A conversa com Valdevino Vieira, presidente da Associação Casa de Apoio Romeiros de Nossa Senhora Aparecida – C.A.R.A., aconteceu por telefone, com o objetivo de tratar de assuntos referentes a gestão dos serviços oferecidos pela C.A.R.A. durante o período de um ano da pandemia da Covid-19. A Associação mantém o ‘Centro Dia do Idoso’, organiza as Romarias a pé e de ciclistas rumo ao Santuário de Aparecida
, SP, e, é responsável pela gestão do restaurante ‘Bom Prato’.
O gestor aponta as dificuldades quanto as adaptações sanitárias e readequação de colaboradores, prontamente resolvidas para voltar ao atendimento de 30% do público, desde a primeira fase amarela imposta pelo Governo do Estado de São Paulo. Também destaca a dificuldade para que os colaboradores do ‘Bom Prato’ sejam inseridos no programa de vacinação como serviço essencial. “Nós estamos trabalhando só que tudo precisou ser reinventado, desde a assepsia, treinamento dos colaboradores, precisamos adequar com equipamentos, aferidor de temperatura, enfim, houve um transtorno danado. A porcentagem de idosos que não estão sendo atendidos no Centro do Idoso, o atendimento está sendo oferecido de forma remota“, relatou Valdevino. A seguir a entrevista completa;
JPR: Como estavam os atendimentos da entidade antes a pandemia da Covid-19?
V. Vieira: O nosso serviço de atendimento às pessoas idosas no ‘Centro Dia do Idoso’ que carinhosamente nós o chamamos de “Creche do Idoso’, com o advento da pandemia, não só nós, mas creio que todos os setores sofreram bastante mudanças. Nós estávamos atendendo antes da pandemia, sessenta idosos, só no ‘Centro Dia’; são pessoas que não tinham com quem ficar para as famílias irem trabalhar, passavam o dia conosco e voltavam pra casa no final da tarde.
JPR: A C.A.R.A. precisou fechar, adaptar os serviços desde o início da pandemia. Conte-nos como se deu essa adaptação emergencial.
V. Vieira: Houve aquele grande momento de tristeza assim que começou fechar tudo, ficamos sem nenhum idoso no nosso ‘Centro Dia’. Depois voltou (o atendimento) na fase amarela quando fomos autorizados a trabalhar com 30% dos atendimentos — esses 30% se mantém até hoje. A ‘Creche do Idoso’ está acolhendo 25 idosos, vindo com a condução de seus parentes ou com vans alugadas.
Nós estamos trabalhando, só que tudo precisou ser reinventado desde a assepsia, os colaboradores, precisamos adequar com equipamentos, aferidor de temperatura, enfim, houve um transtorno danado. A porcentagem de idosos que não estão sendo atendidos no ‘Centro do Idoso’, o atendimento está sendo oferecido de forma remota – o contato com esses idosos e com as famílias também e, na medida do possível, na emergência, na necessidade, as nossas técnicas vão até a casa dessas famílias.
Os nossos serviços sofreu um grande transtorno. Nós precisamos dispensar alguns colaboradores, depois precisou readequar de novo e nós estamos aí, lutando. É uma tristeza muito grande porque perdemos alguns idosos quando não estávamos em serviço e ficamos sabendo que faleceram alguns. Mas estamos aqui e a luta continua.
JPR: A C.A.R.A. inaugurou o Espaço Pilates durante a pandemia?
V. Vieira: Foi com grande alegria que nós iniciamos via mutirão, em 2020, a obra do Espaço Pilates. Graças a colaboração de todos, finalizamos a obra e com a emenda parlamentar do deputado federal Miguel Lombardi conseguimos todos os equipamentos necessários. Hoje, está inaugurado o Espaço Pilates com grande capacidade para atender doze pessoas por hora. Não está acontecendo os atendimentos por conta do decreto municipal do distanciamento social. É uma alegria, mesmo dentro da pandemia conseguimos realizar essa obra.
JPR: As Romarias estão suspensas?
V. Vieira: Sobre as Romarias, é uma grande tristeza eu dar a notícia para você. O ano passado, nessa época, nós precisamos recuar e nós cancelamos a Romaria dos Homens
, nós tínhamos 260 pessoas inscritas para irem para Aparecida, SP. Com uma grande dor no coração, no início dessa semana, eu fiz outro comunicado com os irmão romeiros, recuando pelo segundo ano consecutivo. Inclusive no dia de hoje, nesse exato momento era pra gente estar se dirigindo para a cidade de Amparo, SP, onde aconteceria o pernoite da Romaria rumo a Aparecida; e não existe nada disso, nós estamos todos em casa em oração, pensativos com dor no coração. A Romaria das Mulheres também foi cancelada, esse ano nós não falamos mais de Romarias de espécie alguma dentro da nossa entidade. Foi uma situação criada pela Covid-19, desde o ano passado e, nós tomamos essa decisão com responsabilidade de não colocar em risco a saúde dessas pessoas e também do nosso Grupo de Apoio — um grupo muito grande. É com muita dor no coração que vai indo para o segundo ano que nós não temos Romaria na nossa Casa de Apoio aos Romeiros de Aparecida e, também não só as Romarias, os eventos que a gente fazia como a Festa do Milho, a Festa da Mandioca, os Festivais Sertanejos, enfim, precisamos nos reinventar para sobreviver.
O pessoal do apoio são pessoas voluntárias que gostam e amam a Romaria e estão sempre em contato, são familiares de alguns romeiros que formam as células, os grupos, indo a cada determinado local fazer as refeições para serem servidas. A gente tem contato constantemente, deles cobrando se vai ter ou não vai ter. A nossa maior esperança, que oxalá estejamos vacinado pelo menos 80% até fevereiro de 2022, para no mês de março, na Semana Santa, a gente colocar esses 260 homens e 190 mulheres que estão inscritos para peregrinar o ano que vem e, uma média de 70 ciclistas homens e 20 ciclistas mulheres, com a intenção de estarem indo ao Santuário de Aparecida. Chegamos num consenso de responsabilidade e cancelamos. A expectativa é essa e, o pessoal do apoio fica com a mesma esperança que nós romeiros temos de estar a caminho e eles a serviço. Porque a Romaria do pessoal do apoio é servir e a nossa é caminhar.
JPR: Vocês perderam romeiros para a Covid-19?
V. Vieira: A Covid-19 fez várias vítimas romeiros e duas romeiras. Foram muitas surpresas desagradáveis mas, eu quero dizer que Deus é perfeito (não digo que Deus está proporcionando isso pra nós, claro que não!). Nós precisamos erguer a nossa cabeça e tirar lições da situação que estamos vivendo, nem tudo foi totalmente ruim. Dentro da pandemia, a gente conseguiu ver algumas coisas muito positivas, eu quero dar o exemplo do Santuário de Aparecida. Eu visitei o Santuário, participei da celebração da Santa Missa. Em Aparecida, só a pé, eu já fui durante 30 anos —, eu nunca tinha participado de uma Santa Missa com tanta calmaria, com tanto respeito. Porque limitou-se duas pessoas por banco, um silêncio profundo — coisa que quando nós estávamos naquele oba oba de rios e rios de pessoas indo para o Santuário, era triste a gente assistir uma missa porque as pessoas não respeitavam, não paravam para pensar que ali é um lugar santo. Então, uma coisa positiva pra mim que a pandemia veio trazer foi esse recolhimento, esse distanciamento que veio e nos ensinou coisas boas dentro da nossa vida cristã.
JPR: Na C.A.R.A. como está acontecendo a prática da fé ?
V. Vieira: Nós temos o santo terço todas as quintas-feiras. De um tempo pra cá está proibido aglomerar e eu estou indo com a minha família (somente), estamos rezando o terço toda quinta-feira, praticando a nossa fé lá, rezando pelos demais irmãos. Vou estar lançando um projeto a curto prazo ao convocar as famílias dos romeiros para que cada quinta-feira, uma família se disponibilize, ao se dirigir a nossa Capela com o Santíssimo Sacramento para rezar o terço, com uma escala enquanto a pandemia estiver durando, para que as orações não cesse naquele lugar que para nós é um lugar sagrado e santo.
JPR: Conte-nos um pouco como aconteceram as adaptações no restaurante Bom Prato.
V. Vieira: São 1.800 refeições por dia, de segunda a sexta-feira, não tem mais feriado, não tem domingo, não tem sábado para nós. Entregamos 300 cafés de manhã, 1.200 almoços e 300 marmitas no jantar, às vezes a gente faz um pouquinho a mais.
Houve uma grande reviravolta no nosso trabalho do Bom Prato. Antes da pandemia, as pessoas chegavam, entravaram numa fila, pegavam a sua bandeja, fazia o seu prato, sentava na mesa, fazia a sua refeição e ia embora para os seus afazeres.
A primeira coisa que a pandemia trouxe pra nós: daquele pessoal que entrava, só poderia entrar a metade. No curto espaço de tempo cancelou sentar-se à mesa, passamos a entregar as marmitas. No advento da entrega das marmitas modificou totalmente o público, aqueles que iam, sentavam e comiam, já não vão mais; vão outras pessoas buscar a marmita. Ultimamente, devido a sujeira do descarte das marmitas de isopor na cidade, pelos atendidos, nós passamos a utilizar as marmitas de alumínio. Quem aparece para fazer uso do serviço do Bom Prato são inúmeras pessoas que necessitam, a gente até fecha os olhos porque tem gente que fica morrendo de vergonha de estar na fila, porque foi buscar a comida pagando um real. Mas eu quero acreditar e quero dormir acreditando, com a minha consciência tranquila que todo ser humano que entra naquela fila para pegar uma marmita de comida, realmente eles estão precisando.
Estamos firmes e fortes. Eu vou fazer um apelo para o prefeito (Mário Botion), para o Secretário da Saúde, para o Governador do Estado de São Paulo (João Dória), para que o pessoal da linha de frente do Bom Prato possa receber essa vacina (contra a Covid-19), que eles entrem na prioridade de serviços essenciais. Eu não estou vendo muito empenho por parte do Sr. Prefeito Municipal, não vejo uma sinalização positiva. Nós estamos mexendo com o Governador pra ver se vem uma ordem de lá de cima, talvez eles não possam fazer aqui por si só. Estamos vendo uma grande necessidade de vacinarem o nosso pessoal de linha de frente, são vinte e dois colaboradores — já trabalhamos com dois, três, turnos, revezando —, para que eles possam continuar nesse combate e servir as pessoas.
Estão sinalizando (vacinação) para os policiais, para os professores mas, não estão sinalizando para o pessoal do Bom Prato. A nossa diretoria executiva tem um parecer já formalizado sobre isso, se não for lembrado como essencial esse serviço. A gente precisa tomar uma decisão o mais rápido possível caso não haja uma sinalização positiva para a imunização dos colaboradores.
Recado da C.A.R.A.
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