Jornal Pires Rural – Edição 335 | ARTUR NOGUEIRA, Julho de 2023 | Ano XVII
Lançamos uma edição especial Dia do Agricultor, comemorado em 28 de julho, uma data muito especial no contexto do trabalho realizado pelo Jornal Pires Rural, há 18 anos, colocando em evidência agricultores e agricultoras no seu cuidado com a terra, com os alimentos, com a família, os momentos de lazer, os desafios e as conquistas na atividade rural. Nessa edição, ouvimos três responsáveis pela pasta da agricultura nas cidades de Artur Nogueira (SP), Cosmópolis (SP) e Engenheiro Coelho (SP), abordando temas como produtividade agrícola e agregação de valor, associativismo, programa de governo e políticas públicas, sucessão familiar e qual o futuro da produção de alimentos pela agricultura familiar. O objetivo também é ouvir Simone Zambuzi, responsável pela pasta de Agricultura da cidade de Limeira (SP), porém, a mesma não ofereceu agenda até o Dia do Agricultor.
Durante a realização dessa matéria, fizemos as mesmas perguntas para os três entrevistados.
Iniciamos com Odair Boer, secretário de Agricultura do município de Artur Nogueira (SP). Odair é neto e filho de agricultor, nos contou que “nasceu na roça” e, estudou no ensino médio até o terceiro ano técnico, parando os estudos para tocar os negócios de seu pai. É a primeira vez que assume um cargo público, estando a frente da Secretaria de Agricultura desde 2022, início do mandato do prefeito Lucas Sia.
Odair Boer nos apresentou os números da agricultura de Artur Nogueira; com uma área total de 19 mil ha, segundo o IGC (Instituto Geográfico e Cartográfico), possui uma área cultivada de 14 mil ha. São ao todo 1272 propriedades rurais de acordo com o CAR (Cadastro Ambiental Rural) e 993 propriedades produtivas, segundo o LUPA (Levantamento das Unidades de Produção Agropecuária). “É uma agricultura familiar que passou do avô ao pai, do pai ao filho, trabalhando com a família”, ele diz. As principais culturas são cana-de-açúcar (30%), bovinocultura (14%), milho (14%), mandioca de mesa (4%), soja (1%), outras culturas, abaixo de 1%, inclui fruticultura como laranja, limão, abacate, entre outros e ainda, hortaliças, plantas ornamentais e avicultura de corte.
“Artur Nogueira continua sendo um município rural, posso dizer que o comércio é bem forte por conta das 993 propriedades produtivas, são elas que fazem a renda circular no município. Os ganhos não são investidos fora do município, como a compra de uma casa na praia, por exempol, é uma renda de subsistência ao município”, explica Odair.
O secretário cita a característica dos moradores do centro urbano, “temos uma população chamada ‘dormitório’, são pessoas que tem suas casas aqui mas saem para Campinas, Paulínia (e Petrobras) além de Holambra para trabalhar nas indústrias e empresas. Nós tivemos muita migração nos anos 70 e 80, do pessoal que vinha trabalhar na colheita da laranja e algodão e acabou ficando e trazendo o restante dos familiares e também constituindo família e, assim a população foi crescendo. Esse trabalhador rural, hoje, praticamente é um número bem pequeno e as pessoas que vieram com essas famílias, hoje, partem por que o parque industrial de Artur Nogueira é bem pequeno e, não tem tanto serviço”, destaca.
Entramos no assunto de sucessão familiar no âmbito rural, perguntamos se os jovens estão assumindo a frente dos trabalhos nas propriedades agrícolas, Odair citou uma conversa recente, “tenho um amigo que reclama que ficou sozinho no sítio mas, eu questionei que ele fez o filho estudar, estudou e foi embora”, asseverou. Na opinião dele, a sucessão familiar acaba vindo naturalmente, porém, quando o incentivo do pai produtor que incentivou os filhos estudarem, essa sucessão nos negócios vem a cada dia diminuindo. “O que nós da secretária temos feito; estamos contratando filho de proprietário rural como estagiário para incentivar a estudar e assumir a agricultura. Semana passada terminou o período de um ano de um estagiário, aqui, que tenho certeza que vai permanecer no sítio”, acrescentou.
Quando perguntamos sobre Associações e Cooperativas de produtores, um fato chama atenção, o encerramento da Cooperativa de Produtores local, Odair descreve, ”nós tínhamos a Cooperativa de Produtores Familiar, foi devido a baixa adesão ela se extinguiu, não existe mais. A Cooperativa quando foi criada, entre 2008 e 2009 foi única e exclusivamente para vender para a Prefeitura, isso aconteceu no passado. Tinha um número muito elevado de cooperados que vendiam laranja para a prefeitura mas, aí com as pragas, o greening, acabou a laranja e, o que hoje a gente ‘briga’ lá na (Secretária) Educação, que quer comprar hortaliças e a produção de hortaliças no município é muito baixa. Devido a falta de mão de obra, dificilmente produtores de laranja vão investir em horta, plantando couve e alface, por causa da idade avançada e, também não tem mão de obra que possa tocar o negócio, é complicado.
A APR (Associação dos Produtores Rurais) continua, apesar do número bem reduzido, eles tiveram 90 associados e agora parece que tem 15, eles ainda continuam. Eles tem um maquinário de grande porte que alugam e fazem a gerência da balança municipal.
Sobre a baixa adesão, tanto da Cooperativa quanto da Associação, foram morrendo os agricultores e os herdeiros não quiseram fazer parte, porque no meu modo de ver, era para ter aumentado, se tinha um inscrito e teve três herdeiros, era para ter três novos sócios, só que ninguém quis mais saber”, disse.
“Sobre dados das venda de alimentos dos produtores de Artur Nogueira para a merenda escolar, o que eu sei, foi que esse ano não houve (a compra), apenas o ano passado. Esse ano (Secretaria de Educação) tentaram incorporar produtos a base de leite e nós não temos no município e, teve um pessoal de fora que embargou a licitação entrando na justiça. Passou o primeiro trimestre e não conseguiram comprar nada. O produtores vendiam através do PNAE para a prefeitura”.
Perguntamos quais foram as demandas dos agricultores no ano eleitoral que elegeu o prefeito Lucas Sia, Odair nos contou que “a maior demanda dos agricultores é condições de escoar sua produção, é logística. Então, se eles tem estradas boas para chegar até a propriedade, facilita o transporte. Teve também a questão das vendas, os preços nos mercados oscilam muito e isso acaba dificultando a vida do homem no campo. Mas a maior demanda naquela época e, que ainda não foi totalmente sanada, são as estradas. Nós tivemos nessa administração o apoio do programa do governo estadual Melhor Caminho, fizemos 11 quilômetros, foi entregue semana passada. Devagar estamos conseguindo alinhar a malha viária de 220 quilômetros de estradas rurais, de terra. O município não tem condições de bancar o investimento, só um programa de fora, é um investimento caro. Temos mapeado todos os pontos críticos das estradas, nessa época de seca estamos tentando melhorar esses pontos para quando chegar as chuvas não ter tantos problemas’, informou.
Odair descreveu o atual cenário de Artur Nogueira depois que a citricultura deixou de ser a principal cultura do município, “hoje, o pequeno agricultor aqui está sem uma saída, se ele plantar cana, sozinho não consegue. Dependendo das condições de topografia da propriedade, não dá nem para o arrendamento para cana, devida a colheita mecanizada. Enquanto estava na laranja era uma situação tranquila, tratava o pomar mal ou bom mas vinha vindo, aí essa praga do greening mata o pé, não tem o que fazer. Tem produtores, hoje, que arrendaram o sítio para o cultivo de cana e trabalham nas empresas que fazem esse arrendamento, o plantio e a colheita dessa cana. O produtor está ganhando duas vezes e não deixou a atividade”, revelou.
“Para motivar o produtor nos também fazemos campanha de calagem do solo, aplicação de calcário, através do dia de campo, mostrando técnicas de aplicação e a importância. Temos também conservação do solo, enviando a propriedade que solicitar um técnico para fazer a marcação das curvas de nível, para evitar a erosão nas propriedades, um serviço gratuito para incentivar a produzir, porque se não tiver produção hoje, o produtor sai fora do mercado”.
A Secretaria de agricultura de Artur Nogueira conta com uma engenheira agrônoma, um diretor de agricultura, uma secretária, diretor de parques e viveiro, “cuidamos da feira do Produtor que foi criada apenas para o produtor. São três feiras de produtor rural que acontecem na cidade durante a semana; quarta-feira, sexta-feira e domingo. A feira no domingo foi acrescentando outros itens como roupas e de quarta e sexta é feira do produtor com alimentação”, disse.
Pra finalizar indagamos Odair para onde caminhamos com a agricultura familiar? Ele respondeu, “pergunta difícil! Enquanto eu estiver aqui, vou fazer de tudo para segurar o homem no campo, quero dar condições de estrada, auxiliar na calagem, na coleta de embalagens de resíduos de agrotóxicos. Eu continuei o serviço da Defesa Agropecuária, que foram as duas campanhas anuais da Febre Aftosa, recolhendo as notas, batendo o carimbo de entrega e levando para o Estado. No próximo dia 15 de agosto, vamos fazer a terceira campanha de coleta de embalagens de agrotóxicos, o produtor só precisa trazer até aqui, na secretaria, que iremos dar um destino, concluiu Boer.