Jornal Pires Rural – Edição 235 | LIMEIRA, Dezembro de 2019 | Ano XIV
Nelson Curcio ao dar continuidade no presépio que herdou de seu avô manifesta a arte da espontaneidade, da criatividade autêntica. “Essa obra, alcança todo os ramos de arte, tanto na mecânica quanto na pintura. Eu consigo agradar a todos. Cada um encontra dentro de seu conhecimento, algo aqui que corresponde. Consegui um bom equilíbrio da arte nesse sentido”, ele diz. Você pode conferir essa obra de arte visitando o Presépio Mecânico Curcio.
A manifestação artística no presépio de Natal
Arte Naïf é o estilo que pertence a artistas sem formação acadêmica sistemática. É a arte da espontaneidade, da criatividade autêntica. É onde o artista expande seu universo particular. A fonte de inspiração está iconografia popular, nas ilustrações dos velhos livros, nas folhinhas ou nas imagens de santos. Assim é o trabalho de Nelson Curcio ao dar continuidade no presépio articulado que herdou de seu avô.
A história vem de longa data, de acordo com o artesão Sr. Nelson Curcio, o trabalho dedicado a manufatura do presépio veio com os primeiros imigrantes da família Curcio ao se mudarem da Itália para o Brasil em 1906. “Antes de chegarem aqui no Brasil, em 1884, meu avô Vicente Curcio e seus irmãos montaram um presépio com figuras que se movimentavam. Já em Campinas, Pepe, um dos irmãos, começou um novo presépio e meu avô Vicente começou outro em Rio Claro, foi esse que eu herdei de meu pai, Alberto”.
Na composição do cenário, Sr. Nelson revela que o inicio é sempre pela imagem típica da manjedoura, “essa é a parte principal, a Sagrada Família, depois tem o boizinho, outros animais e os reis Magos. Em volta é uma parte que chamo de alegórica, imitando uma cidade daquele tempo, com personagens que remete àquela época”, explica. Na confecção do presépio, medindo cerca de 8 metros de comprimento e composto por aproximadamente 500 personagens, mais montanhas, castelos, lagos, entre outros o artesão afirma, “aqui não tem nada comprado, é tudo feito artesanalmente. 100% feito pela família, tem muitos bonecos feitos pelo meu avô, meus tios e meu pai”.
Presépio de 1906
Em 1950, em Rio Claro, SP, o tio Luiz “Gino” Curcio, resolve reformar a casa e usar o espaço que abrigava o presépio, no qual ajudava o pai, Vicente, a montar, desmontar e exibir naquela cidade. Foi aí que o pai de Nelson, Alberto Curcio, morando em Limeira resolve adquirir, do irmão, o presépio iniciado pelo seu pai Vicente. “Naquele tempo o presépio desmontava inteirinho para fazer o transporte. Meu pai levou 3 meses para montá-lo aqui em Limeira, trabalhando em 4 pessoas. Depois meu pai reformou, fez uma armação sólida e conseguimos levar inteiro montado para exibí-lo em Rio Claro. Levamos 24 horas para montá-lo, trabalhando em 6 pessoas”, recorda.
Entrando no presépio
Foi no mesmo ano de 1950 que Sr. Nelson começa a aprender como trabalhar com o presépio, até então ele não entendia nada, principalmente da parte mecânica. “Aprendi com meu avô fazer os bonecos e a dar movimentos com criatividade. Meu pai ensinou a parte mecânica e a minha mãe, Ana Fiore Curcio a parte artística. Ela tinha uma escola de pintura em Limeira, era uma grande pintora. Todos eles se envolveram muito na história do presépio. Depois, eu entrei na Escola Trajano Camargo, o qual me formei projetista mecânico para aperfeiçoar o presépio”, revela Sr. Nelson.
Em 1973, um outro tio, José Curcio resolve fazer outro presépio em Rio Claro, já que o antigo estava em Limeira, porém, pelos acontecimentos Sr. Nelson oferece ficar com o presépio do tio para unir os dois presépio da família Curcio. Em 1978, Sr. Nelson constrói um cômodo para abrigar o presépio e faz a primeira exposição aberta ao público no bairro Vila Cristovão, em Limeira. “Quando eu era solteiro, íamos para outras cidades, levando o presépio para exposição. Fizemos mais de 35 cidades como Poços de Caldas, Curitiba, São Paulo, Osasco, Santos, São Vicente, entre outras”, descreve.
Com a fama disseminada, Sr. Nelson recebe o convite da TRW, em Limeira, para expor o presépio no final do ano de 2003, dentro da empresa, para as comemorações natalinas, na realização de uma festa, onde estariam presentes os principais dirigentes da marca americana. A empresa TRW também patrocinou uma reforma no presépio. “O presépio era inteirinho de madeira, tanto os bonecos como a parte mecânica. As madeiras se dilatavam com mudanças de clima quente, frio, seco e umido. As correias eram de máquinas de costura, muito frágil. Com o patrocínio que recebi, fiz uma grande reforma, que ficou caro. Eu troquei tudo que era de madeira por parte metálica, quase todas de alumínio e, as correias, instalei sem emendas, correias ’v’. Aí não teve mais problemas. Agora, em duas horas eu deixo em condições de exibição”, ele fala.
Outro fato que chama atenção nas memórias de Sr. Nelson é que ele tem notícias que o presépio feito por sua família, lá na Itália em 1884, é considerado o primeiro presépio com figuras em movimento do mundo e, aqui no Brasil, em 2011, o livro dos recordes brasileiros, o RankBrasil reconheceu o mérito de ter sido iniciado em 1906 o primeiro presépio mecânico do Brasil, pelo seu avô Vicente. “Já está no livro dos recordes, agora, eu estou dando continuidade, vamos ver até quando consigo exibi-lo”, completou.
A exposição do Presépio Mecânico Curcio é aberta ao público, todos os dias, até 06 de janeiro de 2020. O endereço fica na Rua Bahia, 463, na Vila Cristovam, no horário das 9h às 11h, e das 14h às 18h.
“Essa obra, alcança todo os ramos de arte, tanto na mecânica quanto na pintura, ou escultura. Eu consigo agradar a todos, todas as idades, homens, mulheres, estudantes profissionais, pessoas leigas. Cada um encontra dentro de seu conhecimento algo aqui que corresponde. Eles gostam muito. Consegui um bom equilíbrio da arte nesse sentido”, conclui Sr. Nelson.