A arte de cantar viabiliza externar as mais belas expressões e amplificar as maravilhosas melodias nascida nos corações inspirados passando de geração a geração. Cada pessoa prova a necessidade de exprimir os seus sentimentos, ora de alegria, ora de dor, mediante o canto, cuja manifestação tem estreita relação com o dom de ouvir. Através do canto o ser humano modula a sua voz e se dirige à natureza, aos outros seres, assim como a Deus. Não é a toa que dizem “quem canta seus males espanta”.
Fomos conversar com Cristiele Araújo, 25, artista brincante, musicista e cantora, para saber se as pessoas ainda cantam dentro de casa, realizando tarefas e como essa cantoria influência no aprendizado das crianças e na harmonia do lar. Cristiele iniciou a vida musical durante a infância, por influência dos pais e irmãos. Ela afirmou que “a voz é o instrumento mais acessível e democrático que existe” e o “canto contribui para diversas áreas de desenvolvimento”. A cantora é formada em licenciatura em música pela UNIMEP, em seu currículo, participou na banda “Elvis In Concert” como backing vocal (2011-2019), foi coralista do “Coral da Orquestra Sinfônica de Limeira” (2012-2016). Participou do Projeto Rondon, realização do Ministério da Defesa, atuando na formação de professores, e em atividades culturais com crianças e adolescentes, em Jurema (PE), no ano de 2015 pela UNIMEP. Atualmente é professora de música no colégio Dom Bosco Assunção em Piracicaba, e seu principal projeto, hoje, é o grupo de música infantil “Formiga Balão”. Leia nossa entrevista feita pelo Facebook;
Jornal Pires Rural: Quem canta seus males espanta. As pessoas cantam no dia a dia? Realizando as tarefas diárias?
Cristiele Araújo: A prática do canto é sim realizada diariamente pela grande maioria das pessoas, um cantar despreocupado e com o único intuito de tornarem o dia mais leve. A voz é o instrumento mais acessível e democrático que existe por isso, grande parte das pessoas cantam no dia a dia, mesmo que seja o famoso “cantar no banheiro”.
Jornal Pires Rural: O cantar é importante para o ser humano?
Cristiele Araújo: Com certeza. Enxergo o cantar como parte do autoconhecimento do ser humano, o ato de cantar implica em entender como seu corpo funciona e como dentro de si pode fluir a música. O canto contribui para diversas áreas de desenvolvimento e, para muitas pessoas é tido como um “momento terapêutico”. Eu acho isso lindo e poderoso, é o poder da conexão com nosso ser que nos permite cantar com liberdade e fluidez.
Jornal Pires Rural: O cantar serve pra aliviar as tarefas, para não sentir-se incomodado ou para alegrar o ambiente, alegrar a família que é o público presente na cantoria laboral?
Cristiele Araújo: Eu não discordo dessa colocação mas, tenho alguns outros olhares. O cantar vai muito além de “aliviar as tarefas ou alegrar ambientes”, mesmo quando se pensa no cantar laboral, que é esse feito durante os trabalhos, sem foco na música executada propriamente. Por que digo que vai mais além? Porque dentro da arte de cantar existe um processo interno de quem o faz, e mesmo quando é despretensioso o cantar, o benefício atinge o ser como um todo, se ele está de braços abertos para isso. E é claro que dessa maneira ele vai contagiar todo o ambiente, pois não há como não se deixar levar por melodias cantadas com alegria.
Jornal Pires Rural: O cantar e as letras das composições são carregadas de ensinamentos, dos valores de um povo e de uma língua. A origem de muitas canções são antigas, sabe nos dizer se o século 21 já produziu algum cantar que possa ser incorporado às tradições?
Cristiele Araújo: A música cantada é carregada de histórias desde muito tempo, e nunca será diferente. Cada momento o mundo vive tendências em todos os âmbitos da sociedade, e na música também é assim e, o cantar caminha junto com essas tendências. O século 21 vem trazendo novas formas do fazer musical, percebe-se sim mudanças na maneira de fazer, ou no que é considerado “bacana” ou virtuosismo. Mas, o que me vem a cabeça, a partir dessa pergunta é justamente o quanto todos os momentos da história tem muita riqueza, e cada um da sua maneira contribui pra evolução dos conhecimentos. Então, acredito que sim, que muitas das formas de cantar que vem sido trazidas ou colocadas em evidência, irão marcar esse momento da história, talvez criando novas tradições.
Jornal Pires Rural: A pandemia do novo coronavírus deverá ser motivo para criação de canções, sobretudo para aliviar a dor?
Cristiele Araújo: Olha, como vivemos agora um momento único e nunca antes vivido, é difícil dizer que será ou não será. Porém, acredito que essa pandemia tem conectado mais as pessoas com o autocuidado, e a preocupação com coisas não palpáveis. Acho que dessa maneira, não digo que podem ter mais canções para aliviar a dor, mas sim, canções que contribuam para a esperança, para o amor com o próximo, para a cura, não da dor em si, mas sim das questões subjetivas do ser humano.
Jornal Pires Rural: O que é necessário para preservação e continuidade do saber popular através das canções?
Cristiele Araújo: Eu acredito que os saberes populares só se mantém quando são levados a diante, e é isso que deve continuar acontecendo. Para se preservar algo é preciso alimentar e cuidar, e a era digital tem nos afastado daquilo que passa de “boca a boca”, daquilo que é cantado em festas tradicionais.
É preciso que nós tenhamos a responsabilidade de continuar oferecendo e compartilhando com as crianças o que temos de conhecimentos, seja no cantar ou em qualquer outra área da vida, são as crianças que darão continuidade a tudo o que sentimos que deve ser preservado, então, se eles não conhecem e não aprendem a fazer gosto, as tradições se perdem.
Que demais Cris! Talentosíssima demais essa guria! 👏🏼👏🏼👏🏼