Marinês Bastianel*
Pesquisadora do Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo – Centro de Citricultura Sylvio Moreira/IAC, Rodovia Anhanguera km 158, Cordeirópolis, SP,13490-000 Email:mbastianel@ccsm.br

A produção mundial de limas ácidas e limões é estimada em 16,2 milhões de toneladas em 1 milhão de ha, sendo a Índia, México, China, Argentina e Brasil os principais produtores. No Brasil a produção é de aproximadamente 1,5 milhões toneladas com uma área de 43,4 mil ha.

As limas e limões se destacam como o segundo grupo de citros plantado e produzido no Brasil. O destino da produção de limão é o mercado de frutas frescas para o preparo de bebidas e uso culinário, produção de suco concentrado para indústria de refrigerantes e alimentos e produção de óleos essenciais e pectina. Com uso bastante diversificado como tempero para saladas, carnes e no preparo de bebidas, os limões estão sempre presentes na cozinha do consumidor brasileiro.

Limão Galego, Limão Cravo, Lima ácida Tahiti, Lima ácida Galego, Limão Faustrime (híbrido de citros Caviar) – fotos IAC

As principais características das limas ácidas e limões, que os tornam interessante para seu uso é o fato de serem ricos em vitaminas C e compostos antioxidantes, assim como muitas outras frutas, incluindo outros citros como as laranjas e as tangerinas. Estes compostos ajudam a diminuir a incidência de doenças degenerativas, como o câncer, as doenças cardiovasculares, inflamações, disfunções cerebrais, e a retardar o envelhecimento precoce, entre outras.

Você sabia que apesar de serem conhecidos genericamente como limões existem diferenças significativas na suas origens e características? A denominação ‘limão’ é usada para as frutas cítricas com o suco muito ácido, como o limão (Citrus limon), popularmente conhecido como limão Siciliano, e as limas ácidas onde se tem duas variedades comerciais: Tahiti (C. latifolia) e Galego(C. aurantiifolia). No entanto, Tahiti e Galego são, na verdade, limas ácidas sendo limão, apenas o Siciliano, também conhecido como limão verdadeiro. E ainda se tem o limão Cravo (C. limonia), que apesar de ser principalmente utilizado como porta-enxerto, seus frutos tem boa aceitação no mercado de frutas frescas. Mais recentemente conhecido no território brasileiro temos o limão Caviar ou ‘citros caviar’ (Microcitrus australasica), que além de ser muito diferente dos outros, pertence a outro gênero.

Quando falamos no limão propriamente dito, as variedades cultivadas mundialmente provem basicamente de três linhagens: Eureka, Lisboa e Femminello. No Brasil a variedade Siciliano (Eureka) é a mais conhecida e plantada. O limão tipo siciliano possui características bem peculiares que o difere significativamente das limas ácidas. As árvores são grandes e vigorosas, com raros ou nenhum espinho, folhas de tamanho médio, produção elevada, com frutos médios a grandes (cerca de 200g), elípticos, com a base arredondada ou com ligeiro pescoço, mamilo pouco saliente e poucas sementes. Seus frutos são amarelos na maturação, com suco muito ácido (superior a 4 g/100mL de suco). 

Frutos e planta de lima ácida Tahiti – fotos IAC

A lima ácida Tahiti, também chamada de limão Tahiti, tem o estado de São Paulo como maior produtor brasileiro, concentrando aproximadamente 75% da produção nacional da fruta, distribuída em 30,8 mil hectares (ha). No estado, corresponde a 90% da área plantada, enquanto 9% é do tipo Siciliano. Se considerarmos apenas esta variedade, o Brasil ganha o status de segundo maior produtor, depois do México. Suas plantas, bastante vigorosas, possuem porte médio a grande, desprovida de espinho. Os frutos são de maturação precoce, pequenos (cerca de 100g), com ligeiro pescoço na região peduncular e arredondado no ápice e desprovidos de sementes. Apresentam coloração externa verde claro na maturação e internamente verde-amarelado pálido. Diferentemente do limão verdadeiro, seu valor comercial se da quando os frutos ainda estão com a casca verde.

Uma característica interessante do Tahiti é que o mesmo apresenta múltiplas floradas, possuindo duas safras bem definidas: a principal no primeiro semestre, que acontece de janeiro a junho e uma segunda, concentrada nos meses de julho a dezembro. Isso cria uma estratégia de comercialização já que na primeira safra os preços costumam ser mais baixos e na segunda bem mais elevados. Existem várias seleções de Tahiti, sendo as mais difundidas o IAC-5 ou IAC 304, também chamado de Peruano, o Quebra-galho, o BRS Ponta Firme e, mais recentemente, o IAC 10, selecionado em pesquisas recentes no Centro de Citricultura do Instituto Agronômico de Campinas.

Frutos e planta de lima ácida Galego – fotos IAC

A lima ácida Galego, ou limão mexicano como é conhecido no México, país onde seu cultivo tem maior importância econômica, tem formato arredondado, mas com tamanho menor que o Tahiti, em média 60 g e de casca fina e amarelada quando madura. Pequeno e saboroso, mas em geral com bastante sementes, ao contrário do Tahiti.

Frutos e planta de limão Cravo – fotos IAC

Já o limão Cravo possivelmente tem origem híbrida entre uma cidra e uma tangerina e desta, provavelmente, herdou a cor alaranjada intensa da sua casca e do suco, diferentemente das limas ácidas e limões. Suas plantas também são vigorosas, de tamanho médio com poucos espinhos. Flores parecidas com as tangerinas, mas de coloração purpura. Os frutos são de tamanho médio (cerca de 100g), pequenos, arredondados, com coloração amarelada a laranja avermelhada. O limão Cravo é também conhecido como limão-rosa, limão-cavalo, limão-francês, limão-capeta, limão-china, limão-vinagre, entre outros.

Planta e fruto híbrido de limão Caviar – fotos IAC

Originário da Austrália, o limão caviar ou finger lime, em inglês, vem se tornando popular na gastronomia mundial. A fruta possui aspecto alongado, muito diferente dos outros citros e que apresentam um amplo espectro de cores que pode variar entre o verde, marrom, rosa e vermelho tanto na casca, quanto no seu interior. Suas vesículas se constituem em pequenas esferas, que se assemelham às ovas de peixe, recheadas de suco que explodem na boca, de onde surgiu o nome Caviar. Vem sendo utilizado na alta gastronomia, principalmente na finalização de pratos, especialmente com frutos do mar, e bebidas. Suas plantas são bastante espinhosas e menos produtiva que o limão verdadeiro e as limas ácidas.

Frutos Limão Caviar
*Breve Currículo: Engenheira agrônoma, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mestrado em Fitotecnia e Doutorado em Genética em Melhoramento de Plantas pela Unicamp. Desde 2005 é pesquisadora do Centro de Citricultura Sylvio Moreira do Instituto Agronômico de Campinas, em Cordeirópolis, SP, onde atua na área de melhoramento genético de citros, principalmente no desenvolvimento de novas variedades de copa. É curadora do Banco de Germoplasma de Citros do IAC, uma das principais coleções de citros do mundo, onde estão reunidas mais de 1700 introduções de diversos grupos, tanto de variedades copa e porta enxerto.

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