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‘É NO SILÊNCIO DAS COISAS’ – exposição de Antonia Peixoto Fischer, aos 88 anos 

Posted on junho 12, 2025junho 12, 2025 By Adriana Fonsaca Nenhum comentário em ‘É NO SILÊNCIO DAS COISAS’ – exposição de Antonia Peixoto Fischer, aos 88 anos 

É no silêncio das coisas – O “pano de prato” seca a mão, seca a louça, pode estar pendurado ou no ombro daquele que prepara o alimento… permeia nosso cotidiano como um utensílio da cozinha, constituído na rusticidade de sua matéria: tecido de algodão. Também podemos vê-lo ornamentando o espaço que acaba de ser limpo. Enfim, muitas utilidades dentro do ordinário dos dias… mas, para a “vó” Antonia o pano de prato ganhou um status de inspiração e ponto de partida para a construção de sua prática artística. 

Para a artista, a cozinha é bem mais que um cômodo onde se prepara o alimento, é o lugar do afeto, do encontro, memória e conexão emocional. De uns anos pra cá, no desejo de se expressar, dimensionou-se a função primordial desse espaço e a mesa da cozinha extrapolou sua função de acolher a família ou sovar a massa de pão. E, abriga hoje lápis de cor e giz de cera, papéis e materiais que transcrevem essa necessidade de dar forma a sua expressão, transformando em formas e desenhos seu modo de ver a vida, compartilhando aqui através de sua poética produção. 

“A mente da gente se distrai quando estamos fazendo o desenho, assim não ficamos pensando em ‘coisarada’. Ficamos pensando só no desenho que a gente está fazendo”, comenta Antonia Peixoto Fischer. 

A exposição artística ‘É NO SILÊNCIO DAS COISAS’ de Antonia Peixoto Fischer foi aberta ao público dia 10 de junho e continuará até o dia 21 de junho, na Galeria FAAL Limeira (SP), Av. Antônio Eugênio Lucato, 2515, Vila Camargo. A curadoria é de Lea Moraes e Wesler Machado, a produção gráfica de Raissa Geremias e Victor Rodrigues. 

Após a abertura da exposição, a artista participou de um bate papo com alunos da FAAL (Faculdade de Administração e Artes de Limeira), visitantes e familiares. 

Os curadores Lea e Wesler proferiram a abertura da exposição juntamente com a diretora Kenia Lyra e coordenadora Cristiane Nabarreti da FAAL.  

Antonia Peixoto Fischer ao lado de Kenia Lyra diretora da FAAL, Wesler Machado e Lea Moraes curadores da exposição e Cristiane Nabarreti coordenadora da FAAL (foto:Jornal Pires Rural)

“Hoje é uma noite importante pra nós porque nesse nosso caminhar de tentar trazer e aproximar obras de arte e artistas, a gente está aqui com a exposição da dona Antonia – alguém que têm produzido arte com a história que ela tem – e trazer os alunos para esse contato. Pra se montar uma exposição precisa de coisas, da beleza do artista que produz – até a gente achar um modo pra contar a história muitas pessoas colaboram. É um trajeto bonito, tão bonito quanto é o trabalho dela, fazer com que ele possa ser visto por vocês com essa grandeza também. O bate papo com o artista é uma iniciativa que a gente tem na Galeria FAAL pra fazer essa aproximação entre a produção da artista e os alunos também. A vinda da dona Antonia pra cá foi uma iniciativa do Wesler Machado e eu achei muito bonito a proposta, por dois caminhos: um, é nós podermos acessar o trabalho dela e a outra, é ela entender a dimensão do trabalho dela quando a gente coloca ele na vista das pessoas. Uma galeria de arte não é o lugar instaurado da arte somente. O artista produz primeiro por si, mas quando a gente traz esse protagonismo pra galeria e para o bate papo a gente está tentando retratar os valores implícitos nas suas produções”, destacou Lea Moraes. 

Wesler Machado destacou o estilo das obras de dona Antonia pelo fato dela ser autodidata, sem formação no campo artístico e possuir total liberdade estética.“Quando a gente fala do grande mercado de arte, na verdade, está em movimento. No caso da dona Antonia, a gente pode considerar uma artista Naïf, que não tem informação da história da arte, entre outras coisas, mas é uma pessoa que dentro da sua produção tem quase cem trabalhos – é uma pessoa que faz. A arte é isso, é fazer. E depois vem as consequências. Ela falou: ‘Nunca imaginei estar aqui hoje’ -, é uma consequência do trabalho dela”, afirmou.

Antonia recebeu muitos elogios dos visitantes. A sala da Galeria ficou muito colorida e mais iluminada com a alegria de seus desenhos. Logo após, ela recepcionou os convidados e alunos na sala de aula da instituição para um bate papo sobre as suas ideias, valores e produção artística. A espontaneidade é uma característica, sempre pronta para as respostas, revela a audição e raciocínio ao receber parabéns de todos os presentes pelos 88 anos completados no dia 11 de junho. 

Antonia entre familiares
Antonia entre netos e bisnetos
Antonia entre suas filhas e filho

Depois das apresentações sobre a sua obra ela foi direta: “Eu vou dizer que eu comecei a pintar quando eu era criança, eu gostava da aula de desenho na escola, né! Eu sempre gostei. Eu comecei pintar os desenhos, todos me ajudaram: minhas filhas compraram cartolina pra pintar os quadros – a Camila (neta) e o Wesler (esposo de Camila) levou pra colocar no quadro. Eu sozinha não ia consegui, né? É um pouco pra distrair a cabeça da gente porque a gente fica naquilo ali ou quando tá pensando em alguma coisa. Eu gosto de escrever também. Mas escrever, foi desde 1972 quando meu pai faleceu que eu comecei a pensar como poesia. Se eu pensava alguma coisa de noite, eu tinha que levantar e copiar no papel senão no outro dia eu não lembro daquilo que eu tava pensando em escrever. 

Eu desenhava na escola e depois parei. Eu sempre gostei de bordar também, bordar os panos. Tem um bordado que eu bordei quando era moça, antes de casar, que está aí na exposição, a casinha – a Joice (neta) que pegou pra por na exposição. Eu quero pintar essa casinha (do bordado) do jeito que tá ali, num quadro. É assim a vida da gente, né: desenhando, escrevendo o que a gente pensa ou desabafando como eu desabafei bastante depois que danadinha foi-se embora eu comecei desabafar no caderno: a Joice foi embora; a Joice não ligou; a hora que ela ligava. O desabafo está lá. 

Esses dias eu peguei e fiquei olhando, mas não posso olhar porque as lágrimas escorrem. A família pra mim é muito querida e eu acho que todos eles tem me ajudado muito depois que meu marido ficou doente. E a minha vida é essa, escrever, desenhar, cozinhar, eu gosto muito de fazer os meus pãozinhos de domingo, fazia muito doce, mas depois que meu marido deu diabetes nele, eu parei. 


“Eu comecei pintar nas folhinhas de calendário (na parte de trás)” (fotos:Jornal Pires Rural)

“Quando acabava o ano eu pegava a folhinha, aqui vai servir pra eu fazer um desenho”

Outra coisa também: da mentira eu nunca gostei! A mentira não é coisa boa. A gente tem sempre que falar a verdade, seja ela como for. Uma vez aconteceu um caso, eu vou contar pra vocês: eu derrubei uma gaiola de passarinho que meu filho tinha na parede, lá no alto da parede com dois passarinhos e morreu o passarinho. Eu falei pra ele que o passarinho tinha morrido, mas fiquei meio assim. Depois falei: não, eu vou contar a verdade – eu que derrubei a gaiola, porque fui mudar a gaiola de lugar, porque estava batendo sol no passarinho. E, caiu no chão e do jeito que caiu morreu o passarinho. E ele gostava muito dos dois passarinhos, era canarinho. A gente tem sempre que falar a verdade, doa ou não doa. É isso que acho da minha vida”, discorreu. 

Na sequência de perguntas à Antonia, a supresa da quantidade de pinturas prontas para a exposição que chega a quase cem unidades.

“Faz uns dez anos que comei pintar. Eu comecei pintar nas folhinhas de calendário (na parte de trás). Quando acabava o ano eu pegava a folhinha, aqui vai servir pra eu fazer um desenho.  Agora, no caderno, foi quando eu fui no supermercado com meu marido, quando ele ainda estava bom, que a gente ia fazer compra. Comprei o caderno, lápis de cor e giz de cera. Eu via os desenho que achava bonito e pegava e punha no papel pra fazer. Tem muitos desenhos ali que eu inventei: aqueles quadrinhos coloridos, o arco íris eu achei que ficava muito bonito. No primeiro caderno meu tem essas coisas ali. É assim a vida da gente”, contou Antonia. 

O fato de Antonia ter começado escrever depois da morte do pai e sempre se referir a dor da distância geográfica da neta mais velha, fazem a pergunta: “A sua dor levou a senhora a se expressar através da arte. A perda do pai, depois uma certa ‘perda’ da primeira neta. Esse foi o motor?” 

“Eu comecei escrever depois que meu pai faleceu. Comecei ideiar versos e escrever. O desenho, acho que foi depois que ela foi embora, expandia o que eu sentia. Tem muita gente que guarda tudo pra si. Eu não. Eu desabafava no caderno, escondida do meu marido. E chorar, eu não podia chorar perto dele que ela falava que eu era uma tonta de estar chorando. 

O meu marido ia dormir mais cedo, eu ficava na cozinha. Um dia ele sentou junto na mesa pra tomar café do meu lado na cozinha, daí eu falei: vou pegar meus desenhos e vou desenhar um pouco. Ele pegou os meus cadernos, começou olhar meus desenhos (e disse): ‘você virou muito criança pra tá desenhando?’”, recordou.  

Antonia entre os alunos da FAAL e seus familiares (foto:Jornal Pires Rural)

Wesler intervém: “Com relação a produção da dona Antonia, é legal a gente pensar como ela tem os pensamentos de perda, mas transmite alegria no desenho – você não vê esse sentimento no desenho. Isso é muito importante pra arte, por que a gente não pode ficar preso na perda e sim no que a gente vai fazer com ela. E como ela revela isso no papel é uma forma bem interessante por que os desenhos dela são todos alegres. O guardanapo é um ponto de partida, mas você pode colocar o pano de prato do lado do desenho e é isso que faz ser o artista: vem a fotografia, vem a impressão e nunca vai substituir o artista porque o artista tem o sentimento e o seu gesto único também. 

A exposição do Picasso que veio pro Brasil, uma das últimas, ele fala que ele começou desenhar quando criança e quando ele ficou velho que ele voltou a desenhar como criança. Eu acho que a gente não pode perder essa criança que está dentro da gente”, afirmou Wesler. 

“Quando eu tinha 15 anos sabia desenhar como Rafael, mas precisei uma vida inteira pra aprender a desenhar como as crianças”, Picasso.

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