Jornal Pires Rural – Edição 230 | LIMEIRA, Julho de 2019 | Ano XIII
Fomos convidados para acompanhar o desenvolvimento de um plantio experimental de variedades de mandiocas que está sendo realizado pela Embrapa, na área rural de Limeira, mais precisamente, no bairro Santa Helena, em uma gleba de 5 mil metros, parte da propriedade de Donizetti Domingues Oliveira. Na ocasião, o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Marcelo Ribeiro Romano estava no local, fazendo a colheita dos nove diferentes tipos de mandioca em experimento. Sua pesquisa, entre outros resultados, terá a avaliação de rendimento por hectares de cada variedade plantada de mandiocas de mesa.
Donizetti, dono do sítio, nos explica como procurou a Embrapa, “a história começa assim; aqui antes era só laranja, infelizmente veio o greening e acabou a laranja. Aí, passamos para milho, mas a garantia de preços não existe, sem contar que precisamos da ajuda do clima para obter rendimentos do grão. É incerto porque quando você compra a semente, o saco está sendo comercializado a R$40,00, depois da nossa colheita ele cai pra R$30,00, não dá pra sobreviver, não sobrava nada e ainda, arrendava 100 alqueires de terra. Parei e resolvi ficar apenas com a minha terra. Direcionamos para mandioca e minha esposa Silvana, começou a entregar mandiocas embaladas e descascadas em açougues, mercadinhos, depois foi oferecendo em supermercados maiores de redes. Estamos indo para o oitavo ano com mandiocas a vácuo. Chega certa época do ano, temos dificuldade porque a mandioca para de cozinhar, a aceitação é menor, cai a venda, aumentam as reclamações, perde-se freguesia, principalmente restaurantes que servem diretamente aos clientes”, relatou Donizetti.
“Em 2017, conhecemos o pessoal da Embrapa do Paraná, que tinham duas variedades de mandioca, BRS 399 e a BRS 396, trouxe para plantar aqui. Depois surgiu a oportunidade de trazer mais variedades para testes e, ver até que ponto poderíamos utilizar e qual seria melhor. Em 2018, fizemos um teste mas, não foi bom porque, plantamos tardiamente e não foi bom de chuva. Agora, esse ano foi melhor, fizemos um preparo de solo melhor, um plantio numa época mais correta e estamos colhendo corretamente. A mandioca já está com 10 meses, foi adubada no plantio com 4-14-8, depois de 50 dias foi feito uma nova adubação de cobertura com 30-0-10. O herbicida usado foi o gramoxone, duas vezes, pra não deixar crescer mato. Sempre passando com o mato baixo para não deixar passar no caule e queimar a mandioca, orientei meu funcionário pra trabalhar muito bem nesse ponto”, revelou Donizetti.
Segundo o pesquisador Marcelo, o trabalho desenvolvido em Limeira é voltado a novas variedades de mandiocas de mesa, coordenado pela Embrapa fruticultura com sede em Cruz das Almas, BA. Na unidade existe um programa de melhoramento, testadas nos campos experimentais para gerar novas variedades e, aquelas que são aprovadas, são disponibilizadas aos agricultores para conhecerem e validar o material nas regiões produtores de mandiocas de mesa do Brasil. “O mandato da mandioca da Embrapa de Cruz das Almas é nacional. Iniciamos o trabalho aqui em Limeira, em 2017, colhemos um primeiro experimento em 2018. Seguimos plantando em 2018 e colhemos agora em 2019, para fechar 2 anos de avaliação. Importante porque, um ano nunca é igual ao outro e também, não temos só uma localidade. Estamos avaliando entre materiais que foram gerados em programas de melhoramentos de instituições públicas de pesquisa e variedades locais, aquelas que os agricultores vem mantendo há vários anos, que estão bem adaptadas a região. A nossa comparação é sempre com materiais locais e sempre avaliamos as características principais que desejamos em uma variedade de mesa. Além da produtividade, é importante avaliar a capacidade de descascamento, o sabor, a coloração, hoje, o mercado tem demandado raizes de polpa amarela. Avaliamos também a questão agronômica da planta que é resistência a doenças e pragas e o desempenho em termos de arquitetura de planta para facilitar o manejo. Para nossas variedades serem consideradas boas, elas devem cozinhar em panela aberta, até 30 minutos. Passou desse tempo, descartamos como uma variedade boa de cozimento”.”, esclareceu Marcelo.
Avaliação
“O Marcelo está fazendo a avaliação de rendimento por hectares. Vai saber qual tem o melhor e menor rendimento. A minha avaliação vai ficar ainda na roça porque, qualquer mandioca com dez meses cozinha. Lógico que uma levará 10 minutos e a outra 15, muda o sabor, na fritura uma fica mais sequinha e outra absorve mais óleo. O que vou fazer esse ano novamente é saber qual vai cozinhar por mais tempo. Essa lavoura de mandioca vai ficar 15 meses, então, todo mês eu vou tirando e verificando como vai cozinhar cada variedade. Vou saber qual é a menos produtiva e qual demora mais tempo para cozinhar. Essas também vou plantá-las pra saber que na época de mandioca adulta, qual vai estar cozinhando melhor, pra colocar no mercado mandioca que tenha aceitação”, destacou Donizetti.
De acordo com Marcelo, após dois anos de pesquisa, “a intenção é sair com a indicação das variedades potenciais para a região de Limeira e Mogi-Mirim. Sempre contamos com a colaboração dos agricultores, com a parceria da extensão rural pela CDRS (ex-CATI), para poder viabilizar esse trabalho junto aos agricultores, em beneficio da sociedade. Esse contato é muito importante para a Embrapa, porque eles é que estão no campo”, falou.
Variedades
Entre as variedades plantadas, na propriedade de Donizetti, Marcelo destacou: a variedade mandioca eucalipto, “é a mais plantada na região, chegando até o Paraná. Tendo a característica principal de haste única, não abrindo para ramificação. Isso é muito interessante para o plantio mecanizado. Hoje, a maioria das áreas estão sofrendo com a escassez de mão-de-obra e estão optando pelo trabalho mecanizado e variedades de leira rendem bastante. É uma variedade que tem uma produtividade muito boa, polpa amarela, com boa aceitação no mercado. Em nossa pesquisa, ela é considerada padrão de variedade local, sendo comparado com as demais”, disse.
“Outra variedade local, crioula, os agricultores estão denominando de Guaiquica. Como a mandioca é originaria do Brasil, temos uma quantidade imensa de variedades. As mandiocas de mesa são em sua maioria variedades locais, chamamos crioulas, nessa pesquisa plantamos a Guaiquica”, comentou.
“Temos também a variedade IAPAR 18, desenvolvida pelo Instituto Agronômico do Paraná. É uma variedade muito plantada no Paraná, que tem como característica um cozimento rápido, tem uma coloração amarelo claro e é conhecida como a mandioca que pode fritar sem cozinhar. Trouxemos para fazer a avaliação, nessa região, por seu potencial. Ela tem uma ramificação mais baixa, porém, presta-se ao plantio mecanizado. Tem uma característica que pode prejudicá-la na adoção pelos agricultores porque, ela tem algo que chamamos de ‘madeira’, ou seja, perde um pedaço da raiz que é muito fibroso, então, o rendimento de raiz caí um pouco mas, é um material que vale os agricultores conhecerem e tirar suas avaliações pessoais”, orientou.
“A IAC 576-70, do Instituto Agronômico de Campinas já ocupou 100% da área de mandioca de mesa da região. De polpa amarela é a primeira variedade comercial lançada pelos institutos públicos de pesquisa. É uma variedade de bastante sucesso, com boa produção, qualidade de raiz, cozimento rápido, saborosa, brotação muito boa, não falha uma cova. Isso o produtor gosta porque ela nasce muito bem. O que prejudica é sua ramificação muito baixa e isso para o plantio mecanizado não é das melhores. Tem agricultor que não abandona essa variedade, ganhou a vida com ela e continua. É uma material que consideramos em nossa avaliação por ser tradicional”, avaliou Marcelo.
“Nesse plantio experimental estamos avaliando nove variedades, entre variedades locais e variedades melhoradas. Quero finalizar apresentando a mandioca da Embrapa, registrada recentemente chamada BRS 429, estamos em fase final de avaliação em várias regiões do Brasil, sendo um material bastante promissor. É uma raiz de polpa amarela, uniforme e retilínea, e tem alta produtividade. Sua característica agronômica favorável é o comprimento de sua haste primeira, antes da ramificação, ter acima de um metro, sendo favorável a mecanização, além de tolerância as principais doenças e pragas. É um material que apostamos que pode compor, junto com outras variedades, um leque de opções ao agricultor, para evitar que fique dependente de uma única variedade. Acreditamos que possa ser uma opção interessante para o setor produtivo de mandioca de mesa”, concluiu.
Produção
Para Donizetti, a importância de disponibilizar parte de sua propriedade para o plantio experimental de mandioca é saber que estão sendo desenvolvidas novas variedades com qualidade, além de resistência a pragas. “Já me chamaram de bobo por cuidar desse cultivo experimental, questionando o que eu vou ganhar com isso. Eu sempre respondo que já estou ganhando, porque eu trabalho com mandioca. Se vierem me perguntando vou falar quais são as ramas boas para levar e plantar. Vamos desenvolver, vamos trabalhar, o espaço tem pra todos. Pra mim tem uma importância muito grande. A nossa avaliação de cozimento já fizemos, todas elas são boas e agora vamos tirar duas variedades que se destacaram para dar sequência no plantio”, frisou.
João Antônio Domingues Oliveira, irmão do Donizetti, conta que “começamos com a mandioca para fugir do aperto, pois temos que se virar. No início foram poucas entregas e agora virou uma rotina diária. Temos que arrancar as mandiocas todos os dias, a tarde pois, não podemos ter estoque de mercadora fresca, são aproximadamente vinte locais de entregas entre cozinhas industriais e mercados”, falou.
“Eu sempre fui curioso. Vejo algo interessante, penso logo em plantar, se não der certo, fazer o que? É um trabalho bem familiar, envolve eu e meu irmão no campo, minha esposa e cunhada cuidam da parte das vendas e entregas. Os funcionários dependem do volume de venda, principalmente, para descascar as mandiocas. São cerca de quatro mil quilos por mês. Graças a Deus está dando pra se manter”, finalizou Donizetti.