível e proporcional. Esses foram alguns critérios citados por Tuffani que tem uma preocupação crucial para o jornalismo; “o jornalista deve manter independência daqueles que ele cobre. É nesse aspecto que vemos a questão do contraditório. Existem muitos temas que o contraditório não é muito claro, por exemplo, até que ponto a comunidade cientifica está interessada em um jornalismo que coloque-a na parede?”, questionou.
Apuração dos fatos
Em seu trabalho como jornalista, Maurício Tuffani disse que tem encontrado certa resistência ao abordar pesquisadores sobre o tema jurídico referente ao pagamento de precatórios. “É impressionate, quando trato desse assunto com pesquisadores, a maior parte deles não querem nem aparecer com esse tema, não querem fazer parte disso. Então, a comunidade científica também não é uma instituição transparente, pelo contrário. Compartilho da ideia de que a ciência não comporta versões. Em 2003, o Conselho Federal de Medicina baixou uma norma exigindo que todo médico, quando desse uma entrevista, tivesse acesso ao texto final a ser publicado, para servir de prova. Acho que o único jornal a cumpriu isso foi a Folha. Então, é para vermos que dentro da comunidade científica, a questão ao respeito da liberdade de expressão é algo muito complicado”, afirmou e continuou, “existe uma ampla cobertura jornalista de ciência que não é desenvolvida exatamente por jornalistas que são familiarizados com o tema. Isso é um problema sério de falta de capacitação, que acaba levando a publicação de muita coisa que não tem o menor sentido”.
Pra concluir Maurício emendou,”por outro lado a falta de apuração do contraditório tem acontecido com jornalistas especializados em ciência e, que o respeito ao contraditório tem sido visto como um dos limites, que a gente chama de parceria, entre imprensa e a assessoria de notícias. Isso deve ser levado muito a sério pois, a falta de atenção ao contraditório pode levar o jornalista a desconsiderar o interesse de instituições, academia ou grupos empresariais”, encerrou o jornalista.