Jornal Pires Rural – Edição 229 | CORDEIRÓPOLIS, Maio de 2019 | Ano XIII
Na última semana de maio de 2019, o Centro de Citricultura Sylvio Moreira, em Cordeirópolis, SP, realizou a 41ª Semana da Citricultura, a 45ª Expocitros e o 50ª Dia do Citricultor. Criado e mantido como estação experimental, alinhou-se ao crescimento da citricultura paulista, tornando-se polo gerador de conhecimentos, tecnologia, prestação de serviços e formação de recursos humanos. Seus resultados e ações visualizam o futuro da citricultura e a realização da Semana da Citricultura é uma oportunidade que a Instituição abre para receber a comunidade, produtores, estudantes e pesquisadores para exibir como tem desenvolvido seu conhecimento científico e tecnológico. Nessa oportunidade o Jornal Pires Rural conversou com dois de seus pesquisadores, engenheiros agrônomos, sobre as variedades de frutas cítricas em exposição.
De acordo com a pesquisadora Marinês Bastianel, no stand do centro de citricultura está exibindo “algumas variedades do nosso programa de melhoramento – são vinte anos de trabalho e de estudos. São as variedades que estão em fase final de seleção. Trata-se de um material novo do nosso programa e que estamos mostrando pela primeira vez para o público e para o produtor. As variedades estão disponíveis para o produtor na sua região, na sua propriedade e ela pode se tornar uma variedade comercial ou não. Trouxemos variedades com grande potencial comercial. Dentre elas está aí a Maria – que foi a primeira variedade desse programa e a gente lançou, registrou e protegeu no MAPA e estará em breve sendo disponibilizado para plantios comerciais. As variedades que estão em avaliação são as tangerinas, as laranjas, alguns limões, a maioria delas são variedades bem novas que não estão em plantios comerciais. Pra chegar no mercado depende da cadeia como um todo desde a aceitação e plantio pelo produtor e aprovação pelo consumidor. O mercado é um caminho bem longo a ser percorrido. Mas, trata-se de variedades com grande potencial”, ela destacou.
Para o pesquisador José Dagoberto de Negri, relatou sobre a edição 2019 do evento, “a Semana da Citricultura é um evento de expressão nacional – talvez o maior evento de citricultura do país – realizado junto com a Expocitrus que é a feira de negócios, de exposição de materiais, insumos. Nesses mais de quarenta anos temos aprimorado cada vez mais, com objetivo de fornecer ao produtor e aquele que esteja interessado, o melhor possível. O encontro do produtor com as empresas de insumos é importante para acontecer uma troca de informações entre ambos. A programação técnica que nós temos através das palestras tem sido muito bem aceita, acertamos na temática. E nos últimos anos, esta edição está sendo a de melhor público e de maior apoio pelo mercado”, revelou Dagoberto.
No último dia da Semana da Citricultura 2019, todas as palestras do período da tarde, tiveram o greening como tema. O greening (huanglongbing/HLB), principal desafio fitossanitário da citricultura mundial, está presente em todo cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo e Sudoeste Mineiro, são aproximadamente 35,3 milhões de árvores doentes. As regiões com maior incidência de laranjeiras com greening são Brotas (58,16%), Limeira (34,01%), Duartina (32,78%), Porto Ferreira (27,41%) e Matão (18,32%). No Triângulo Mineiro, levantamentos indicam que a doença está presente na região em níveis muito baixos. Conversamos com três citricultores, do bairro dos Pires, em Limeira, que nos informaram sobre o momento atual no manejo de seus pomares e responderam a pergunta: se a citricultura faz falta? Confira os depoimentos;
Citricultores
Eli Aurelio Cornia; “Trabalho a minha vida inteira com laranja – tive experiências com outras culturas mas, o principal foi a laranja, até hoje. Uma doença que existe há bastante tempo é a leprose – tem bastante aqui na propriedade. Por um erro de aplicação que a gente comete, entra esse tipo de problema. Mas, é possível recuperar e fazer voltar a produção normal da fruta. Hoje, além disso, há o problema do greening que está no nosso meio – uma das pragas efetivamente drástica na laranja – prejudicando muito os produtores. Para manejo, em termos práticos, seria uma aplicação de produtos específicos e a erradicação dos pés doentes. Só que se a gente erradicar os pés doentes a gente elimina mais ainda a citricultura nossa. Que é um dos meios que muitos ainda estão sobrevivendo. Mas está difícil”, apontou Eli.
Ao ser perguntado se a citricultura faz falta? Eli Aurelio repondeu: “Faz. Da maneira de cultura nossa aqui no bairro. Mas, existe como mudar e alterar o nosso meio de atividade sim. Há 30 anos atrás a margem de lucro era muito boa, havia menos gastos. Hoje, foi se alterando e os custos foram aumentando e a margem de lucro foi diminuindo bastante. Temos que olhar bem firme para tomar um certo cuidado pra não entrar em dívidas. Agora nossa propriedade tem 30% só de laranja. Há 20 anos atrás era 100%, a principal fonte de renda. A gente não para mas também, diversifica as culturas na propriedade, para se adaptar à realidade. O milho é uma cultura que dá para trabalhar mas ,a mão de obra é cara. Estamos nos adaptando e aprendendo a trabalhar”, frisou.
Rogério Schnoor: “Eu comecei com mudas de laranjas numa área pequena, hoje, tenho um arrendamento com pomar de ponkã. Temos um problema sério com o greening. Estão sendo lançados produtos novos, eu acompanho, estive na Semana da Citricultura, vendo as novas tecnologias. No passado, não se usava agrotóxicos, a fruta era produzida naturalmente – não foi da minha época, sim do meu avô e meu pai. Começou plantar demais e tudo o que você desenvolve mais numa região vêm as pragas junto. Problemas como o ataque de ácaros e aí vieram as primeiras soluções, o que fazer, como fazer. A população não quer uma fruta manchada, com defeitos, ocasiona a obrigação do produtor oferecer uma fruta bonita para o consumidor. Desta forma, entra os venenos na tentativa de controle e, através disso a gente continua trabalhando. Não tem como produzir laranja sem agrotóxicos. A gente procura respeitar as carências, mesmo assim ainda está complicado devido às pragas. Durante a produção aparecem as manchas nas frutas e não tem como produzir frutas orgânicas, nos dias de hoje. Alguns vizinhos tentaram uma produção orgânica mas, não tiveram sucesso, e desistiram da citricultura”, descreveu.
A citricultura faz falta? “A citricultura faz falta. Na nossa região são poucos os citricultores que sobraram. A região de Limeira migrou para cana de açúcar e outras culturas e segmentos. Os proprietários venderam os seus sítios para corretores de imóveis e estes fazem loteamentos de chácaras de lazer. Em Limeira mora citricultores mas, não temos mais a citricultura, foram produzir em outras regiões do estado de São Paulo e outros estados do país – como alternativa de continuar na citricultura”, comentou Rogério.
João Carlos Stahlberg: “Estamos lutando para ver se conseguimos permanecer na citricultura. Eu aprendi com meus pais e meus avós que era outro cultivo, outro trato e hoje estamos enfrentando o greening. Não está fácil devido a incidência da praga. Aqui no bairro tem muitas chácaras com plantas doentes, além das outras pragas como a leprose e ácaro. Estamos tentando, pra avaliar se continuamos ou mudamos de cultura. Não é fácil mudar a cultura de repente porque o investimento é muito alto”, falou.
A citricultura faz falta? “Sim. É uma cultura que emprega muitos trabalhadores. A cada safra muita gente vive ainda da citricultura aqui no bairro. A fábrica (de exportação de suco) vem esmagando o pequeno produtor que não recebe o preço pra manter a atividade. E com a incidência do greening esmaga os pequenos produtores. A alternativa são as vendas direto ao consumidor (sair da fábrica). Consigo pegar um preço melhor vendendo para os feirantes, revendedores de frutas. E a troca de variedades ajuda para ter colheita o ano todo. Lima, westin, mexerica, ponkãn, chegando na pera você tem mais renda durante o ano”, destacou João Carlos.