Entrevistamos Dr. Antônio Fernando Graf, limeirense, cirurgião dentista formado pela USP, funcionário público na rede municipal de saúde de Artur Nogueira, SP. Além do atendimento em seus dois consultórios clínicos, trabalha na Unidade Básica de Saúde Teresinha Vicensotti, em Artur Nogueira, onde todos os profissionais já receberam a vacina Coronavac, que tem como objetivo proteger da Covid-19.
Jornal Pires Rural: De que forma a pandemia do novo coronavírus afetou a sua vida? Você conseguiu trabalhar, perdeu algum ente querido; de que forma a sua rotina foi afetada?
Dr. Antônio Fernando Graf: A pandemia pegou todos de surpresa, e na minha profissão de dentista, o risco de contaminação é extremamente alto. Foi impactante quanto a parte financeira por não poder atender a todas as especialidades, focando mais nas emergências e procedimentos menos invasivos, mais o medo de pegar essa nova doença e levá-la para casa era muito grande.
Todo dentista é um cirurgião. O spray gerado pela alta rotação do motor utilizado pelo dentista gera uma névoa contendo tudo que tem de bom e ruim na boca da pessoa. Por isso que tivemos que diminuir o número de atendimentos para dar tempo desse ambiente ser renovado com uma higienização criteriosa com tudo o que está dentro do consultório odontológico.
Jornal Pires Rural: Quando foi anunciado a pandemia e, que somente uma vacina seria a esperança para frear o vírus, além do distanciamento social e o uso de máscaras, você conseguiu se imaginar recebendo a primeira dose da vacina, antes do período de um ano?
Dr. Graf: Não mesmo. Porém, depois de acompanhar as entrevistas dos pesquisadores, vi que era possível ser desenvolvida uma vacina num prazo mais curto que o usual pois, o coronavírus já vem sendo estudado desde 2002 quando apareceu a Sars, na China. Os pesquisadores não partiram do zero para fazer essa vacina, já tinha uma plataforma montada. A vacina da Sars, somando, foi desenvolvida antes porque ficou restrita a China. Naquele momento não havia o nível de globalização de hoje.
A pesquisa científica sempre foi importante, nesses casos é mais específico. A Covid-19, foi o fato de ser uma pandemia mundial onde todos os países foram obrigados a incentivar financeiramente para se obter uma vacina segura e eficaz.
Jornal Pires Rural: Você acredita na ciência e que todos devemos ser vacinados. Você acredita que dado o início da vacina as pessoas que temem ser vacinadas vão mudar de ideia?
Dr. Graf: Acredito que sim e, que todos devemos ser vacinados. Todas as vacinas são seguras, inclusive as que estamos utilizando, a do Butantã e da Fiocruz, pois, são vírus inativos. Quando a vacinação começar de forma mais abrangente, tenho certeza que todos irão tomar, pois irão perceber que os efeitos colaterais relatados são pouquíssimos (dorzinha no local). A vacina é vida.
Jornal Pires Rural: Os profissionais da saúde estão exaustos e não temos uma demanda maior por novos profissionais para atender os pacientes de forma geral. Você, como profissional da saúde, se sente muito mais tranquilo com a vacinação? Conte um pouco da angústia de um profissional da saúde no atendimento durante a pandemia.
Dr. Graf: Sim. Com certeza. Com a imunização através da vacina, poderemos desenvolver nossas atividades com menos receios. Porém, os cirurgiões dentistas sempre estão atentos ao risco de infecções, desde hepatite, AIDS, etc. Mas, com a Covid-19 é mais tenso o atendimento, pois a facilidade em ser contaminado é muito maior. Creio que novos profissionais irão se interessar pela área de saúde, pois, é uma área aberta e com bastante demanda e o principal, é muito gratificante.
Jornal Pires Rural: Como define o momentos que estamos vivendo com a chegada da pandemia? Você prevê um ‘novo normal’ nas relações humanas? Aprenderemos algo com tantas perdas pessoais e materiais? Sairemos mais humanos dessa crise sanitária?
Dr. Graf: Eu sempre ouvi dos meus pais que todo sofrimento gera um aprendizado. Com certeza mudou muito a maneira de enxergarmos o mundo. Creio que as cobranças exageradas pelo perfeito, sucumbiu com um vírus letal e, nos fez enxergar que temos os nossos limites, somos humanos, pecadores e imperfeitos. O novo normal deverá ser de maior tolerância entre as pessoas e crença nos valores verdadeiros que são muito maiores do que poder, dinheiro, fama, ostentação. Com certeza sairemos melhor dessa. Acredito no ser humano.