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  • Artigo de José Victor Parreira Rezende, Psicólogo Fundador e diretor do Grupo Cuidar Limeira

Quem já foi adolescente sabe. Sabe o que, José? 


Quem já foi adolescente sabe o quão difícil pode ser essa fase da vida. Sabe como ficam os hormônios, como muda a autopercepção, como a insegurança pode influenciar decisões a serem tomadas e como essa tal de vida se transforma rapidamente de modo que nunca mais volta a ser como era antes. 

Há tempos caiu por terra a ideia de que a dor existe somente a nível físico, desde jornais até telenovelas, de pastores até professores, ressaltam a importância do cuidado com a mente e as consequências que uma cabeça psicologicamente doente pode causar. 

A autolesão em adolescentes é uma dessas consequências, onde junta-se um período em que o indivíduo está naturalmente desestabilizado de várias formas por conta de seu desenvolvimento, com a incapacidade muitas vezes de conseguir lidar com todo esse sofrimento vivido em tal período. Mas vamos descomplicar um pouco tudo isso?

Isso que chamamos de autolesão tem o nome internacional de “cutting”, essa ação é caracterizada pelo ato de ferir-se sem que exista a intenção suicida. Talvez você esteja tentando entender o porquê disso acontecer, de forma simples podemos dizer que a autolesão surge como uma dor para aliviar outra dor. 

Parece frescura? Tente refletir: O quanto você precisaria estar mal internamente para a dor física ser menos dolorida do que aquilo que está em sua cabeça? Pois é, nossa mente pode ser extremamente perturbadora em certos momentos. A autolesão surge portanto como uma tentativa desesperada de diminuir o sofrimento emocional. 

Eu mesmo não tinha dimensão do quão importante é o olhar carinhoso e atencioso para essa questão até receber a primeira adolescente com os pulsos cortados em meu consultório. A partir desse dia desenvolvi um trabalho específico para esse público e percebi que na maioria das vezes a autolesão vem junto com um pedido de ajuda. 

Acontece que a maioria das pessoas, quero eu acreditar que por falta de informação, ainda menospreza sinais de que algo está errado no campo da saúde mental e emocional, acreditando que seja frescura, coisa da idade e que irá passar. Mas nem sempre passa. 

Por trás da autolesão em adolescentes encontramos a busca pela externalização de uma ferida que está do lado de dentro, que precisa de cuidado. Uma forma de se expressar sim, mas não de apenas “chamar a atenção”. 

Para ajudar você a refinar seu olhar sobre essa questão vou explicar um pouco alguns fatores que podem ser causadores dessa ação. 

A origem pode surgir desde características pessoais como falta de mecanismos de adaptação, insegurança, impulsividade e baixa autoestima, até mesmo por questões psiquiátricas como ansiedade e depressão. Fatores que influenciam também são temas relacionados a problemas na infância como negligência, abusos e maus tratos, doenças e até mesmo o estresse precoce. 

Além disso, podemos identificar questões a nível social e familiar como bullying, isolamento, separação dos pais, dependência de álcool ou drogas ou relações disfuncionais. Tudo isso contribui para o cenário que temos hoje. Por serem questões presentes em praticamente todas as famílias brasileiras, pedimos para que fiquem atentos às suas crianças. 

Pais e professores devem manter atenção sobre mudanças bruscas de comportamento, aumento da agressividade e da ansiedade, sentimento de tristeza, isolamento e marcas no corpo. Um olhar sobre a qualidade dos conteúdos consumidos pela internet também é importante, pois infelizmente pode ser um fator influenciador. Não vamos tirar a internet de nossos jovens, mas um pouco de atenção nesse sentido pode fazer toda a diferença. 

Quem quiser ajudar precisa ter em mente que deve oferecer um acolhimento de forma que a pessoa possa colocar experiências em palavras, que possa sentir-se compreendida. 

Eu sou Psicólogo Clínico com especialização em Psicopatologia, experiência com Saúde da Criança e Adolescente e sei ajudar as crianças e adolescentes. Mas quero que saiba que você também pode ajudar com uma simples mudança de pensamento: Menos julgamentos e mais compreensão, mais amor. 

Quando o adolescente encontra uma forma de expressar sua dor, de compartilhá-la, de outra forma que não seja pela autolesão, a vida dessa pessoa está salva. Como eu disse anteriormente…

Quem já foi adolescente, sabe. 

  • José Victor Parreira Rezende, Psicólogo Fundador e diretor do Grupo Cuidar Limeira

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