Maristela Bueno, trabalha com produção artística para teatro, cinema, tv e eventos, ela também gerencia a Pipoca Cultural Produções artísticas. Atuando como advogada, Maristela decidiu trocar a toga pelo cinema e teatro no ano de 2004, iniciando a carreira como produtora e roteirista. Gerencia a Pipoca Cultural Produções artísticas onde faz produção executiva de espetáculos e projetos audiovisuais. Maristela trabalhou na escola de atores Wolf Maia, em São Paulo lá criou eventos culturais como o Sarau e o Mobile Festival.

Nossa entrevista com Maristela abordou o setor do entretenimento e o forte impacto causado pela pandemia da Covid-19, onde paralisou completamente o setor, ela diz; “o público atualmente busca o entretenimento na internet. Infelizmente houve um desmonte de diversas casas de espetáculos, teatros e bares. Não vejo uma retomada ainda em nosso setor pois, trabalhamos com aglomeração, com público e os riscos de reunir as pessoas ainda são enormes”. Leia abaixo a entrevista completa;

A atriz Suely Franco e a cineasta Maristela Bueno

Jornal Pires Rural: O que é trabalhar com produção artística?

Maristela Bueno: Desenvolver atividades relacionadas à organização de ações culturais e estratégias para produção de entretenimento, abrangendo todos os setores culturais como teatro, cinema, música, literatura, entre outros. 

Jornal Pires Rural: Como foi trabalhar na escola de atores Wolf Maia? Qual a experiência que você levou e qual aprendeu?

Maristela Bueno: Foi um período maravilhoso. Aprendi muito, pois a escola te dá liberdade de atuar em todos os setores, o que proporciona aos profissionais um gama de habilidades extras. Eu produzia, escrevia roteiros, criava eventos culturais como o Sarau e o Mobile Festival, também exercia funções nos setores de marketing, designer, figurino, cenografia e pedagogia. Acredito que a experiência que levei esteve relacionada à minha outra profissão, a advocacia e assim pude contribuir para formatação de projetos junto à órgãos públicos, elaboração e análise de contratos e consultoria sobre a legislação de entretenimento.

Jornal Pires Rural: Conte-nos sobre gerenciar a Pipoca Cultural Produções artísticas, qual é o escopo de trabalho, passa pela elaboração de projetos, cursos e descoberta de novos talentos bem como encaminhar artistas para trabalhos específicos?

Maristela Bueno: O embrião da Pipoca Cultural começou em uma viagem que fiz pela América do Sul, a qual resultou numa exposição de fotos. A partir daí resolvi fazer uma faculdade de Rádio e TV e diversos cursos. A empresa desenvolve e executa projetos próprios, bem como de terceiros. Não fazemos agenciamento de artistas, normalmente quem escolhe os atores que irão trabalhar nos projetos são os diretores. Produzir é um trabalho extenuante e ao mesmo tempo muito gratificante.

Maristela Bueno e o ator Marcos Oliveira de Biografia Não Autorizada

Jornal Pires Rural: Roteirizar e produzir filmes é uma atividade que a inquietude criativa humana quer extravasar?

Maristela Bueno: Sim, pelo menos para mim, não só a inquietude, mas também todas a dúvidas e angústias existenciais. 

Cartaz da comédia escrita e produzida por Maristela Bueno e Daniel Torrieri Baldi, tendo como ator Marcos Oliveira (o Beiçola da Grande Família), estreiou em 2013

Jornal Pires Rural: Uma de suas produções abordou o submundo do vício, de onde partiu a ideia de estar em contato com esse cotidiano e como foi essa vivência?

Maristela Bueno: A ideia partiu de um recorte de jornal, no qual uma mãe, num ato de desespero, acorrentou seu filho adolescente para que o mesmo não se drogasse. Foi um longo processo até chegar no tratamento final do roteiro, com muita leitura sobre esse universo e observação das pessoas nas ruas. Tive dificuldade também em encontrar uma atriz para fazer a personagem principal. É uma situação muito difícil para as famílias, que acabam sendo codependentes e também adoecem. Além disso, foi um grande desafio para mim, pois eu estava grávida na época que consegui unir a equipe e elenco para realizar o filme, e sou ligada no 220 volts, então, todos ficavam me pedindo para ir com calma com medo que minha filha nascesse antes do tempo.

Cena do filme “Noia – Um dia no limite”, com a atriz Patrícia Vilela

Jornal Pires Rural: A produção de espetáculos audiovisuais com a presença de público no cinema, teatro, shows, etc, foi impactada fortemente devido a pandemia de Covid-19. Como está o setor depois de 16 meses desse impacto?

Maristela Bueno: O setor continua parado, ainda não há segurança para retomar todas as atividades presenciais sem que as pessoas corram risco de contrair o vírus. Acredito que com o avanço da vacinação poderemos começar a abrir as portas novamente, mas vejo essa possibilidade a médio prazo.

Jornal Pires Rural: Houve um engajamento do setor pela lei Aldir Blanc, isso amenizou a cadeia cultural? Teve outras soluções que poderia destacar?

Maristela Bueno: Sim o setor se organizou para cobrar uma atenção dos governantes, visto que a maioria dos profissionais da área não tem outra fonte de renda, registro ou contrato de trabalho contínuo, bem como não havia possiblidade de migrar para trabalho online. Os editais ajudaram muito, mesmo que com valores pequenos para executar projetos, foram um alívio para muitos. Além disso, ao se levantar uma produção, também contribuímos para que os outros setores sejam beneficiados, pois faz a economia girar, em virtude de necessitarmos de diversos prestadores de serviços como motoristas, cozinheiros, técnicos de saúde, manicure, contadores, advogados, entre outros. Porém, ainda não vislumbramos uma retomada pois, dependemos do público para trabalhar e as pessoas, com razão, tem receio de sair de casa. 

Jornal Pires Rural: Com está a estrutura do setor de entretenimento devido a pandemia? 

Maristela Bueno: Infelizmente houve um desmonte de diversas casas de espetáculos, teatros e bares. Não vejo uma retomada ainda. Trabalhamos com aglomeração, com público e os riscos de reunir as pessoas ainda são enormes. 

Jornal Pires Rural: Essa pandemia foi uma prova de fogo para o setor cultural se reinventar, mas isso acontece independente de pandemia, todo dia, correto?

Maristela Bueno: Sim, o setor cultural está sempre se reinventando, não só por conta da pandemia, mas também por questões econômicas, bem como por mudanças advindas do público, o qual atualmente busca o entretenimento na internet.

Jornal Pires Rural: A criatividade artística não tem limites e dessa vez vamos ter novas formulas de diversão?

Maristela Bueno: O ser humano está sempre superando seus obstáculos e não acredito em limites para nada, muito menos para a criatividade artística. Há uma constante evolução, porém tudo tem seus prós e seus contras, como por exemplo o teatro online que, apesar de não ser o formato tradicional e perder suas características, possibilita que diversas pessoas possam assistir peças teatrais que jamais chegariam às suas cidades. Em relação ao retorno do entretenimento presencial acredito que somente no ano que vem poderemos vislumbrar essa possibilidade.

Maristela Bueno recebendo o prêmio de “Melhor Filme”, pelo roteiro do curta metragem “Noia – Um dia no limite”,  no festival “The World Cinema Festival de Los Angeles – USA.

Baseado em fatos reais, “Noia – Um dia no limite”, mostra o desespero de uma usuária de drogas para conseguir um pouco mais do que ela acredita ser sua única forma de sobreviver num mundo cada vez mais indiferente à dor da existência humana. Renata, personagem viciada e sem rumo, a qual chegou ao fundo do poço, sem sonhos ou futuro. Todos que se relacionam com ela não dão importância às suas angústias ou necessidades, apenas tentam tirar algum proveito de sua frágil condição. Embora saiba que esse caminho termina num precipício, ela não consegue mais trilhar a estrada inversa. Um filme de Elder Fraga com roteiro de Maristela Bueno.  

Elenco: Patrícia Vilela, Alexandre Barros, Ângela Barros e Fransérgio Araujo,Luciana Affonso, Gianfranco Di Martino, Luciano Marchetto Silva, Gabriela Wazlawick. 

Estatueta de “MELHOR FILME” no 49th Annual WorldFest Houston, USA

Prêmios 

Em 2021 participando do RIMA (Rio International Monthly Awards – RJ – 2021) o filme ganhou as premiações de “Melhor Diretor”,“Melhor Atriz”, “Melhor Atriz Coadju- vante”, “Melhor Edição”, “Melhores Efeitos Especiais” e “Melhor Trilha Original”. 

Fora do Brasil o filme recebeu diversos prêmios em Los Angeles e Houston, Estados Unidos, além de “Melhor Edição” no 12º Months Film Festival na Romênia.

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