Jornal Pires Rural – Edição 233 | Piracicaba, Outubro de 2019 | Ano XIV
Durante três dias, membros da academia, profissionais do mercado e lideranças do agronegócio estiveram reunidos no ESALQSHOW – Fórum de Inovação para o Agronegócio Sustentável, com o objetivo de estreitar e fortalecer cada vez mais a relação entre universidades e demais elos do segmento. O público acompanhou ainda as novidades da Feira de Inovação e Tecnologia, um espaço dinâmico com estandes em que os participantes discutem desafios, soluções e tendências, estimulando o networking, a formação de parcerias e promovendo novas ideias, tecnologias, produtos e serviços.
Conversamos com os estudantes do curso de Gestão Ambiental da Esalq/USP que fazem parte do Gepura – Grupo de estudos e práticas para o uso racional da água. Augusto Barbosa Senna, Heloísa Pacheco Inoue e Isabela Butturi, trouxeram uma maquete para apresentar ao público uma simulação de um ambiente rural abordando a contaminação de corpos hídricos pelo nitrato.
De acordo com os alunos as bacias hidrográficas sofrem contaminação no meio rural pelo uso excessivo de fertilizantes, afim de obter maiores resultados nas lavouras. Isabela Butturi, aluna do 1º ano de Gestão Ambiental na Esalq, explica: “vemos na maquete como um cultivo e a produção animal pode afetar a qualidade da água dos mananciais e águas subterrâneas (lençol freático), pelo Nitrato. Se o fertilizante for usado de maneira incorreta nas culturas, ou seja, acima do recomendado pelo fabricante, as plantas ficam saturadas, não consumindo esse fertilizante. Em excesso, ele acaba infiltrando no solo atingindo o manancial subterrâneo, que normalmente são usados pelos produtores rurais, por meio dos poços artesianos. O mesmo pode acontecer com animais e fossas negras que expostos a chuva, sol e vento podem acabar infiltrando no solo ou escorrendo para o rio, o que também vai haver uma contaminação de Nitrato”, disse.
Correto dimensionamento da adubação e da aplicação
O Gepura apresentou estudos apontando que a compatibilização das taxas de suprimento de nitrogênio com a demanda na cultura, no decorrer de seu periodo de crescimento vegetativo, constitui aspecto principal do que deve ser buscado, quando se refere ao aumento da eficiência nitrogenada e a concomitante redução do risco de lixiviação (dissolução) de nitrato. A capacidade do solo de reter nitrato, vem por meio dos ions de nitrato que interagem diretamente com a fase sólida, por meio de reações de adsorção às cargas positivas dos colóides. A lixiviação de nitrato é, em geral, tanto maior quanto maior a permeabilidade do solo. Todos os atributos do solo (notadamente a textura arenosa) que favorecem a infiltração tornam a área mais vulnerável à contaminação da água subterrânea. Em principio, quanto mais próximo o corpo d’água se encontrar em relação a superfície do solo, tanto menor será o caminho a ser percorrido pelo íon nitrato até atingir a água. Tem-se comprovado em alguns estudos que o excesso de nitrato é mais comumente detectado em poços de abastecimento de água mais rasos, com menos de 15 metros de profundidade. É pertinente observar que em boa parte dos solos brasileiros, altamente intemperizados, o manto de intemperismo (processos mecânicos, químicos e biológicos que ocasionam a desintegração e a decomposição das rochas) é bastante espesso, e o lençol freático localiza-se em maiores profundidades, o que contribui para diminuir o risco de contaminação nesses ambientes.
Da mesma forma que ocorre para o fósforo (P), o enriquecimento excessivo das águas superficiais com nitrato, leva a eutrofização dos mananciais (processo através do qual um corpo de água adquire níveis altos de nutrientes, especialmente fosfatos e nitratos, provocando o posterior acúmulo de matéria orgânica em decomposição). Como consequência pode haver redução da penetração de luz na água, alterando o ambiente subaquático. Além disso, a própria respiração e algas mortas depositadas no fundo provocam a redução na disponibilidade de oxigênio, culminando com a mortandade de peixes e outros organismos.
Saúde humana
Augusto Barbosa Senna, também do 1º ano de Gestão Ambiental na Esalq, ressalta “com lixiviação de nitrato, muitas bacias hidrográficas acabam sendo contaminadas. Essas bacias hidrográficas servem para abastecer grandes cidades. Essa água contaminada pelo nitrato é prejudicial para a saúde de crianças, causando a síndrome do bebê azul. Em pessoas adultas está sendo responsável pela aparição de cânceres e para os animais é altamente tóxica”, avaliou. Nos estudos observou-se que pessoas adultas podem ingerir quantidade relativamente altas de nitrato, por meio de alimentos e da água e excretá-lo pela urina sem maiores prejuízos à saúde. Contudo, bebês menores de seis meses de idade possuem bactérias no trato digestivo que reduzem o nitrato em nitrito, podendo haver envenenamento. Quando o nitrito alcança a corrente sangüínea ocorre reação, na qual diminui a capacidade do sangue transportar oxigênio. Nessa situação a criança pode sofrer asfixia, ficando com a pele azulada, principalmente ao redor dos olhos e da boca, sintomas típicos da síndrome do bebê azul. A doença é letal quando 70% da hemoglobina do corpo é convertida em metahemoglobina.
Solução
Heloísa Pacheco Inoue, aluna do 3º ano de Gestão Ambiental aponta, “o Brasil possui bacias hidrográficas contaminadas com Nitrato, colocando a saúde humana em risco. Existe no Brasil o CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, que tem a Resolução N° 357, específica para recursos hídricos e corpos hídricos. Na Resolução N° 357, fala que o limite para Nitrato nos corpos hídricos é de 10 mg/L , excedendo esse limite fica perigoso para a saúde humana. Sabendo desse fato, trouxemos 3 soluções para descontaminação de Nitrato em recursos hídricos de produtores rurais. Temos dois processos físico-químico e um biológico. O processo físico-químico é muito eficiente, muito rápido porém, ele tem a desvantagem de gerar a salmoura concentrada, necessitando ser pós-tratada para ser descartada de maneira correta. O produtor rural precisa saber como tratar e despeja-lá. É complicado dizer que todos vão conseguir fazer isso. O processo biológico é mais barato, entretanto ele demora muito, também vai depender de quanto tempo o produtor rural tem para se dedicar a esse processo. Como diz o velho ditado: é melhor previnir do que remediar. Vamos evitar a contaminação dos corpos hídricos por Nitrato”, informou.