A conversa com Diva Moraes traz ao centro a Fazenda Tatu, a propriedade que simboliza o bairro e o município de Limeira (SP) pela importância econômica e desenvolvimento naquela localidade. Traz também um olhar apurado sobre a superação da mulher diante da ausência de direitos e muitas responsabilidades.
As mulheres da geração de Diva tem muito a oferecer, nessa troca permanente que se apresenta, numa tarde com café e conversa, juntamente com suas filhas Maria Aparecida, Angela, Maria Inês; os amigos Cida Trevisol e Sérgio Furlan.
“Os pais da minha mãe, Giuseppe Minetto e Teresa Rigolo, eles moraram na fazenda do Spagnol (Fazenda Tatu). Eu nasci lá quando a fazenda era da família Quitério – o Quitério vendeu pro Ragazzo e Paronqui que vendeu pro Jacon que vendeu pro Marco Spagnol”, Diva explica.
Ela descreve a trajetória dos imigrantes italianos no município de Limeira: “Quando eles vieram da Itália não sei onde foram morar, mas depois moraram na fazenda do Batistela, perto do Padula, lá no alto, quase de frente a fazenda Spagnol (hoje é um canavial). Ali, tinha o casarão e só o meu avô morava. Tinha que ir pela linha do trem pra subir o morro. Da fazenda, meu pai morou na colônia da fazenda do Batistela – eu não era nascida, aí mudou na fazenda do Quitério eu nasci lá. Tempos depois, ele voltou no Batistela nessa casa lá no alto, sozinho, porque meu tio era deficiente”.
Ela estudou na escola em Tatu, do lado da igreja São Sebastião. “As minhas amigas eram da família Zanini, da família Pelison, a Cacilda Pântano, da família Sacchi, da família Batistela – a Vanda. Depois eu fui fazer o quarto-ano em Americana – eu ia de trem na escola (Grupo Escolar Dr.) Heitor Penteado. O meu diretor chamava Alcino, ele vinha de Campinas”.
“Essa igreja aí, primeiro, dizem que era uma Santa Cruz pequena, depois a igreja de São Sebastião. Meu pai Giulio Antônio Moraes era leiloeiro quando tinha festa, ele leiloava as prendas no coreto que foi demolido. Ele era até presidente da igreja de Santo Antônio, depois, quando mudou lá na fazenda do Batistela. Ele também foi presidente dessa igreja (São Sebastião)”, contou Diva.
Os seus avós, Giovanni Battista Moras e Carolina Lucchese, pai e mãe de seu pai também vieram da Itália. “Pois chegaram aqui e o meu avô não acostumou. Aí, ele deixou toda a família pro meu pai tomar conta dos irmãos e foi embora pra Itália outra vez com a minha avó. Deixaram até uma menina de nove anos pra (minha) mãe cuidar e foram sozinhos os dois”.
“A minha mãe teve dez filhos, eu sou a última. Meus avós deixou o tio Marco, o tio Nanin, o tio Camilo, tia Virgínia que era menina e a tia Maria (acho que já era casada). E meu pai tinha que mandar dinheiro pro pai dele na Itália. Essa época meu pai morava na colônia, na fazenda do Batistela”, Diva revelou.
A filha Maria Aparecida lamenta o fato da família não ter informações sobre a adaptação dos parentes italianos no Brasil. “A gente não tem muitas informações sobre a vida deles, porque na época não se importavam com essas coisas. Os imigrantes tinham vergonha de ser descendente de italianos porque havia preconceito. Diziam que os italianos era aquela gente esquisita que falavam errado, que só comia polenta e tiravam sarro. Eles (os parentes) não se importavam com a preservação de seus pertences, jogaram as suas coisas, abriram mão das memórias”, detalhou.
Diva volta ao assunto da imigração: “Veio (da Itália) o Marco Spagnol, meu pai e um do Covre na mesma viagem. A minha mãe Ema Mineto também veio da Itália, ela ficou na fazenda Ibicaba quando chegaram. Os meus parentes, os irmãos da minha mãe, agora, tudo em Piracicaba (SP)”.
Angela revela porque a avó nunca se mudou de Tatu: “A minha avó nunca saiu de Tatu pra ir morar em Piracicaba porque minha mãe tinha um irmão que tinha uma deficiência – ele tinha uma grande carne crescida no rosto que afetava a sua aparência”.
Diva conta sobre o tratamento que o irmão teve acesso: “Meu pai levou ele até pra Minas (Gerais), lá disse que tinha médico bom que fez uma aplicação com agulha de ouro. E ele chorava e depois disse que não queria voltar mais pra lá”.
Maria Aparecida lamenta o sofrimento do tio: “Ele nasceu normal, ia na escola. Eu não sei como desenvolveu isso nele – depois de mocinho que começou”.
“Ele era dos mais velhos e ia trabalhar na roça desse jeito. Meu primo de Piracicaba trouxe até um médico de lá pra ver, eu ainda era solteira. Aquela vez não tinha plástica, essas coisas. A mãe nunca saiu de Tatu por causa que ele tinha vergonha da sua condição. Ele só ia trabalhar na roça porque estava entre nós. Depois tinha uma irmã minha, Mercedes Moraes, viúva do Quitério, que morava na fazenda do Quitério. E ela ficou viúva muito nova com quatro crianças e também precisou ir morar com a minha mãe porque ficou sem condições. Se a minha mãe ia passear na casa de um irmão dela em Tamoio, em Piracicaba, ele ficava com essa irmã minha”, contou Diva.
Maria Aparecida destaca a condição e a ausência de direitos da mulher: “Naquela época era assim, dividia a herança e dava só para os filhos homens, nada protegia ninguém. Ou mesmo na partilha de um imóvel a mulher não ganhava nada. Era a cultura da época, sem direitos para as mulheres”. Diva revela o tratamento dado a mulher no caso de herança: “Dava por boca”.
Angela traz o desdobramento da vida da tia, com a responsabilidade de continuar provendo a família: “Essa minha tia arrumou de trabalhar de servente na escola pra poder sustentar as quatro filhas, porque ela não quiz voltar na roça”.
Se a ausência de direitos para as mulheres era real, a vida da criança também seguia difícil e dura. “Eu, com oito anos, passava tudo aquele ‘calipá’ (plantio de eucalipto) pra levar comida lá longe, mais de dois quilômetros, pros irmão. Você pensou? O Batistela contratou o meu pai pra formar o ‘calipá’, não sei quantos alqueire – foi meu pai que formou com os filho”, Diva esclarece. Maria Aparecida passa a localização: “Ali, quando desce da Anhanguera pra chegar em Tatu, à direita bem no topo do morro”.
Voltamos ao assunto dos tios de Diva deixados por seus avós que voltaram pra Itália. Ela diz: “E essa irmã do meu pai que os pais foi pra Itália, depois ela morou por aí não sei que fazenda. E foi embora pro Paraná. Quando ela vinha lá na casa do meu pai, os dois se abraçavam e chorava”. Os avós voltaram pra Itália, portanto pais e filhos nunca mais se viram. Mas se correspondiam. “Meu pai mandava dinheiro pra eles. Depois quando ele morreu uma pessoa de lá que escreveu pro meu pai. Mesmo os outros filhos que passaram a trabalhar, não mandavam dinheiro pra Itália, só meu pai mandava”.
Diva traz um pai afetivo, religioso e atuante nas comunidades de São Sebastião e Santo Antônio. “O pai não era rígido. Um tempo, tinha que ir no baile, mas tinha que ir com o pai. Numa festa, tinha que ir com a mãe. E tudo os pais das moça que era amiga da gente falava: ‘Se as do Moraes for, voceis vão’. Porque sabia que meu pai ia junto”. Os bailes na sua mocidade em Tatu aconteciam quando alguém se casava. “E, às vezes, alguém fazia um bailinho. Não era todo mundo que era convidado pro casamento. Mas todo mundo estava convidado para o baile do casamento”, contou Diva.
O pai, muito religioso também visitava anualmente o Santuário do Senhor Bom Jesus de Pirapora na cidade de Pirapora do Bom Jesus (SP) e, o Santuário de Aparecida, em Aparecida (SP). “E meu pai todo ano, eu não sei que promessa ele fez lá com o pai dele que foi embora, ele ia pra Pirapora (do Bom Jesus), no mês de agosto. Então, convidava tudo os amigo: o Padula, o Fraquito (Francisco Rodrigues). O Squizzato uma veis quiz ir junto, chegou na estação (de trem) e falou: ‘Me dá uma passagem pra onde vai o Moraes’ (risos). Ia de trem até São Paulo. De São Paulo pegava um subúrbio. Depois do subúrbio pegava o carro alugado e fazia até Pirapora. Os homens ia e levava as mulher também. O dono do restaurante de Pirapora já esperava mais ou menos tudo eles que ia. Ele era religioso. Depois um dia ele resolveu ir pra Aparecida ‘do Norte’, mas ainda era só a igreja velha. Foi eu, uma irmã minha a Maria Aparecida, meu pai, e minha mãe. E ninguém aquela veis ia pra Aparecida – ninguém sabia direito. Meu pai foi de trem até São Paulo. Depois pegou uma carro e foi pra Aparecida, quando morreu (cantor) Francisco Alves (1898-1952) – olha quantos anos faz. Passando lá (no local do acidente), ainda o chofer falou: ‘Aqui morreu Francisco Alves, aqui nessa baixada’ (em Pindamonhangaba, SP). Ele era muito religioso. Até, quando meu pai morreu o padre Geraldo foi fazer missa de corpo presente na igreja”, disse Diva.
As festividades juninas eram muito importantes para as famílias no bairro Tatu. “Na minha casa, véspera de São João fazia a reza do terço. Minha mãe fazia um altar na sala, rezava o terço. Ia bastante gente. Fazia fogueira. Depois quando terminava, tinha um cunhado que vinha tocar sanfona. Aí pegava uma cesta assim, forrada com guardanapo e ponha pão e passava (servia) com café, depois começaram passar (servir) licor – a turma dançava um pouco e depois ia embora. Na minha casa era Festa de São João, no Padula de Santo Antônio e São Pedro no Jacon. Uma veis teve também lá no Padula essa reza, depois teve até baile. Mais tava chovendo, meu pai deitou, dormiu. Nisso vem o Gildo pedir pro meu pai ir tocar lá: ‘Vai, padrinho! Mas, vai!’ Meu pai levantou da cama e foi tocar sanfona lá pro Gildo. O Gildo era afilhado do meu pai. E, eu era afilhada do Padula – você vê, era tudo assim. Tinha o Trevisol, era dois de casa, afilhado do Trevisol. E, a Angelina Trevisol afilhada da minha mãe. E, o Orlando Spagnol era afilhado de batismo do meu pai”.
O pai gostava muito de música e de ler. “De ler! Mas meu pai gostava! Às vezes, a gente comprava revista pra ele e chamava: ‘Venha almoçar’. Ele dizia: ‘Eu to lendo’”, afirmou Diva.
Antônio Moraes era um homem de sorte, portanto, não deixava de comprar o bilhete da loteria. “O Spagnol da fábrica de canivete, eles tinha que nem um ferreiro que consertava as coisas, depois veio um homem de São Paulo e falou pra por uma fábrica. E o Spagnol não tinha dinheiro e, sorte que meu pai tinha ganhado no jogo do bilhete e emprestou o dinheiro pra ele – eles era compadre. Meu pai ganhou no bilhete era 25 mil, não existia outro jogo. Cada vez que ele vinha pra cidade comprava um bilhete. E todos sabiam que meu pai tinha dinheiro e todos iam emprestar e os meus irmãos não queria que ele comprasse nada (investisse) porque aquela vez não é como é agora, né?”, Diva afirmou.

Perguntei: Como a senhora conheceu o seu esposo?
A resposta é rápida: “Aí, olha! Ele era danado (risos), era boêmio. Nem sei como surgiu de nós namorar. Não morava perto, ele nem vinha (em Tatu). Ele ia muito pra Americana (SP), em (bairro) Carioba. Ele era mais velho do que eu, uns cinco anos. Eu casei com 23 e ele com 28 – aquela veis era bastante idade 28 anos, né? Uma moça com 25 anos já é velha pra casar. Hoje, você vê até 40 anos. Hoje é uma beleza! Não podia dar as mãos. Namorava, largava – namorei quatro anos”.
“Eu fui num baile de casamento lá no Spagnol – o moço convidou nós pra ir. Nós fomos. E, ele veio dançar comigo e o dono lá, já sabia que ele era meio danado, perguntou pra mim: ‘Ele falou alguma bobagem pra você?’. Eu falei: não. Eu nem conhecia ele”.
“Eu me casei aqui em Limeira, na igreja da Boa Morte à tarde. Aquela vez, casava já no cartório civil e levava um padrinho só. E, não tinha nem madrinha, nem nada. O almoço era servido antes do casamento na igreja. Em casa, eu fiz um almoço pros parente mais chegados e pros meus irmão; depois que eu saí não voltei. O padrinho do civil foi o Arlindo Moraes e da igreja foi o João Moraes. A noiva entrava na igreja com o padrinho. Os pais da noiva nem iam na igreja. E tinha também o cartório em Tatu, mas só que quando eu casei já fechou. O cartório era na casa do Hermínio Donati. Depois do almoço eu me vesti de noiva e quem fez o meu vestido de casamento foi uma (costureira) da (família) Zanini. Na casa do noivo servia outro almoço. E depois, quando voltamos lá, tinha bolo, a festa completa. Depois da festa nós fomos passear em Aparecida ‘do Norte’. E você sabe que o meu marido, o Mário, não conhecia São Paulo? Eu conhecia. Eu tinha as minhas três irmãs que morava lá”.
“Mas levei um enxoval! Tudo bordado! Era que nem um talagarça, eu também bordava lenços, o nome nos bolsos das camisas. Eu bordava de sábado e domingo, dia que chovia, que não ia na roça. Fazia cada jogo de crochê, nossa! Fazia enxoval de bebê, não comprava nem as fraldas – comprava uma peça de pano em Americana e costurava”, contou orgulhosa.
Os sogros, Pedro Spagnol e Zumira Bardini, ainda tinham dois filhos homens solteiros e uma menina. O sítio ficava próximo a Via Anhanguera. A família se deslocava com frequência até a cidade de Americana, com acesso pelo bairro Carioba. Portanto, Diva ficou distante do bairro Tatu e também do uso do trem como transporte. “Morei no casarão junto, por sete anos. Depois, saí só com a roupa do corpo, sem nem um tostão. Aí, eu fui morar em Tatu outra vez, em 1966, e virei costureira. Costurei por 26 anos. Já sabia, aprendi com a mãe, mas lá no sítio comecei costurar pra uma camisaria de Americana, foi por pouco tempo. Depois que mudei pra Tatu, aí eu ganhei bastante dinheiro que quase sustentei a casa. O meu marido entrou no Spagnol (indústria)”, Diva revelou.
Angela justifica a mudança da família: “Nós mudamos pra Tatu porque a Cida ia na escola. E a escola mais próxima do sítio do meu avô era longe, tinha que ir na escola da fazenda Moinho Azul ou na escola no bairro dos Lopes. E essa casa que a gente morou lá, tinha desocupado que era da minha tia, irmã da minha mãe, viúva do Quitério. Ela nos falou: ‘Em vez de vocês fazerem esse sacrifício de levar na escola longe, muda em Tatu e leva a Cida na escola que é no mesmo quarteirão’. A Cida com seis anos, Angela ia fazer cinco e a Maria Inês ia fazer três anos. O Mário (filho caçula) nasceu em Tatu. A única lembrança que eu tenho da casa é que era tudo muito estranho. Eu lembro que a Maria Inês chorava e pedia pra ir embora pra casa”.
Pergunto à Diva: A senhora gostou muito de voltar morar em Tatu? Ela responde com firmeza: “Com certeza”.
A sua vida mudou? “Nossa, se mudou. Eu, de solteira dava catecismo na igreja. Cantava no coro. Quando tinha festa no Jaguari nós ia cantar lá. Quando tinha no Santo Antônio nós ia lá. Ia tudo maestro daqui de Limeira – Coral Santa Inês. Depois o Venâncio não ia mais, daí veio um maestro de fora, o Raimundo, e quiz que pusesse uniforme, mas não cheguei pôr uniforme porque depois eu casei. O maestro ia ensaiar muito tempo antes das festas, não é como agora que canta os hinos separados, que cada parte da liturgia da igreja é um canto. Eu cantava uma parte com a Vanda. A Maria Sacchi cantava outro. Nessa época, a igreja tinha o órgão (de tubos). Eu gostava de ir na igreja, fui morar vizinha ali. Uma vez, eu limpei a igreja, passei pano no chão, pus flor natural que o padre Alcides gostava. Eu ia levar rosas, dálias, deixei a igreja bonita e o padre Geraldo José do Vale chegou: ‘Quem limpou a igreja?’. Responderam: ‘Ah! Foi a Diva’. Ele falou: ‘Agora ela vai tomar conta da igreja’. Eu não podia porque eu costurava fora, né?”

“Gente daqui (de Limeira), uma gente que até você conhece, o Valdir Salviati que tinha loja Casa Primavera, levava cinco camisas dele pra mim fazer de uma vez. Eu costurava o corte que era bonito, tudo gostava do corte – tudo ‘babava’, tudo queria. A Edna Santarosa, ela trouxe uma blusa pra mim fazer. E tudo eles era costureira, a mãe, a tia. As professoras, a dona Vilma trazia paletó de casimira pra desmanchar e fazer roupa pras crianças. A Maria de Lourdes, também dava aula lá em Tatu e o marido dela, o Jurandir Bella era alfaiate aqui em Limeira e ela levava roupinha das crianças pra mim fazer. Porque era de casimira (tecido de fibras de lã fina, um tecido nobre para confecção de peças de alfaiataria). Eu forrava, então não via a costura por dentro. Gente rica levava paletó e calça do marido pra eu fazer. Elas iam lá, levar costura e comia em casa”, contou orgulhosa.
Maria Inês revela a maestria da mãe: “Minha mãe fazia camisa e não era nada chuleado à máquina, a casinha (dos botões) era feito a mão”.
Diva tem mais a contar sobre quem passou pela sua casa: “Um dia, a Irene veio correndo em casa: ‘O bispo Dom Tarcísio (Ariovaldo Amaral) vem aí, leva ele pra benzer o Pedro’. Aí eu falei, ele foi. E não tomou café aquele dia porque ele tinha outra crisma, ele pediu pra levar bolo pra casa”, revelou Diva.
Os filhos de Diva tiveram a oportunidade de uma infância tranquila, com vida social local intensa na comunidade Tatu. Mas à medida que a adolescência chegou, as exigências por estudos e a precariedade no transporte público foram impedindo seus filhos de muitas oportunidades. “A infância que a gente teve era brincar na rua. A dificuldade maior foi na adolescência pra frente porque aqui não tinha trabalho, e era difícil a condução pra ir estudar. Quando eu fui estudar no (Escola Estadual) Antônio de Queiroz, a estrada de acesso ao bairro não era asfaltada, então, o ônibus e a perua chegava no morro, encalhava; aí tinha que voltar a pé. Foram muitas as dificuldades”, contou Maria Inês.
“Eu entrei com doze anos na tecelagem Marcone & Spagnol pra trabalhar no tear, registrada – o serviço era na máquina espuladeira que enchia os canudinhos de fio. Esse fio ia dentro de uma coisa de madeira que no tear trabalhava o fio que tecia o pano. E quando acabava o fio, como fazia? Tinha que pôr outro rolo bem grande pesado, então, eu emendava fio por fio, de três mil a quatro mil fios. Eu emendava um por um. Ele dava um nó, que eu punha os dois fios assim no dedo e vinha, estourava o outro e já emendava com uma cera de graxa com gesso”, contou Maria Aparecida. Angela e Maria Inês também trabalharam na tecelagem. “Eu trabalhei na indústria Spagnol por oito anos até vir pra Limeira”, contou Maria Inês. O esposo de Diva se aposentou na indústria Spagnol. A família deixou o bairro Tatu em 1990. Em Limeira, Maria Inês trabalhou numa operadora de plano de saúde; Maria Angela e Mário foram bancários e Maria Aparecida, funcionária pública.
Diva se destaca como uma mulher culta que soube usar a sua inteligência para conduzir a família com a sua capacidade. Ela se sobrepôs na sociedade com maestria, sem ostentar os resultados que obteve na profissão de costureira. Devo dizer que Diva costurou realizações ao reafirmar seus valores, e conseguiu trazer a sociedade limeirense pra dentro de sua casa, pois ali, serviu o que a sustenta: uma fortaleza que se apresenta como a leveza de uma poesia.