Uma rápida pesquisa nos livros de história da formação da cidade de Limeira, podemos encontrar os relatos de como surgiu o bairro dos Pires; entre 1852 e 1865 tornou-se frequente a chegada de imigrantes suíços e alemães no Brasil para trabalharem como mão de obra livre no país. Os colonos que alcançavam, aos poucos, boas economias, com os trabalhos nas fazendas cafeeiras como Ibicaba, Santa Gertrudes, São Jerônimo, Morro Azul, Tatu e outras, logo compravam terras e formavam os seus sítios. O bairro dos Pires, ao longo do vale do Ribeirão do Ferraz, hoje conhecido como Ribeirão dos Pires, tornou-se um bairro alemão.
Gustavo Jürgensen (1893-1969) e Bertha Greve Jürgensen (1900-1992) são descendentes de imigrantes alemães, casaram-se em 15 de setembro de 1918. A história do casal acontece numa época em que ocorre o desdobramento da esperança dos descendentes de imigrantes alemães em realizar o sonho da aquisição de um pedaço de terra, no início século XX. Depois de muita determinação, conseguiram comprar sete alqueires no bairro dos Pires. A área do sítio abrangia desde a estrada principal do bairro dos Pires até a estrada da fazenda Santa Maria. Esse é um dos relatos do livro recém lançado, “A História da Família de Gustavo e Bertha Jürgensen – O trabalho, a educação, a socialização, a religião; na comunidade alemã no século XX”, da autora Adriana Fonsaca, psicóloga e editora do Jornal Pires Rural e Wasacz Editora, por onde foi publicado o livro.
Segundo Adriana, a oportunidade de retratar a vida dos familiares de Gustavo e Bertha surgiu em maio de 2019, “tomei conhecimento da data da Festa da Família Jürgensen. Visitei Luciana Asbahr Mendes e sugeri para a família, através da sua pessoa, a produção de uma obra literária sobre a História da Família Jürgensen. A proposta foi aceita imediatamente. Eu resido no bairro dos Pires desde 1998, não conhecia apenas a família de Frederico (um dos filhos do casal), as demais fazem parte da comunidade alemã onde resido e trabalho. Esse fator é muito importante quando se pensa na construção de uma obra literária, pois, a relação de proximidade e confiança entre o escritor e os depoentes é a base do trabalho e tem forte influência sobre o resultado”, descreveu.
O livro foi escrito a partir de relatos do familiares captados por horas e horas de entrevistas dos filhos e netos de Gustavo e Bertha. O casal teve oito filhos, dos quais, apenas os caçulas, gêmeos, José Jürgensen e Maria Jürgensen Schnoor participaram das longas horas de entrevistas. Os demais filhos: Mathilde (im), Lúcia (im), Martinho (im), Frederico (im), Alfredo (im) e Bruno (im) teve suas histórias contadas por seus filhos e netos. Com a exceção de Martinho que viveu apenas dois anos.
“O trabalho que realizei nessa obra é uma criação a partir de memórias da história oral dos filhos Maria, José e os netos do casal Gustavo e Bertha Jürgensen. Os depoimentos por mim ouvidos foram registrados num momento muito especial na vida dos depoentes, que se encontravam na expectativa e emoção do primeiro encontro da Família Jürgensen, em 14 de julho de 2019.
A valorização da família pelos filhos e netos inaugura um marco nesta comunidade rural alemã, pois, a importância que este grupo têm dado ao núcleo familiar reuniu um grande número de familiares no evento e, a decisão de registrar a “História da Família Jürgensen” solidifica esse marco, inaugura. Diante de um momento que a sociedade discute seus valores e o papel da família, dá-se evidência à base de valores apreendidos agora re-vividos e tornado público, através desta obra literária. Preciso destacar aqui que a atitute desta Família é um ato político como uma forma de confirmação desta base social, a família”, Adriana destaca.
Ao retratar a história da Família Jürgensen, a obra traz evidências da situação econômica da época, o campesinato como forma de produção e comercialização do excedente, a mão de obra familiar como base do sustento e manutenção da família. Os valores e a rigidez na educação dos filhos. O lazer e a socialização da família através da comunidade, numa época em que quase ninguém tinha um rádio, e muito menos um aparelho de TV, então, a família agendava a visita na casa de vizinhos para ouvir músicas e assistir a novelas. “Estamos falando de uma época que ninguém tinha telefone para avisar a funerária que alguém havia morrido. E tampouco um carro disponível para ir buscar o pastor na Estação Ferroviária para a realização do culto mensal. Ou então, algo que não podemos imaginar hoje, fazer o sepultamento de um corpo à noite”, apontou.
O livro também retrata a transformação econômica do bairro após 1935 com a substituição da cultura cafeeira pela citricultura, os investimentos feito no município com a instalação de barracões para beneficiamento de frutas cítricas, na década de 1960, a história do filho Frederico Jürgensen, empreendedor, dono da “Quitanda Paulista”, depois “Vó Tica Novidades” no centro da cidade, sendo um dos fundadores do “Clube dos Veteranos”, em Limeira. “A demanda pela substituição ou formação de pomares, deu oportunidades as famílias da comunidade, mesmo sendo detentores de poucos hectares, iniciar a produção de mudas cítricas, foi onde surgiu o título da cidade de Limeira como “o berço da citricultura”. Isso proporcionou ascendência econômica e social na comunidade rural alemã e pela primeira vez, aqueles filhos nascidos na precariedade da condição econômica e social tiveram a oportunidade de melhor remuneração pelo seu trabalho, no final do século XX”, a autora completou.
De certa maneira, pela “A História da Família de Gustavo e Bertha Jürgensen” é possível entender e sintetizar um período de crescimento da cidade de Limeira, em seu aspecto econômico e social que atraíram muitos outros emigrantes de todo Brasil, dando forma aos 300 mil habitantes de hoje. Para entender o agora é preciso resgatar o passado.
Pedidos para aquisição do livro “A História da Família de Gustavo e Bertha Jürgensen – O trabalho, a educação, a socialização, a religião; na comunidade alemã no século XX”, podem ser feitos ligando ou enviando mensagens através do WhatsApp 19 – 99676.3502, também pelo e-mail: adrianafmenconi@gmail.com