Jornal Pires Rural – Edição 234 | LIMEIRA, Novembro de 2019 | Ano XIV
A araruta foi plantada em novembro de 2018 e colhida em agosto de 2019 pelo sr. Júlio Teztner (retratado na edição 228 do Jornal Pires Rural, clique aqui para ler), no bairro dos Frades. A família tinha a tradição do plantio, colheita e beneficiamento da araruta até o falecimento da esposa do sr. Júlio, sra. Alice Alvina Kühl Tetzner. Ele conta que o casal fazia todo o processo demorado e de muita dedicação, durante a noite, à luz de lamparina pois, na época não tinham luz elétrica. A dedicação tem a justificativa, de consumir um alimento puro através do polvilho e também pelo fato do trigo ser um artigo raro na época. Do rizoma dessa planta se extrai uma fécula finíssima. Com o polvilho pronto a família tinha a oportunidade de usá-lo em pratos variados como engrossar caldos, no preparo de biscoitos e mingau de leite.
Araruta
A planta é uma Maranta arundinacea, da família das amarantáceas, sua origem é do continente sul-americano, sendo encontrada em estado silvestre nas florestas venezuelanas. Entre os índios aruaques, era conhecida como aru-aru. Era usada também para curar feridas por flechas envenenadas, picadas de cobras e picadas de insetos.
A araruta é um alimento que está sofrendo risco de desaparecer devido ao fato do pequeno agricultor não plantar mais porque não vê demanda de consumo. As justificativas que levam um alimento desaparecer, envolve uma discussão ampla, desde não cultivar até as mudanças de hábitos alimentares, que a família sofre ao longo da vida, em consequência da dedicação da mulher ao mercado de trabalho. Por ser um processo trabalhoso – o processamento da araruta leva dias – não há quem se proponha a beneficiar ou cozinhar pratos mais elaborados no dia a dia.O sr. Júlio tinha abandonado o plantio, até que tempos atrás um agricultor ofereceu uns rizomas para o seu filho Ademir. Então, Sr. Júlio cultivou quinze mudas – cada touceira rende dez a doze rizomas – e não parou mais. Só não tinha feito o polvilho. A receita predileta do sr. Júlio é consumir o polvilho para engrossar o mingau de leite.
Acompanhamos Claudete Tetzner Barbosa, filha de sr. Júlio, junto ao procedimento do beneficiamento de uma caixa de araruta, – 20 kg, colhida há dois meses. Segundo o sr. Júlio, o período entre a colheita e o processamento não deve ultrapassar o período de vinte dias porque o amido fica prejudicado.
O beneficiamento da araruta
O procedimento segue a seguinte ordem, após a colheita, higienize retirando as folhas, ficando somente o rizoma e, higienize bem, novamente. Coloque os rizomas de molho em uma vasilha com água abundante para soltar toda a casca seca, depois, com a ajuda de uma faquinha retire toda a casca que sobrou. Transfira para outra vasilha com água para conservar até o momento da trituração.
À medida que for triturando escorra a araruta da água. Para triturar pode ser usado uma máquina industrial ou ser ralada com um ralo grande de cozinha. Nesse dia, Rosiléia Kühl gentilmente ofereceu a máquina trituradora de seu pai Rodopho Kühl. O alimento é muito fibroso e o processo é justamente para separar a fibra do polvilho.
Depois de triturado é necessário lavar a massa triturada através de coador (com a ajuda de um pano branco muito limpo). Coloque uma pequena quantidade da massa triturada no coador de pano e vá jogando a água fresca por cima de forma que o liquido coado fique no recipiente do coador.
Descarte a massa quando não soltar mais a água branca da massa triturada. Repita esse procedimento até acabar toda a massa triturada. Tampe o recipiente com um pano limpo e seco. Deixe a água coada no recipiente de um dia para o outro, em um local fresco. Depois de doze horas o polvilho vai sedimentar no fundo do recipiente então, descarte toda a água. No fundo, ficará todo o polvilho sedimentado. É necessário retirar com a ajuda de uma espátula e espalhar o polvilho molhado em uma toalha limpa estendida em uma superfície reta (mesa) para secar, por dois dias (se a umidade do ar estiver baixa secará rapidamente em comparação a dias de chuva).
A medida que for secando o polvilho é necessário quebrar os torrões molhados para auxiliar na secagem. Depois de seco passe todo o polvilho em uma peneira fininha – o que não passar na peneira deve ser triturado no liquidificador para não perder. Para conservar, o polvilho pode ser armazenado em um vidro limpo e bem vedado, pelo prazo de um ano.
Receita de biscoitos de araruta da Claudete Tetzner Barbosa
Ingredientes:
01 xícara (de chá) de creme de leite,
01 colher (de sopa) de margarina,
01 ovo,
02 colher (sopa) de coco ralado,
01 xícara (de chá) de açúcar,
Uma pitada de sal,
Polvilho de araruta até dar o ponto de enrolar.
Modo de fazer:
Misture os ingredientes em uma tijela deixando por último, o polvilho. Adicione o polvilho aos pouquinhos e vá mexendo e sentindo se consegue modelar os biscoitos. Modele os biscoitos e organize todos com espaço entre eles, em uma forma untada. Pressione cada um com a ajuda de um garfo para amassar levemente e dar um formato ondulado na superfície. Leve ao forno pré-aquecido por 20 minutos. Sirva com café fresquinho, chame os amigos e crianças para divulgar a importância de consumir alimentos tradicionais da nossa culinária. Só assim, alimentos como a araruta podem sair da lista de alimentos em extinção.
Adorei a matéria.Custei achar as mudas Enfim vou realizar e resgatar um sonho antigo.Obg por me proporcionar está linda matéria.