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Uma conversa sobre a Comunidade Rural Nossa Senhora de Fátima, bairro dos Lopes em Limeira

Posted on dezembro 7, 2025dezembro 9, 2025 By Adriana Fonsaca

Adriana Fonsaca |||

O bairro rural dos Lopes, Limeira (SP), situado às margens da rodovia Anhanguera km 135, sentido capital, tem um loteamento em meio a área rural, incluindo posto de saúde, escola e igreja, Antes da existência do loteamento, o bairro não tinha uma comunidade rural católica, então, as famílias de sitiantes, colonos, trabalhadores rurais buscavam as comunidades rurais católicas do Senhor Bom Jesus, no bairro rural dos Pereiras na rodovia Anhanguera, também recorriam a comunidade Santo Antônio e São Sebastião no bairro rural Tatu ou Nossa Senhora Aparecida no bairro rural Jaguari. 

O bairro dos Lopes é extenso com muitas peculiaridades que o torna multicultural. A região do bairro onde se localiza a comunidade rural católica Nossa Senhora de Fátima tem uma cultura de famílias descendentes de imigrantes italianos que se instalaram ali, em fazendas, para trabalharem na agricultura através de contrato meeiro. Trata-se de núcleos familiares numerosos que junto aos colonos de várias fazendas da região e famílias que migraram para Limeira, devido ao êxodo rural, movimentava a comunidade. 

A proximidade geográfica do município de Americana (SP), e do bairro rural Tatu, em Limeira, que funcionou como distrito administrativo de 1944 a 1953, não privou a comunidade de empregos oferecidos no distrito por setores como indústrias, educação, cultura, lazer e transporte ferroviário. 

Assim como outras comunidades católicas rurais, a comunidade dos Lopes também sofre com o esvaziamento de jovens e o envelhecimento daqueles que idealizaram e trabalharam pela comunidade levando-os a decisão de não realizar mais as festas e quermesses. Atualmente a comunidade rural de Nossa Senhora de Fátima realiza a missa e coroação da padroeira com uma confraternização entre os fiéis. 

As celebrações acontecem todos os sábados, às 16h30.

Luiza Turqueti Ferraz, Marlene Regina Crepaldi Soares de Oliveira, Maria Cristina Ferraz Turqueti, Maria Turqueti Crepaldi, Ângelo Turqueti e Fátima Marli Valloto Chenfer – (Foto:Jornal Pires Rural)

Eu conversei sobre a comunidade com Luiza Turqueti Ferraz, Marlene Regina Crepaldi Soares de Oliveira, Maria Cristina Ferraz Turqueti, Maria Turqueti Crepaldi, Ângelo Turqueti e Fátima Marli Valloto Chenfer.  

Marlene conta que sua avó, muitas vezes ia à missa em Limeira. “Existia um anseio de ter uma igreja aqui e foi o que moveu a construção de uma comunidade. A família Sonego loteou o sítio aqui e doou este terreno para a construção da igreja. No terreno, ao lado, foi construído a escola – a primeira construção nessa área e o centro comunitário -, o posto de saúde veio muito tempo depois. É que tinham deixado a área para a escola onde está construído o posto de gasolina, na frente da rodovia Anhanguera. Aí, quando o dono do posto Figueira Branca precisou de mais terra para ele ajeitar o negócio dele, o restaurante e tudo, ele deu este terreno para a escola ser construída aqui – ele fez uma troca. A escola começou lá nas margens da rodovia Anhanguera, feita pelos moradores”, revelou Marlene. 

Luiza Turqueti Ferraz, hoje com 82 anos, relata as dificuldades da criança ir para a escola na Fazenda Moinho Azul, descrevendo quando ela tinha nove anos de idade. “Então, porque a primeira vez que eu vi a professora aqui eu estava, acho que com nove anos, que eu entrei na escola, porque era muito longe para ir lá. Eu tinha que andar três quilômetros no meio de um pasto, entre meio de vacas que corriam atrás de nós. A escola era lá onde é que é a Fazenda Moinho Azul, que fala – meus irmãos mais velhos do que eu também estudaram lá. E a (rodovia) Anhanguera não existia. Havia uma estrada que passava pelo bairro Carioba (Americana) e subia pra cá pela Fazenda Moinho Azul – passava por lá e depois subiu pra cá. Aqui ela passou no meio de um sítio dessa família Sonego”, detalhou.

Maria Turqueti Crepaldi tem 87 anos de idade, ela estudou na escola da Fazenda Moinho Azul. “A escola era a par com a casa sede da fazenda. A gente estudou até o terceiro-ano, não tinha quarto-ano, nem quinto-ano -, então era uma sala só para todos os anos. Tinha um ônibus, uma jardineira – a mãe falava jardineira velha, né? Aí levava as crianças até lá, de manhã. Mas, pra voltar a gente voltava tudo a pé. Minhas primas daqui do bairro iam junto, tinha bastante gente por aqui porque a família Turquetti é grandinha”, explicou.

“Tinha gente da família Colete, eles moravam por ali também, entre o bairro dos Lopes e o bairro do Jaguari. Tinha gente da família Bernardo, da família Spagnol, da família Picin”, recordou Luiza e acrescentou,“Mas antes disso, a escola começou primeiro lá na fazenda Paschoal de Luca. Então, tinha a casona sede e tinha um quartinho lá, que era um cômodo só, que se tornou uma escola”, recordou Luiza. 

Ângelo Turqueti também foi alfabetizado na fazenda de Luca. “Era pra baixo da casa, né? Perto do portão da entrada. Eu lembro. E eu comecei (estudar) lá, era pertinho. A professora era parente do dono da fazenda – ela queria dar aula aqui, então, ele cedeu o cômodo pra ela dar aula. Depois que fez a escola onde que é o posto de gasolina agora, a gente veio estudar aqui. Quando era Pascoal de Luca a fazenda tinha pomar de laranja, pasto, gado e lavoura porque tinha colono que trabalhava”, disse. 

Luiza traz mais informações sobre a fazenda: “Tinha duas colônias na fazenda, do outro lado (da rodovia Anhanguera, sentido interior). Mas a fazenda de Luca ia até o quilômetro 4,5 da rodovia 133 (Limeira – Cosmópolis), e se estendia até o caminho do bairro rural Jaguari”. 

“O meu pai Osvaldo Crepaldi, quando solteiro morou numa dessas colônias. A família de treze irmãos que trabalhavam em fazendas vieram da Fazenda Morro Azul. Meu pai veio morar na colônia com a família dele, mas a minha mãe morava no sítio Turquetti aqui”, disse Marlene. 

Maria Crepaldi conta como o casal Osvaldo e Maria Turqueti, pais de Marlene se conheceram: “Eles iam na estrada de rodagem lá, ver os carros passarem. Aqui existia esse hábito de ver os carros passarem”. 

Ângelo entra na conversa e detalha, “até eu me lembro que era um molequito – os Turquetti moravam aqui, né. Lembro que à tarde, depois do jantar – porque eram quatro famílias que moravam juntos na mesma casa (no sítio do avô) e tinha uma outra família que morava aqui em cima. Eu lembro que eles falavam: ‘Vamos passear lá no estradão’ – eu molequito ia. Eu lembro que ia. Era a estrada de rodagem, todos ficavam lá esperando os carros passarem – não tinha um local pra se abrigar. Lá as pessoas se encontravam”. 

Marlene diz que a estrada de rodagem foi asfaltada na época de 1960. “Eu vim morar aqui em 1968 e já estava asfaltado. Nós íamos na igreja do (bairro) Tatu, na festa de São Sebastião. Nos encontrávamos todos lá. E subíamos de volta aquela estrada, andando a pé no escuro e ninguém se cansava”, contou Fátima.  

“A gente ia de manhã na missa em Tatu, voltava pra casa. E, à tarde voltava na festa em Tatu pra ir na procissão – sempre a pé. Depois, o meu pai tinha o caminhão que levava. Aí, ia catando todas as pessoas; enchia o caminhão”, recordou Luiza. 

O casal Domenico Turquetti e Rosa Fornazari se estabeleceram no bairro dos Lopes, tiveram dez filhos: Thereza; Antonia; Santo; Pedro; Regina; Joaquim; Antonio; José; Anna; João e Pedro. Alguns filhos se casaram e ficaram morando na mesma casa dos pais, como é de costume na cultura das famílias descendentes de imigrantes italianos. Foram três famílias sob o mesmo teto, ao todo vinte e três pessoas.

“Eu nasci ali. Quando a família mudou em outro sítio, eu tava fazendo sete anos. Ali nasceu eu, o Jorge, Tite (João) e a Tita (Maria) – o ‘italiano’ gosta de pôr o apelido (risos). Antigamente, a família era numerosa. E essa ‘raça italiana’ não era gente que trabalhava de empregado”, afirmou Ângelo. 

“Eles foram comprando terras. Compraram um pedaço do sítio, depois compraram outra parte, foi assim. E ficaram. A casa era enorme, cada quarto cabia duas camas de casal, dois guarda-roupas, cômoda -, cabia todos esses móveis e não enchia o quarto. E a gente nasceu lá. Eles compraram terra porque a família não tinha nada, foi conquistado trabalhando. A família era numerosa e todos trabalhavam. Eu era pequenininha, tinha três anos quando o nôno morreu. Chegamos a ficar em vinte e três pessoas, de três famílias: meu pai, o tio Santo, o tio João e o tio Pedro. Eles moravam tudo numa casa só – cada um tinha um quarto pra família inteira”, disse Luiza. 

Ângelo conta que o serviço que tinha era de meeiro porque tinha lavoura de café na região. “Depois quando acabou o café, tinha lavoura de melancia, de algodão. Aquela paisagem na frente do posto Figueira Branca que você vê daqui, lá no alto era a fazenda de Luca, tudo plantação de melancia, de algodão, de milho. Era aquela plantação que sumia no horizonte. E numa época que não tinha maquinário, tudo no burrinho. Eles tocavam vinte alqueires de terra. Hoje em dia, com vinte alqueires de terra, o agricultor passa fome. E aquele tempo era rentável, trabalhavam e compravam terra. Só que também o custo de vida não era alto igual hoje, né? Hoje a gente tem muita ilusão, né? Não comprava roupa, costurava em casa. Tinha arroz, feijão, a carne tinha no quintal”, afirmou Ângelo. 

“E as crianças, tudo trabalhavam. Nós íamos na escola e quando chegava em casa, almoçava e subia toda aquela subida lá. Eu lembro até hoje, eram duas subidas: a primeira aqui, que era alta e depois a outra da mata lá adiante, que a gente ia lá na invernada ralhar e apanhar o algodão”, Maria Crepaldi também recordou. 

“Tinha que carpir no meio da melancia. A gente levava e tocava a vaca num pasto de manhã. Na tarde, tocava no outro pasto e ia recolher bezerro também – era assim a nossa vida, desde criança”, contou Luiza. 

“A gente cantava o dia inteiro e chegava de noite, pegava o radinho pra ouvir Tonico & Tinoco (dupla sertaneja) cantando e aprendia todas as músicas. Sabe o que é que falava no rádio? Repórter Esso (risos)”, Maria Crepaldi contou com alegria. 

O “Seu Repórter Esso” foi um noticiário histórico do rádio e da televisão brasileira e seguia a versão do programa chamado em inglês ‘Your Esso Reporter’, criado inicialmente para fazer a propaganda da guerra americana direcionada ao povo brasileiro. 

Além do hábito familiar de ouvir o programa de rádio, a matriarca Rosa Fornazari juntava toda a família para a reza do terço. Ângelo conta que aprendeu a rezar com a avó: “Toda noite, ela juntava todos pra rezar o terço ajoelhados no chão. Era obrigado, não tinha escolha não. Tinha parte do terço, as ladainhas, que era rezado em italiano – ora-pro-nóbis (risos). E a avó tinha um armário buffet arrumado com as imagens e vasinho de flores, na copa. Acendia vela, aí todos se ajoelhavam e rezavam. E a molecada ficava esperando acabar o terço para soprar a vela”. 

Maria Cristina Ferraz Turquetti esposa de Ângelo é de outra região. “Eu morei em Araras (SP), morei também perto de Cosmópolis, na colônia Carandina (Cosmópolis, SP) – eu casei em 1981, quando morava lá. Na época não tinha lugar pra gente se divertir. Então, a gente ia assistir jogo de futebol porque no jogo ia muita gente, muitos moços e moças e aproveitar para ficar paquerando. Ia no cinema também na colônia. Eu conheci o Ângelo na festa da (Comunidade rural) Santa Bárbara, dia 4 de dezembro, em Cosmópolis. Lá tinha um monte de moçaiada porque daí subia o pessoal da Carandina, daqui dos Lopes, do Jaguari – todos estavam lá. Nossa, tinha uma festa boa lá! Aí começamos a namorar lá. Depois que a gente casou eu vim para cá e comecei a ficar no meio da família”, disse. 

Os ensaios para as celebrações eram feitos nas casas antes da construção da igreja – (Foto:arquivo
Comunidade Nossa Senhora de Fátima)

Fátima Valloto Chenfer veio pra Limeira em 1969. “Eu vim pra cá em 1969, quando o posto Figueira Branca ainda era pra cá, né? Aqui (na comunidade) a gente é uma família. Eu conheço a Marlene desde quando eu era criança – a gente estudou junto na escola. Nós viemos de Rondon (PR) porque o meu pai Laurindo Valloto acompanhou o meu tio que mudou de lá pra Americana. Ele falou pro meu pai que aqui tava bom. Sair da roça, né? É ilusão também. É ilusão. Mas aí, meu pai quiz vir, a gente veio. Minha mãe Isaura estava grávida de oito meses da minha irmã caçula. Nós viemos em quatro crianças, meu tio, a minha mãe grávida – meu pai já estava aqui. Foram mais de doze horas de viagem até Americana, no antigo Posto 7. Depois o meu pai começou a trabalhar de borracheiro com o meu tio, o meu pai conseguiu alugar uma casa no bairro dos Lopes, até comprar um terreno e construir a nossa casa onde estamos até hoje. Quando nós mudamos pra cá, a dona Augusta já estava ali. A parte debaixo era a Lela. A casa que a Andréia mora, era a casa da dona Zelinda, irmã da dona Maria. Eram só esses vizinhos, quando o meu pai comprou o terreno (tinha 3). Depois quem comprou e mudou foi o João Claudino. A Célia se casou e também comprou um terreno. E assim foi aumentando a vizinhança”, recordou.

Em 1979 foi lançada a pedra fundamental que se encontra debaixo do altar da igreja – (Foto:arquivo Comunidade Nossa
Senhora de Fátima)

A Provisão de Capela foi expedida pela Diocese de Limeira em 22 de junho de 1982. A Comissão responsável foi constituída pelos seguintes: Presidente: José Soares. Vice-presidente: Olindo Sonego. Secretário: Paulo Donizetti Turquetti. Vice-secretário: Antonio Crepaldi. Tesoureiro: João Alves dos Santos. Vice-tesoureiro: Luís Turquetti. Conselheiros: Antonio Fotanin, José Carlos Picin, Davi Turquetti, Odecio Soares, João Antônio Sonego, Berthin Hergert, Sebastião Turquetti, José Turquetti, Geraldo Agostinho Spagnol, Domingos Turquetti, Paulo Janotto, Laurindo Valotto e Davi Spagnol.

Marlene conta sobre as celebrações e quem liderou a construção de uma nova comunidade, “foi o Olindo Sonego, ele é herdeiro do quem loteou o bairro e, o José Soares. O primeiro padre que veio celebrar era um padre de Americana. As celebrações aconteciam na escola que era pequenininha, então, a maioria das pessoas ficavam nas janelas do lado de fora, assistindo. Os ensaios eram feitos na casa do José Soares e na casa da Fátima Valloto, da dona Maria, do senhor João Fontanin (o violeiro). O salão foi feito primeiro do que a igreja com o objetivo de fazer as festas para arrecadar dinheiro e construir a igreja. Uma coisa muito curiosa: os voluntários vinham aqui todo domingo de manhã batalhar para construir a igreja. Depois do trabalho eles tomavam uma caipirinha e jogavam uma bola aqui dentro. No bairro existia um campo de futebol do lado da escola, onde você está vendo a igreja aí, até a casa da minha mãe. Mas depois, conforme as pessoas iam comprando os lotes e construindo, ia diminuindo o campo, até acabar”, contou.

No interior da capela tem a imagem da Padroeira Nossa Senhora de Fátima – (Foto:Jornal Pires Rural)

Eu perguntei: Como se deu a escolha da padroeira? 

“Foi uma votação. E quem doou a imagem foi o senhor José Soares.  Ele vendia pinga para os vizinhos para arrumar dinheiro para comprar a imagem. Eu sei que tem uma historinha da pinga que era para arrecadar dinheiro para comprar a imagem”, Marlene respondeu. 

Eu perguntei: A construção da igreja uniu mais a comunidade?  

“Antes da construção era muito difícil para nós. Eu me lembro quando eu era criança, pra ir na missa a gente ia no (bairro) Tatu de sábado à noite. E íamos eu, a Lela, o seu Bertin, a Augusta, o Niquinho e um bando de crianças a pé. Era uma festa porque eles falavam assim: ‘Depois da missa a gente vai tomar um sorvete na venda do seu ToninhoTrevisol’. Então, a gente ia na missa, depois passava na venda do seu Toninho, pegava o sorvete e voltava pra casa”, Fátima recordou.  

Marlene: “A igreja lotava só com as pessoas daqui. É uma segunda família que você tem, né? É a segunda família, parece que somos todos irmãos, primos”, afirmou. 

A dedicação de Marlene na comunidade já se vão quinze anos tocando teclado. “Antes eu já participava do coral e promovi estudo bíblico, dei curso de batismo, um monte de coisas que foi sendo necessário, eu fui fazendo. A igreja ficava cheia com os moradores daqui na década de 80. Tinha muitas crianças fazendo o catecismo – olha a foto, quantas crianças na missa das crianças. E sempre teve coração de Maria”, disse.

“Agora essas crianças da foto estão se espalhando longe daqui, mas os nossos filhos foram batizados e fizeram a primeira comunhão, crisma e muitos casaram aqui”, afirmou. 

Marlene retoma as memórias das festas grandiosas realizadas na comunidade, “Uma semana antes, a gente fazia os doces caseiros de abóbora, batata-doce, mamão, cocada. Era preciso revezar as mãos para não parar de mexer o doce na panela porque as bolhas da fervura queimava as nossas mãos. Tinha também o churrasco, frangos e leitoa assados no forno a lenha”, contou Marlene.

“Nossa, que delícia de festa! Tinha festa que eu queria sumir daqui, porque eles xingavam que não tinha onde estacionar os carros – vinha gente de todo lado”, Maria Cristina afirmou. 

Fátima justifica o sucesso da festa: “Os frangos servidos na festa eram muito famosos, temperados na véspera. Tudo era feito por nós, voluntários – nada era terceirizado”. 

Eu perguntei: Desde quando a comunidade não realiza as festividades? 

Marlene respondeu: “Nossa, queria que alguém me lembrasse porque eu não consigo. Há muito tempo não tem quermesse. Nós passamos a fazer mais bingo porque dava menos trabalho e mais lucro. Nós ficamos só com a festa junina”. 

“Nós chegamos a fazer baile aqui com música ao vivo”, afirmou Fátima.

“Atualmente não tem almoço, não tem festa; não tem quem trabalhe”, afirmou Ângelo. 

Chegada da imagem
Nossa Senhora de Fátima

Embora a comunidade não realize as festividades, a parte religiosa está preservada através da missa e da coroação de Nossa Senhora finalizada com uma confraternização.

“A gente faz a missa da padroeira. Não estamos mais fazendo a procissão porque está todo mundo idoso e se vai andar na rua pode vir um carro e ser perigoso”, afirmou Marlene. 

Fátima busca mais justificativas para não realizar as festas: “É porque os jovens daqui foram todos embora. Quando nós éramos jovens não tinha pra onde ir, né? Ficava aqui e a nossa diversão era as quermesses quando começava as festividades no Tatu, São Sebastião e no Santo Antônio. Nós não fazíamos a nossa quermesse em maio. Nós fazíamos no final do ano, em outubro. Sabe por quê? Porque ficava muito perto uma quermesse da outra e atrapalhava”. 

“Lá no Tatu era o Santo Antônio, o São Sebastião. Em setembro Nossa Senhora Aparecida, no bairro Jaguari. Em agosto Senhor Bom Jesus dos Milagres, no bairro dos Pereiras. Depois era aqui”, contou Luiza. 

“Mas hoje tem festa todo dia, toda hora. É diferente hoje, né? A parte religiosa continua igual com a missa e a coroação. Só a festividade que foi parando por falta de voluntários para trabalhar. O espaço do salão da igreja é usado pela escola para recreação e atividades físicas, para as reuniões semanais da terceira idade e está disponível para aluguel”, afirmou Marlene.

As crianças com veste para participar da coroação de Nossa Senhora – (Foto:arquivo
Comunidade Nossa Senhora de Fátima)

Prosseguimos a conversa vendo o álbum da comunidade com as fotos organizadas em ordem cronológica. Diante das imagens que registrou momentos de união, fé, esperança e comunhão na comunidade Nossa Senhora de Fátima, a memória era despertada, pois as imagens são os registros da igreja viva. 
Em meio as fotos, Marlene quer me contar sobre um testemunho de fé: “Essa é a Simone Nunes Rocha e o Fernando Rocha eles não tinham filho, não tinham filho, não tinham filho. E ela pediu oração, pediu oração aqui na comunidade. A minha mãe sempre fez muita oração pra ela. Ela recebeu uma graça. Ela fez tratamento para engravidar e veio uma gravidez de trigêmeos. Ela veio batizar as crianças Beatriz Nunes Oliveira Rocha, Gabriel Nunes Oliveira Rocha e Leonardo Nunes Oliveira Rocha aqui na comunidade e todo 13 de maio eles participam da missa de coroação de Nossa Senhora”.

Andor com imagem de Nossa Senhora de Fátima – (Foto:arquivo
Comunidade Nossa Senhora de Fátima)

“Aqui é a primeira comunhão. Essa outra foto, é uma crisma, a igreja estava cheia de jovens. Essa foi a última vez que um bispo veio aqui, em 1999. É, faz muito tempo! Nessa outra foto é uma procissão, em 2009 em comemoração aos 30 anos da comunidade. Olha, aqui bastante gente. Nós fizemos uma procissão luminosa muito bonita na época do padre Júlio, nós saímos todos com vela acesa a noite. Aqui nesta foto, as coroações da Nossa Senhora. Naquela época eu não tocava, eu tô cantando. Eu era fotógrafa também. Esse álbum aqui começou comigo”, descreveu.

Procissão Luminosa
Em 2009, comemoração dos 30 anos da comunidade

“Chegava no fim do ano, era tão gostoso porque acontecia a confraternização, todos traziam um prato. Aqui no salão, fazia uma mesa enorme pra fazer a ceia. A gente fazia amigo secreto, era uma delícia porque a gente conhecia todo mundo – era uma grande família”, recordou Maria Cristina. 

“Quando terminava as quermesses acontecia uma confraternização de todos que trabalhavam. Fazia Novena do Natal. A reza do terço acontecia nas casas, de vez em quando. A Maria e o Domingos Turquetti, o Mingo e a dona Lila puxavam o terço. O Mingo é neto do Domênico Turquetti, ele faleceu há pouco tempo”, lamentou Fátima. 

Marlene destaca a importância de Domingos para a comunidade: “Nossa, ele era muito importante na comunidade. Ele era sempre muito tranquilo, muito calmo para fazer as coisas e tomar as decisões, sabe? Ele não tomava decisão sem conversar com todo mundo. A gente sabia que ele queria o bem de todo mundo. Ele rezava pelas pessoas. 

O Mingo ficou um tempo cuidando do dinheiro da igreja. Sabe o que ele fazia? Ele arrumava o dinheiro dele para comprar as coisas e depois ele ia recebendo, assim, sabe? ‘Ah, não. Vai pagando aí, conforme dá. Vai pagando conforme dá’. Isso não existe, né?”

Neste momento da conversa, o destaque foi para as pessoas que se dedicaram para construir a comunidade. “O José Turquetti trabalhou na comunidade desde o início. Ele tocou violão a vida inteira aqui na igreja e puxava ensaio também. Até o dia que ele morreu, ele sempre cuidou aqui -, o João Fontanim, o José Soares, o Olindo Sonego”, afirmou Luiza.

Eu perguntei: E as mulheres, podemos destacar o que fizeram as mulheres pela comunidade? 

“Cada uma teve o seu papel. Cada uma fazia alguma coisa na igreja. Matavam os frangos porque no começo já tinha que matar, não tinha frango morto pra comprar, assim, era tudo vivo, né?”, recordou Maria Crepaldi.  

“Era puxar o pescoço de frango, destroncar; depois matava, limpava e temperava. Mas faz muitos anos que a gente trabalha sempre em duas pessoas aqui na igreja. A Laurinda da Silva Jesus e a Graça foram contratadas porque a gente não tinha mais condições de continuar fazendo”, comentou Luiza. 

As mulheres da comunidade nos preparativos das festas – (Foto:arquivo
Comunidade Nossa Senhora de Fátima)

Laurinda reside na comunidade há nove anos. “Quando eu cheguei aqui, a madrinha me chamou pra participar. Aí chegou um tempo que ela já estava muito cansada e eu estava precisando de emprego, elas me contrataram para limpar a igreja até hoje, graças a Deus. A outra pessoa é a Maria das Graças que também me ajuda a cuidar. Uma sexta-feira ela limpa, outra sexta-feira eu limpo”, afirmou. 

“A dona Laura Janotto Soares e a Neuza Santa Rosa Turquetti sempre cuidaram da coração de Nossa Senhora e da coração. A parte litúrgica no começo era com a minha mão Maria Turquetti e a Leonice Janotto”, destacou Marlene.

“Atualmente, a gente prepara a liturgia do padre. Tudo que o padre vai usar ali no altar, a gente deixa tudo pronto, já preparado. Cada semana tem uma dupla ou trio que arrumam os vasos e a liturgia. Eu tenho essa função até hoje”, contou Maria Crepaldi.

Marlene trouxe a atualização dos atuais ministros: “E tem a minha irmã Maria do Carmo Crepaldi que está ajudando na liturgia. Atualmente os ministros na comunidade são o Cleiton Picin com a Maria Zilda, o Valdir Valotto e a Cláudia Soares”. 

Maria Cristina finalizando contou a novidade, “eu estou me preparando, fazendo o curso”.

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