Jornal Pires Rural – Edição 218 | PIRACICABA, Julho de 2018 | Ano XII
A décima quinta edição do Seminário Internacional em Logística Agroindustrial teve como tema: ‘Perdas Físicas na Logística Agroindustrial’, com uma temática amplamente relacionada com questões de segurança alimentar. Um dos assuntos retratados diz respeito à mitigação das perdas de alimentos através dos Bancos de Alimentos.
Os Bancos de Alimentos atuam como um gerenciador de alimentos, evitando desperdícios e administrando três operações: coleta, armazenamento e distribuição qualificada de alimentos para entidades carentes.
O que se espera do desempenho dos Bancos de Alimentos: Combate à fome e a desnutrição; Diminuir o desperdício de alimentos nas cidades em que atuam; Organizar a coleta, separação, armazenamento e distribuição de alimentos passíveis de desperdício; Centralizar informações para doação de alimentos; Fomentar, estimular e difundir os princípios de segurança alimentar e nutricional; Minimizar doenças e problemas decorrentes da má alimentação, como doença cardíaca, anemias, obesidade, evasão escolar; Proporcionar espaços a sociedade para o conhecimento de utilização integral dos alimentos; Oferecer aos beneficiados educação alimentar e nutricional.
O assunto perdas, é um assunto antigo então, porque ganhou relevância na segurança alimentar?
No Brasil a perda tem um fim social porque o que é perda vira Banco de Alimentos – que não é só uma questão de produção mas uma questão de acesso. Num país pobre como o Brasil como se reduz perdas? Trazemos aqui o questionamento feito a dois participantes do simpósio de logística, o professor Walter Belik da Unicamp e Gilmar Henz da Embrapa, leia a seguir o ponto de vista de cada um sobre o tema.
Walter Belik, respondeu que “a questão da redução de perdas tem uma menor resistência na agenda política do país do que outras questões mas, ninguém, em algum momento se coloca contra reduzir perdas e desperdícios de alimentos. Então, essa é uma agenda que passa fácil porque está disseminado entre a sociedade. Talvez o detonador (do assunto) foram alguns estudos e esse é o papel da academia. Foram estudos que aconteceram entre 2010 e 2011 com relação a utilização dos balanços de alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação/FAO. Então, começou-se trabalhar com essas tabelas e calcular a partir do balanço, o quanto seria perdido e se enxergou alguns números hipotéticos, teóricos, sobre perdas de alimentos e isso acendeu uma luz no meio acadêmico. Deu início uma série de trabalhos internacionais. Nos Estados Unidos o ex-presidente Barak Obama teve um papel importante com relação a isso porque ele colocou esse ponto na agenda e isso passou a ser discutido pela sociedade, inclusive algumas empresas de consultoria passaram a vender esse tipo de serviço para as empresas, porque tinha dedução tributária. Com relação a perda que vira doação, eu concordo que uma parte da perda de fato acaba virando doação, mas é pequena. O total de arrecadação dos Bancos de Alimentos do Brasil fica em torno de 60 mil toneladas por ano. Isso é muito pouco em termos de toneladas. Eu trabalho como voluntário em um Banco de Alimentos em São Paulo, neste ano, vamos chegar a 200 toneladas (de arrecadação). É um trabalhão (um monte de gente trabalhando) para conseguir 200 toneladas que ajuda muita gente. Porque 200 toneladas de arrecadação para uma instituição filantrópica ajuda muita gente. No fundo, estamos arranhando a superfície, porque é muito pouco e eu não me arriscaria dizer o quanto se tem de perda de alimentos no Brasil mas, eu digo que os Bancos de Alimentos estão fazendo o papel deles e se aprovada a legislação pode-se dobrar a arrecadação de alimentos. Mas ainda vai demorar muito tempo para poder transformar essa perda em alimento, efetivamente. Eu diria que o mundo ideal é o mundo sem Bancos de Alimentos porque todo alimento seria aproveitado. O Banco de Alimentos é uma contradição em termos e um dia vai terminar”, avaliou.
Para Gilmar Henz, o Banco de Alimentos é uma solução interessante, “considerando que hoje 70% de todo o comércio de frutas e hortaliças são produtos perecíveis e passa pelo supermercado. Então, temos que colocar o setor privado junto nessa equação. As grandes redes de supermercados brasileiros são muito interessadas nessa questão e fazem parte dos Comitês Técnicos da Caisan – Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional, e colocam o quanto isso é problemático pra eles. Porque o produto não comercializado tem que ter um destino e envolve logística para dar um destino que não seja o lixão. O problema é que a questão é muito complexa. Nas reuniões do Comitê Técnico, um representante da Anvisa foi falar sobre a questão de rotulagem, validade de alimentos e dá uma certa desesperança. Por exemplo, alguém do Banco de Alimentos falou que uma indústria queria doar 5 toneladas de queijo que estava prestes a vencer mas, o Banco de Alimentos não tem logística e como absorver? Então, é um tipo de situação tão complexa que envolve questões como segurança alimentar do ponto de vista sanitário, microbiológico. A inocuidade dos alimentos controladas por uma legislação que é extremamente rigorosa e punitiva. Então, tem que colocar todos os agentes, os varejistas, Bancos de Alimentos, os receptores, numa mesa para começar a pensar soluções conjuntas, porque é um problema grave e social num país com desigualdade de classes sociais e a situação é paradoxal. O Brasil é um grande exportador de alimentos e temos um desperdício imenso de alimentos”, asseverou Gilmar.