Adriana Fonsaca |||
Flávia Trevisol Furlan nasceu em 1980, filha de Maria Aparecida Trevisol Furlan e Sérgio Furlan, neta dos comerciantes Antonio Trevisol e Maria Amabile De Gaspari Trevisol. Ela é formada em Ciências Sociais pelo ISCA Faculdades e construiu o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) com o tema: ‘Os parceiros de Santo Antônio’.
Na conversa que tivemos sobre o TCC, me coube aprofundar o que a influenciou na escolha do tema relacionado ao bairro Tatu, área rural de Limeira, SP, o assunto envolve a vida familiar dela, a formação pessoal, a cultura religiosa e italiana. E também, a sua visão e expectativa sobre o bairro Tatu – considerações estas que me são caras porque não é sempre que a geração de Flávia está disposta a entrevistas.
No discorrer, trago também a inserção da conversa que tive com os seus pais, Cida (Maria Aparecida) e Sérgio – noutra oportunidade – sobre o envolvimento de Sérgio com a política limeirense e os desdobramentos em benefício para o bairro Tatu.
“Eu entrei na universidade para cursar Economia. Escolhi a área de exatas porque todo mundo falava que era o que dava dinheiro. Mas, três meses depois eu não estava feliz e migrei pra Ciências Sociais, onde me encontrei. O orientador do meu Trabalho de Conclusão de Curso foi o professor Emílio Carlos Asbahr. O mestrado dele foi sobre o bairro dos Pires, portanto ele foi uma peça muito importante pra mim porque eu queria contar um pouco da história do bairro através da minha família.
A pesquisa foi dividida em partes para compor o trabalho. Eu falei brevemente sobre a imigração italiana no Brasil, no estado de São Paulo. Em Limeira, eu falei sobre o povoado da sesmaria (Sesmaria do Saltinho) do Capitão Luiz Manoel da Cunha Basto. Eu citei o desmembramento de Limeira, falei um pouco da cidade – da sesmaria, quando foi pra categoria de Vila, e depois cidade. E já entrei na história do bairro desde que as famílias maiores chegaram e o que produziam. A família Spagnol e a família Batistela mantinham alambique para a produção de pinga. Eu citei os bares e as vendas que eram quatro: do meu avô, Antonio Trevisol, da família Rodrigues, da família Denadai, e do senhor Luiz Pântano que ficava do outro lado da linha do trem. O bar fornecia não só comida, mas tantos outros alimentos e serviços para a comunidade. Daí eu entrei mais na história da minha família”, explicou Flávia.

Cida, a mãe de Flávia conta que em 1948, quando seus pais se casaram, abriram o bar (familiar) em Tatu, ao lado da estação de trem. “A nossa residência ficava nos fundos. O comércio ficou aberto por 31 anos. Os meus pais sempre trabalharam muito, minha mãe era quem mais cuidava do bar – quando nós, filhas, ficamos mais velhas ajudamos também. Todos que moravam nos sítios por aqui, iam esperar a chegada do trem, ali, em casa. Alguns, quando chegavam, iam lavar os pés sujos, porque vinham calçados com chinelos – tinha o poço, ligava a bomba do poço e usavam a água com a mangueira.
Parece que eu estou vendo o Stephano Fonsaka (vindo do bairro das Areias) chegando em Tatu de trole ou charrete e amarrar o cavalo lá perto da estação. A sua avó Joanna era autoritária, elegante, impecável. Eles vinham pegar o trem na estação, ela usava bolsa; paravam lá em casa que era o ponto”, Cida se referia ao meus avós paternos.
Sérgio traz mais detalhes sobre o serviço voluntário de Stephano Fonsaka. “Eu me lembro que chegava os domingos, o pessoal jogava baralho (a dinheiro) nos dois bares que tinha em Tatu. De repente falavam: ‘O Stephano tá chegando!’ Todo mundo guardava o baralho (risos)”.
Cida intervém para contar sobre a “autoridade” de Stephano. “O seu avô não deixava a comunidade jogar baralho (a dinheiro) porque ele era inspetor de quarteirão. Ele não era um Policial Militar, mas prestava serviço voluntário pro delegado. Naquela época o inspetor de quarteirão era uma autoridade como se fosse um delegado hoje”.
Sérgio completa: “Tanto é que se acontecesse alguma coisa no bairro, chamavam ele. Nunca vimos acontecer alguma ocorrência que ele precisasse intervir. Naquele tempo, as pessoas não tinham a liberdade de hoje. Quando chegava um deputado, o prefeito, as pessoas ficavam mobilizadas. Hoje não. Hoje, as pessoas chegam perto do presidente da República, está tudo bem. Naquela época, as pessoas tinham medo da Polícia”.
Cida intervém, chamando a minha atenção: “Você chegou a ver as missas, primeira comunhão, os batizados, no sítio do seu avô? A sua avó fazia uma grande quantidade de comida para os pobres comerem. Nós não perdíamos uma festa lá. Ele vinha nos convidar. Eram poucas as pessoas do bairro que ele convidava. O padre Isaías Baptistella, da paróquia Senhor Bom Jesus, de Americana (SP) que vinha rezar a missa (campal) no sítio. O Stephano vinha convidar: ‘O padre Isaías vai vir. A missa é às 9h’. E a gente ficava lá quase o dia todo”, contou.


Os relatos que ouvi sobre Maria Amabile me convence de que ela sabia receber, ela acolhia a comunidade com maestria. “O pessoal ia tomar água e a minha mãe sempre oferecia um cafezinho, comida! Quanta gente almoçando em casa! Antigamente, antes dela ter os filhos, ela teve pensão pra turma que trabalhava na estação de trem. O sorvete de massa que a minha mãe fazia era uma delícia! Era sorvete de todos os sabores que você pensar. No tempo de milho verde, ir na roça colher milho pra fazer o curau, pra bater com leite pra fazer o sorvete; tinha até sorvete de ameixa”, Cida falou.
O bar da família Trevisol era um ponto de encontro, inclusive aos domingos. Quando o transporte ferroviário foi paralisado, se manteve o ponto de ônibus no mesmo local. Aquele endereço era a casa da família, o bar, o restaurante, a salinha de espera do trem e do ônibus, o campo de bocha, o local da matinê do teatro, do cinema. Ali, no barracão de bocha, as duplas sertanejas cantavam e os estudantes, que iam pegar o trem pra estudar em Americana, ficavam todos aguardando numa salinha ao lado do bar.
“O telefone em casa era aquele modelo antigo, de manivela, o número era 149. O número 175 era do telefone da fábrica de canivete. Pra fazer uma ligação, ligava lá em Limeira, na Telesp (Telecomunicações de São Paulo – operadora de telefonia). A telefonista atendia e você falava: quero falar no número tal, em São Paulo. Ela falava: ‘Daqui 40 minutos, eu ligo de volta’ – tinha que ficar esperando do lado do telefone. Ela fazia a ligação, transferia pra cá e colocava você na linha pra falar com o número discado. Até 1975, teve esse aparelho de telefone de manivela no bar”, Cida contou.

Flávia, em meio a explosão de temas e histórias vivenciadas, não teve dúvidas, deu evidência a sua comunidade ao fazer a escolha para o tema do seu TCC.
“Na verdade, não foi nem o curso em si que me levou à escolha do tema do TCC. Foi toda essa minha vivência, toda a alegria que eu passei e via também como o falecimento; a ajuda mútua, como era e como é. Não foi por causa do curso ou por causa de uma disciplina. Foi aquilo que foi crescendo dentro de mim, o que eu fui vendo naquele ambiente: da família, da política, da religião. Daí eu fecho o tema: ‘Os Parceiros de Santo Antônio’. A justificativa é a parceria das famílias, o grau de parentesco (os casamentos foram acontecendo entre primos), a construção da igreja de Santo Antônio e como desenvolveu o bairro. Lá era assim: quando alguém falecia, quando acontecia um nascimento, você não precisava ser convidado; você ia. Por exemplo, eu quero ir na casa da Adriana, bate lá! Lá é servido o café, o pão, a manteiga, e durante a visita surgem as recordações.
A família Fascina, da minha avó materna e meu bisavô, muitos deles migraram para Araraquara (SP) – a parte da família Sonego. Então, quando falece alguém, são os parentes de São Paulo, de Araraquara, sempre presentes em peso para todo tipo de apoio, sempre mútuo. Essa parceria na alegria e na tristeza eu vi quando o meu tio João faleceu com 43 anos – era um sábado de madrugada. Quando era 6h, ali no sítio, tinha gente na cozinha fazendo café, preparando uma canja pro almoço. Os vizinhos que vão lá — na casa dos meus pais —, sempre vão para tomar café. Esses dias eu estava lá e, vem um, vem outro; coisa de uma hora já estávamos em 35 pessoas (risos). Até hoje, funciona assim, um traz um pão, um traz um bolo, outro traz o suco.
Apesar da igreja São Sebastião ser mais antiga ali na vilinha, a descendência da minha família — os imigrantes italianos — eles ficaram ali na região da igreja Santo Antônio, construída por eles. As famílias De Gaspari, Picin, Arcaro, Saciloto compraram suas terras ali.
Eu sou a mais velha dos netos — tanto materno quanto paterno. Quando eu nasci, os meus avós maternos já tinham saído do bar, em 1973 e, comprado o Sítio Mamoeiro.
Ali no sítio tinha a casa dos meus avós; a casa dos meus pais e a casa dos meus tios José Humberto e Ana Spagnol. E o meu tio mais novo, que casou em 1993, morava ali com os meus avós – ele faleceu em 2003. Hoje, só os meus pais residem lá. Então, a gente recebia os familiares tanto do lado De Gaspari da minha avó quanto do lado Trevisol do meu avô. Todos eram recebidos ali na cozinha de fora. Na garagem ao lado, é onde a gente fazia as festas. Por isso, eu tive contato com muitas gerações.
Eu fui me interessando pela história, principalmente a do bairro que na época tinha poucos relatos. Depois o Toco (José Eduardo Heflinger Júnior) escreveu alguma coisa sobre Tatu e fui achando muito pouco num livro e noutro, mas bem superficial. E eu desenvolvi a minha pesquisa a partir da igreja do Santo Antônio, fundada em 1910.
Hoje, eu falo que não tá tão vivo e cheio de vida como era antes, comparado à época que o meu avô produzia mudas frutíferas, que vinham os caminhões baú de várias partes do Nordeste pra carregar as mudas de manga. E, mesmo depois, quando o meu avô foi deixando a produção, dois tios meus continuaram – o João e o Zé Humberto (falecido em 2020).
O sítio, aquela época tinha chiqueiro de porco, galinheiro, viveiro de pássaros – hobby do meu pai. Era cheio de vida. Nós tínhamos o caseiro que ali trabalhava e todos os outros funcionários. Então, matava porco, galinha – isso eu e meus primos presenciamos. Somos em oito primos e a gente cresceu ali presenciando: ‘Hoje é dia de matar porco. Hoje vamos matar galinha’.
O meu pai ficou um período ali, na produção de mudas. Ele sempre foi, desde jovem, apegado à política”, Flávia afirmou.

Sérgio conta sobre o seu envolvimento com a política partidária em Limeira. “Na verdade, a paixão pela política despertou através do Deputado Estadual Laércio Corte (1967/1971, 6ª Legislatura) – eu era amigo do Hernâni Corte, seu irmão. Ele sempre falava do irmão Laércio. Até que ele veio pra Limeira, acabei conhecendo o deputado – fiquei amigo dele. A gente conversava sobre política, tínhamos uma boa amizade. Daí conheci o Mesquita e me filiei ao MDB”, explicou.
Antonio Carlos Mesquita, um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiro, vereador em Limeira, em 1969, Deputado Estadual 1975/79, 1979/1980, 1983/1987, foi Secretário Estadual da Administração, Secretário de Governo, conselheiro e presidente do Tribunal de Contas do Estado.
“Depois eu fui para o partido ARENA, do Paulo D’Andrea – Palmyro Paulo Veronesi D’Andrea foi prefeito de Limeira (1964/69, 1973/76, 1989/1992). O Pejon – José Carlos Pejon (prefeito de Limeira 2002/2004) – também fazia parte de um grupo grande de amizades”, contou Sérgio.
Sérgio se “mudou” para Limeira pra estudar o curso técnico de Contabilidade no antigo Colégio Santo Antônio. Ele pernoitava numa pensão na rua Dr. Trajano, junto com vários outros rapazes de Tatu. Os amigos José Rossi, Ailton Marquetti, Ademir Nogueira, Luís Carlos Batistella, Edimilson Pierino moravam na mesma pensão com Sérgio.
“O meu primeiro emprego foi aqui em Tatu numa fábrica de faca e canivete. O meu pai, Olivio Furlan, trabalhava nessa indústria, era ele quem fazia as matrizes para as máquinas. Lá na indústria, eu fazia de tudo: trabalhava numa prensa, cortava as lâminas no esmeril – o que precisasse fazer a gente fazia. Eu ia na escola de manhã ali na igreja São Sebastião, o quarto-ano fui estudar em Americana, de trem. Quando eu estudava à noite no Colégio Santo Antônio, eu ainda trabalhava na fábrica de canivete. O trem passava aqui na estação às 18h10/18h12. Eu saía às 17h da fábrica, ia em casa tomar um banho, jantava e corria para a estação porque o trem passava no horário.
O trem parava na estação em Limeira. Eu subia a pé até o Colégio Santo Antônio. Saía às 22h30. Subia a rua Dr. Trajano até, onde foi o campo da A. A. Internacional, ali, tinha uma casa e mais uma subindo (a rua), eu dormia nessa casa.
No outro dia, eu acordava às 5h30 da manhã, descia a pé, com um amigo meu até na estação em Limeira. Ali, pegava um trem que não era de passageiros. Era um trem de vagões de carga, tinha aquelas portas largas – esse trem passava em Limeira para pegar os trabalhadores que quebravam pedras na pedreira do Horto Florestal. Depois ele seguia até a estação de Tatu. O pessoal descia lá e, eu e o amigo vínhamos até Tatu.
O trem parava na estação. Eu corria em casa pra trocar de roupa, tomava café e ia trabalhar na fábrica de canivete. Às 17h eu saía, ia em casa, tomava banho, trocava de roupa, descia na estação e pegava o trem. O trem parava na estação em Limeira, eu ia até o Colégio Santo Antônio. Foi assim até eu me formar contador”, Sérgio descreveu.
Ainda estudando no Colégio Santo Antônio, ele foi trabalhar no Banco Comercial do Estado de São Paulo. “Naquele tempo, o banco só tinha um gerente. Eu fazia a função de preposto. Na parte dos caixas, de recebimentos e pagamentos, eu era o responsável que conferia as assinaturas – hoje mudou. Naquele tempo, o caixa pegava o cheque, levava pra mim, eu conferia e dava o visto; o caixa pagava.
Fiquei nesse cargo até eu receber uma outra proposta de trabalho. O Gininho Batiston era amigo do gerente no banco, o Celso Rocha, e todo dia na hora do almoço ele ia no banco. O gerente me chamava pra atender ele. Um dia, o Gininho me chamou pra trabalhar na sua empresa Batiston. Eu fui. Todas as vendas de eletrodomésticos do magazine a prazo, passava por mim”, detalhou Sérgio.
O bairro do Tatu era muito ativo. Chegou a ter Cartório de Registro Civil, o escrivão do cartório era Dr. Odail Luiz de Camargo, ficava na frente do bar de Antonio Trevisol. Foi criado a União Rural Católica (URCA) e daí tinha bailes e festas. Sempre teve atendimento odontológico em Tatu. A primeira farmácia em Tatu era do Seu Rocha. O Luiz Pântano (Piti), tinha o armazém e também era o agente do Correios, ao lado da estação. Existiam também dois açougues e quatro armazéns.
No tempo da Caninha Espanholinha da Fazenda Spagnol, a turma vinha de Campinas (SP) aos finais de semana de trem, pra Tatu. Era muita gente que vinha comprar pinga de garrafão de alambique pra revender. Todos paravam no bar e de lá, iam a pé até a fazenda.
Cida fala sobre a paixão de seu pai pelo futebol. Brasil F.C.. “Meu pai tomava conta do time de futebol mas, ele nunca jogou futebol, nem quando era moço. Quando os jogadores de Limeira vinham jogar aqui, meu pai dava comida e pagava a passagem do trem pra eles. E quando vinham os jogadores de outras cidades, eles serviam a comida de graça. Quanto fazer comida!”.

Sérgio contextualiza sobre a importância do esporte para a comunidade. “O padre Geraldo (Dom José Geraldo Oliveira do Valle) trazia o time da Ponte Preta (Campinas) pra jogar em Tatu. O bairro Tatu e o bairro Jaguari tinham bons times de futebol, então, quando jogavam, um contra o outro saia faísca. Um dia, o Padre Geraldo fez uma reunião e falou: ‘Vamos unir esse povo’. Ele era de Campinas e atendia muitos jogadores da Ponte Preta. Nas férias, ele formou um time do Santa Rosa (bairro Jaguari) com o time de Tatu pra jogar contra o time da Ponte Preta.
Aí, no outro ano, novamente a Ponte Preta veio pra Tatu. Mas o Padre Geraldo foi embora, aí sobrou na minha mão. Como eu era amigo do Nelsinho Batista que jogou na Ponte e na seleção brasileira, eu falei pra ele: Nelsinho, no final de ano junta os jogadores da Ponte, do XV de Piracicaba, e também o Zé Maria do Corinthians. O irmão dele morava em Limeira e ele passava aqui, tomava uma pinga e ia pra Limeira. Aí, jogava e fazia churrasco”, contou Sérgio.



O bairro se desenvolvia na parte econômica e social, mas havia espaço para que líderes tatuenses se elegessem na política partidária. Flávia destaca o papel político partidário do pai, a candidatura e o cargo na secretaria de Obras da Prefeitura Municipal de Limeira. “E meu pai, já envolvido na política trazia os políticos pro bairro”.
Sérgio descreve como aconteceu os convites que o levaram a ser um homem de confiança do prefeito Paulo D’Andrea. “Um dia, o Paulo e o Memau (Waldemar Mattos Silveira, prefeito de Limeira 1977/1983) vieram aqui. Ficaram um tempo sentados aí. Eles queriam, que queriam, que eu saísse candidato a vereador. Eu não queria. No fim, pra encurtar a conversa, tá bom, assinei a ficha e saí candidato a vereador. Mas eu não fiz campanha porque eu não queria ser. Eu fiquei quarto suplente, sem chance de subir. Mas eu não fui pedir voto pra ninguém. Quem votou em mim, ficou sabendo porque era meu amigo. Se eu tivesse saído na rua, talvez tivesse ganhado. Sabe, quando você vê tanta coisa na política que você fala: deixa pra lá.
O Paulo ganhou a eleição, em 1989. Um dia, eu tô aqui em casa, recebo o recado: ‘Sérgio, o Dr. Paulo mandou você vir aqui no gabinete – ele quer falar com você’. Eu falei, pelo amor de Deus! Será que eu fiz alguma cagada (risos)? Cheguei lá, bati na porta, ele tava atendendo uma pessoa no gabinete dele. Me atendeu. Ele me tratava por Furlan: ‘Seu Furlan, toma um cafezinho que eu estou terminando de atender essa pessoa, já falo com você’. Eu fui tomar um café. O que será que esse homem quer comigo?
Cheguei na sala dele: ‘Vamos tomar um café’. E eu nervoso. Ele me perguntou: ‘O que você quer fazer na prefeitura? Escolhe um lugar que você quer trabalhar aqui’. Na hora eu assustei, né! Ele continuou: ‘Eu quero que você venha trabalhar na minha equipe’. Eu, surpreso: o senhor vai me desculpar, mas o senhor tem que me dar um tempo pra eu poder pensar – me pegou de surpresa. ‘Não, tem que ser agora. Você vai trabalhar na secretaria de Obras. Você vai ficar responsável pelas Estradas Rurais’. Tá bom. Fiquei lá os quatro anos”, afirmou.
A disputa política entre os adversários históricos, Jurandyr Paixão e Paulo D’Andrea comparada com a política de hoje, na opinião de Sérgio “era mais pesada. Era o Jurandyr Paixão contra o Paulo D’Andrea, né! Era quente. A disputa era grande. Eu acho que o Paulo D’Andrea era diferente porque ele atendia todo mundo – ele não era de etiqueta, de protocolo. Se você precisava falar com ele, ele atendia. Ele podia até não fazer, mas ele atendia. Aquela época foi difícil de pegar a prefeitura porque não tinha dinheiro em caixa, eram muitas as dívidas pra pagar. Mas fomos fazendo.
A minha parte era rural, eu tinha duas máquinas motoniveladoras. A estrada rural, você tem que fazer com uma boa saída de água e lugar pra ela escoar. Tem estrada que a terra é boa, você põe cascalho e pode chover que ela fica quase um asfalto. Mas se tem uma estrada que é ruim, põe pedra, se chove em seguida, ela afunda, forma poça d’água e dá problema – eu sempre dei satisfação, nunca fugi.
Eu ficava aqui no escritório distrital, em Tatu. Depois o Dr. Paulo quiz que eu fosse para a secretaria de Obras. Daí ficou um rapaz aqui que atendia o pessoal, então eu passava de manhã e à tarde pra conferir o que o pessoal estava pedindo – analisava, ia ver. Nessa época foi feito o Censo aqui em Tatu”, contou.
Para além de toda a dinâmica de entra e sai da casa de seus avós, Flávia também se socializou com políticos e religiosos que frequentavam a sua casa. “Eu lembro que a gente ia muito em comícios desde pequenininha – eu, minha irmã Clícia, meus pais. A gente chegou ir em comícios que eram montados em cima de carretas, na cidade, em Tatu, no bairro do Jaguari, no bairro dos Pires”.
Sérgio descreve como era a montagem e o objetivo a ser alcançado. “Os comícios, geralmente o importante é o som. Então, ia um caminhão próprio, uma carreta – os candidatos subiam e ficavam na grade. Do alto, via todo mundo. Os bairros rurais eram selecionados pelos lugares onde o pessoal se reúne: Centro Rural do Pinhal, Lagoa Nova, Tatu, Parronchi, na igreja Luterana do bairro dos Pires. Fomos também na inauguração da primeira etapa do bairro Parque Nossa Senhora das Dores”.
O cargo que Sérgio ocupou na prefeitura lhe deu abertura para conciliar a conquista de alguns benefícios para atender as necessidades do bairro. “Na época que o meu pai trabalhava na prefeitura, ele conseguiu ali, com a família do Spagnol aquela área na frente da escola Tenente Aviador, do Tatu, pra fazer o Postinho de Saúde ”, destacou Flávia.

“Eu estou me lembrando agora que teve um comício do Dr. Paulo, no Salão de Festas da URCA. Ali, veio o pessoal da Figueira Branca (bairro dos Lopes), do bairro Jaguari, da fazenda Batistela; assim de gente. Aconteceu que alguém passou mal e o Dr. Paulo precisou parar o comício pra pessoa ser atendida – o Dr. Heitor (Franco de Oliveira) estava junto e socorreu a pessoa. Ele (Paulo) falou assim: ‘Vocês precisam de um Posto de Saúde, urgente! Cobra ele! Cobra o Sérgio!’.
Passou um ano: Dr. Paulo, o senhor tá vendo a situação aqui (sobre a construção do Posto de Saúde). Passou dois anos: Dr. Paulo, como tá? Eu vou ter que mudar de Tatu. A turma ficava cobrando. Ele dizia: ‘Eu vou fazer’. Eu falei: vamos fazer o seguinte, aquele projeto que o senhor tem, vamos esquecer aquele projeto. Vamos fazer um diferente. Vamos fazer um salão para atendimento e uma sala de espera. O que ele queria fazer parecia um hospital, era um negócio bonito. Mas, no fim, teve que fazer um bem pequeno. Eu sabia que a prefeitura não tinha dinheiro.
Eu abri um escritório distrital no bairro Tatu no mesmo prédio do Posto de Saúde, trazido na gestão 1989 a 1992, pelo Dr. Heitor , secretário da Saúde. Lá, tinha uma sala que era a secretaria, ali ficava também, o posto de atendimento da agência dos Correios. O prédio atual é resultado da reforma do investimento do gasoduto”, observou Sérgio.
“Em paralelo à política, a igreja; meu pai foi ministro da palavra por 33 anos. Era tudo diferente naquela época: a política era mais honesta e mais centrada, com objetivos mais claros. A igreja também. Parecia que não tinha tanta divisão, tantas portinhas igual tem hoje – ou você era católico ou era presbiteriano, luterano. Era tudo mais pautado na religião”, apontou Flávia.
“Eu saí da política porque eu peguei um ódio tão grande! Eu fui uma pessoa que sempre fiz o bem. Se eu não pudesse fazer o bem, o mal eu não fazia. Naquela época aqui em Tatu, você contava nos dedos quem tinha carro. Graças a Deus, eu fui uma das pessoas que sempre tive carro, trabalhando honestamente. Então, se precisasse socorrer uma mulher à noite pra dar a luz, quem que ia? Batiam na minha porta. Eu ia. Chegava aqui de volta: ‘Quanto é o seu trabalho?’ Não é nada. ‘Não! Fala!’ Não é nada. Eu não cobro de ninguém, vou cobrar de você? Tinha mais gente que tinha carro, mas sabiam que as pessoas não iam. O meu pai sempre fez isso e eu continuei fazendo.
Depois, eu tive uma decepção muito grande. Eu era candidato a vereador. Na véspera da eleição, uma pessoa bateu na minha porta: ‘Olha, minha esposa tá passando mal, você não leva ela pro hospital?’- isso pra mim era normal. Peguei o carro e fui. Voltei, parei na porta da casa. A pessoa desceu: ‘Quanto que é o seu trabalho?’ – era véspera da eleição. O meu trabalho não é nada. Eu nunca cobrei de ninguém – era um primo meu. Vou cobrar de você que é meu primo? ‘Não, fala!’ Não, não é nada. ‘Então, obrigado! Você é candidato à vereador, né?’ Sou. ‘Então me dá uns santinhos seu que eu vou trabalhar na eleição pra você’. Eu não pedi, ele que pediu. Peguei e dei. Essa aqui (ele aponta para a esposa ao lado) levantou cedo e foi lá aonde tinha a votação. Eu cheguei, ela falou: ‘O seu primo, que você levou a mulher no médico ontem, tá distribuindo santinho de outro candidato’”.
Cida conta: “Nessa época, a disputa era entre o Jurandyr e o Paulo D’Andrea. O Sérgio estava com o Paulo e teve 200 votos e o outro candidato com 180 votos, entrou – o partido do Sérgio precisava de mais votos”.
“Aí, eu falei pra ela: se alguém vier pedir pra ser candidato, eu não vou mais. Mas isso aí me chocou muito. O padre Geraldo que celebrava a missa aqui, era amigo meu. Ele vinha de Campinas, celebrava na igreja São Sebastião, e no outro dia celebrava na igreja Santo Antônio e na igreja Nossa Senhora Aparecida no bairro Jaguari, então ele dormia em casa. Ele saiu daqui porque ele foi ordenado bispo. Na época que ele saiu daqui, soltaram um papo, inventado por causa da política, só depois de um tempo que eu fui descobrir. A turma aqui, adorava o padre Geraldo, ele era considerado um santo. Duas pessoas soltaram um boato que o padre Geraldo foi embora daqui porque fui eu que pedi pro bispo tirar ele. Aí, ninguém votou em mim porque o padre era um santo, todo mundo gostava muito dele. Só depois de alguns anos que eu fiquei sabendo quem foi. Por isso que eu falo que a política é suja, os caras fazem de tudo pra tentar chegar lá”, lamentou Sérgio.

A pesquisa realizada por Flávia para o TCC abordou apenas alguns detalhes da vida comunitária no bairro Tatu. “Para o TCC, eu não me aprofundei em nenhuma coisa específica. Eu contei a história do bairro sucintamente através da religião, do campo, da escola, da igreja. A minha pré-escola, eu conclui nas salas de aula da igreja São Sebastião. Era tão populoso o bairro que lá na igreja Santo Antônio também tinha uma escola multisseriada. Estudei lá em Tatu até o sexto-ano. Depois, o ônibus da prefeitura trazia as crianças até a minha idade, pra Limeira, na Escola Prada, para concluir até o oitavo-ano. Concluído o oitavo-ano ou ia fazer curso técnico no Trajano Camargo, ia pra E.E. Castello Branco ou para E.E. Prof. Antonio de Queiroz – onde minha irmã, dois anos mais nova, estudou.
O meu envolvimento na religião, a participação nas procissões da Semana Santa que hoje é raríssimo de se ver, como o ritual de lavar o santo ali, na aguadinha que corta o Tatu. Os teatros que faziam na igreja, no período do padre (Dom) Geraldo. Na época, os padres vinham da Diocese de Campinas (SP) porque Limeira não tinha Diocese. Ele foi um padre muito influente no bairro. Hoje, ele é bispo emérito de Guaxupé (MG) e arcebispo metropolitano de Ribeirão Preto (SP). Ele foi um amigo do seu Angelo Picin e da dona Nair Fascina Picin. O casal oferecia a hospedagem em sua casa, quando ele vinha pra área rural de Limeira e rezava as missas nas duas igrejas do Tatu e também no bairro Jaguari. Até hoje, ele frequenta a casa dos meus pais. Ele veio no meu casamento”.

Nessa conversa, aprofundamos um pouco mais e Flávia trouxe a convivência com a família De Gaspari, da avó Maria Amabile. “O padre Arlindo De Gaspari (Arlindo Armando De Gaspari, nasceu 1935, falecido em 2019) primo da minha avó, era fundamental nessa questão de manter a família reunida. Tanto que foi realizado a comemoração de 100 Anos da Família De Gaspari, ali no entorno da igreja Santo Antônio. A festa conseguiu reunir 95% dos familiares, na época, até a quinta geração”, explicou.
Giacomo De Gaspari saiu de Treviso, Itália, aos sete anos e Marcelina Fascina partiu de Padova, Itália, aos seis anos. No Brasil, Giacomo passou a ser chamado de Jacob. O casal trabalhou em lavouras de fazendas da região, como a Itaporanga e a Itapema. Eles conseguiram comprar um sítio em Tatu, onde a família se instalou em definitivo. Posteriormente, adquiriu terras ao redor, formando a Fazenda De Gaspari.
Jacob e Marcelina tiveram oito filhos: Vitorio (pai de Maria Amabile), Ernesto (pai do Padre Arlindo), Florindo, João, Escolástica, Adelina, Antonia e Aparecida.

“O pai da minha avó, Vitorio Primo De Gaspari, o primogênito, só teve duas filhas: a minha avó Maria Amabile e a Marcelina – a ‘famosa’ tia Marcela. Marcelina era o nome da avó dela, esposa do Giacomo, então, a gente a chamava Marcela. ‘Famosa’ porque só tinha as duas e a tia Marcela que ficou na casa do pai, ali na fazenda, porque ela herdou a sede do pai (não do vô Giacomo). Porque apenas os quatro filhos homens, herdaram cada um, uma casa, ali na fazenda. Ficou o Vitorio, meu bisavô e a tia Marcela casou e ele ficou morando ali até se casar. Depois ele ficou viúvo e casou com uma outra pessoa do bairro, da família Padula. Depois o tio (avô) João ficou no lugar.
Nós não dividimos a fazenda, estamos na quinta geração. Começou com o Jacob De Gaspari, daí veio os filhos, meu bisavô, minha vó, minha mãe, eu; agora minhas filhas, a sexta geração.
Hoje a fazenda não produz mais como antigamente, está arrendado para a produção de cana-de-açúcar. A última pessoa que ficou morando ali na fazenda foi um primo da minha vó, o Mario Saciloto, mas ele já está na vilinha. A sede está em pé, todas as casas estão ocupadas. A família do tio Arlindo, eles se reunem na casa do tio Ernesto.
Eu tenho muitas memórias afetivas de frequentar a casa da tia Marcela (tia-avó), dela fazer o pão ali, quentinho, servido com a manteiga naquele ponto cremoso – eu tenho essa imagem. Tenho memórias também do tio Lindo (Florindo), irmão do meu bisavô. Lá, ficou o Vitorio, meu bisavô, o João, o Lindo e o Ernesto; donos das quatro casas da fazenda.
As visitas nas casas da fazenda eram semanais e também nas festas. As últimas festas que aconteceram lá, foram Festas Juninas na casa do tio Ernesto – o padre Arlindo gostava de reunir. Eu tive muito contato com o tio Ernesto mesmo quando ele tava ali na cidade, porque a neta dele Ana Spagnol De Gaspari (filha do Orlando Spagnol) casou com o meu tio José Humberto Trevisol – eles são primos de segundo grau.
Nas festividades, cada um levava as suas coisas, a gente se reunia quando a família era menor, até a minha geração. Eu me lembro também de reuniões ali na casa da tia Marcela quando juntavam as mesas debaixo de árvores. Às vezes, as reuniões nem era para comemorar uma data especial – era só pra reunir a família. As últimas que reuniu bastante gente aconteceram na casa do tio Ernesto”, ela detalhou.
O entendimento de Flávia sobre o que aconteceu com o bairro, através desse entrelaçamento político, religioso, familiar, econômico, é de que antes o bairro tinha vida, era um bairro feliz.
“E, eu não consegui até hoje entender porque o bairro foi pra trás, em vez de ir pra frente. No passado, foi um bairro tão ativo, bonito, tão cheio de vida; os políticos, o bispo, indo pra lá. Uma vez, eu já estava na faculdade, tinha uma turminha ali em casa me visitando. A hora que eu vi, tinha um bispo e um padre jantando num domingo à noite na minha casa (risos)”.
O nível de influência no ambiente vivido por Flávia era muito forte. Segundo ela, o Tatu era um pólo disputado politicamente, tanto na religião quanto na política.
“Os comícios quando aconteciam era uma loucura. Eu ia nas apurações com o meu pai no Clube Recreativo Gran São João, ali, a gente via que os políticos ficavam esperando, até abrir as urnas do bairro do Tatu. Eu não sei também se foi o trem que influenciava muito, porque depois que parou de correr nos trilhos o trem de passageiros, não tinha mais transporte no bairro, nem pra estudantes.
Eu fiz o curso Ballet, e se eu dependesse do transporte público a gente tinha que sair do bairro às 11h30, depois na volta, o transporte saía da Praça do Museu às 18h. Eu me lembro que a gente ia muito na casa do tio Ernesto De Gaspari, pai do padre Arlindo, que morava na rua Carlos Gomes. Mas aí, as pessoas que não tinham aonde ir? Era muito tempo ficar uma tarde ali no centro da cidade antes de voltar pra casa.
E quando o transporte era o trem, era mais fácil. Eu cheguei ir passear em Campinas de trem com a minha mãe, minha irmã, minha vó – fomos por causa do trem. Não sei se isso fez com que os jovens da época anterior à minha perdesse a possibilidade de sair, de se relacionar para além do emprego e da constituição familiar. A minha época, com a faculdade, eu já saia porque eu tinha carro”, Flávia detalhou.
Assim como a grande maioria dos jovens nascidos no bairro romperam o ciclo com a comunidade, com a neta dos comerciantes Antonio e Maria Amabile não foi diferente quando a jovem se casou. “Eu me senti estranha, principalmente ao que se refere a religião, porque meu pai foi ministro da palavra, ali na Igreja São Sebastião durante 33 anos. Eu cresci abrindo e fechando a igreja. Tínhamos uma Semana Santa muito intensa. Como o Padre Geraldo atendia outras comunidades, ele ia celebrar num único final de semana. Todo o restante da agenda das celebrações era o meu pai que cumpria para a comunidade não ficar sem. Eu cuidava para deixar o registro de tudo isso e quando eu me casei, vim pra cá (cidade) e ainda continuei participando da missa lá, até engravidar.
A missa era no domingo à noite, com filho pequeno era difícil me deslocar até lá. Mas, foi difícil também pra me encontrar aqui, mesmo tendo amizades com vários padres. Foi difícil eu me encontrar numa comunidade, não pra ir à missa, mas a dificuldade era que eu não me via enquanto comunidade.
Quando minha filha tinha uns 4 anos eu falei: a gente precisa decidir. Porque cada final de semana a gente ia em uma comunidade e não se encontrava.
Hoje, eu atravesso a cidade pra ir lá na paróquia Sagrada Família, no bairro Jardim Montezuma, porque o bairro Tatu pertencia ali naquela época. Ali, eu reencontrei minhas raízes, minha base é ali”, contou.
Hoje o bairro não tem mais a mesma população. As famílias ascendentes dos imigrantes italianos migraram quase na totalidade em busca de empregos e realizações. A pujança econômica, o poder político, a cultura religiosa e festiva concretizada pelo transporte ferroviário, ficou no passado do bairro do Tatu. Santo Antônio vêm perdendo os seus parceiros. Arriscamos dizer quem serão os parceiros de Santo Antônio amanhã?
“Na religião, ali, não tem o que fazer, porque a população atual, em sua maioria são idosos, com certa dificuldade de frequentar as missas. Muito tempo atrás, foi feito um estudo pra ativar a linha férrea para um projeto turístico no trecho de Limeira ao bairro Tatu. Nada real. Tanto que a Festa Italiana que acontece no bairro, promovida pela prefeitura, não tem ninguém da comunidade trabalhando, é tudo terceirizado.
Foi muito gratificante eu ter conseguido fazer o TCC sobre a história do bairro, através da imigração italiana, os seus costumes, as crenças, as tradições religiosas e festivas. E eu sempre esperei que permanecesse, passando de geração pra geração.
Eu olho pra trás e pergunto: como é que eles conseguiram realizar tanto? E ainda insisto: como é que o bairro chegou nisso? Eu não vou falar que é uma tristeza, porque o bairro não se acabou como os outros bairros. Mas não sei explicar o sentimento. Ficaram só lembranças. E agora, dependendo com quem você conversa, a pessoa não sabe onde fica o bairro do Tatu”, concluiu.

